DISCRIMINAÇÃO

Diretora da UNE denuncia ter sido vítima de racismo em voo da companhia aérea GOL

Larissa Vulcão alega tratamento agressivo de funcionários em avião que saía de Brasília com destino ao Rio de Janeiro

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
A GOL diz lamentar o episódio ocorrido com a passageira e afirma não compactuar com qualquer forma de racismo - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na última quarta-feira (31), a estudante e diretora do núcleo de mulheres da União Nacional dos Estudantes (UNE), Larissa Vulcão, denunciou ter sido vítima de racismo por parte de funcionários da companhia aérea GOL no Aeroporto Internacional de Brasília. A jovem saía da capital federal com destino ao Rio de Janeiro. O caso ganhou repercussão nas redes sociais. 

A estudante de 22 anos contou ao Brasil de Fato que a situação começou já na fila para o embarque quando uma funcionária da GOL informou que Vulcão estava excedendo o limite de volume para embarcar e começou a questionar sobre uma caixa que estava com a estudante. A diretora da UNE já havia passado pelo raio-x do aeroporto quando começou a confusão. Segundo ela, o objeto pertencia a uma amiga que estava a caminho. 

“Ela [funcionária] disse que eu deveria ir e entregar a caixa, mas antes disso, ela ficou questionando de onde essa amiga vinha e como eu a conhecia. Quando eu voltei para a fila, tinha um homem ao lado dela que foi agressivo ao falar comigo. Disse que eu não podia embarcar com as duas malas que eu estava, que eu tinha que entregar uma para ele e ficar com a outra”, explica a estudante que relata ter se sentido constrangida com a abordagem. 

Após o episódio no saguão, Vulcão conta que chamou uma amiga que já havia embarcado para apoiá-la no impasse junto aos funcionários e que ambas começaram a relatar o ocorrido para outros passageiros da fila. Segundo a estudante, ela e a amiga foram conduzidas para o “túnel” de embarque do avião junto com os funcionários envolvidos, que fecharam a porta na tentativa de justificar para as jovens o que estava ocorrendo.

“Os trabalhadores foram agressivos com a gente, em um dos momentos uma atendente tirou o crachá de forma agressiva para que eu não tirasse foto. Eu me senti muito mal, a GOL não me deu nenhum respaldo. Eu e minha amiga tivemos que entrar no avião, eles [funcionários] vieram atrás da gente. Foi uma situação tão constrangedora que o pessoal do avião não deu os procedimentos de segurança, só entregaram o lanche no final do voo”, afirma Vulcão.

A estudante está com o apoio da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e também com advogados do campo popular. Vulcão precisará registrar a denúncia em Brasília.

"Fui orientada de que não posso denunciar aqui no Rio de Janeiro é preciso voltar para Brasília, isso é um dos grandes problemas, porque eu preciso fazer a denúncia lá e com isso ser exposta novamente", comenta.

Leia mais: Educação antirracista é caminho para romper com histórico de exclusão na Estrutural

Manifestação de apoio

O Levante Popular da Juventude, movimento pelo qual Vulcão milita como estudante, publicou uma nota nas redes sociais sobre o caso, destacando que medidas precisam ser tomadas para que episódios como esse não se repitam.

"Esse caso não é isolado e não ficará impune! Estamos, mais do que nunca, em luta pelo fim do racismo e de qualquer forma de discriminação. Já oficiamos e vamos cobrar que as agências responsáveis, a Agência Nacional de Aviação Civil e a Infraero Aeroportos, para que o quanto antes regulem as políticas dos aeroportos e as companhias aéreas para evitar que crimes como esse continuem acontecendo", diz trecho da nota que ressalta:

"Isso não é só mais um caso isolado! São recorrentes as denúncias de racismo contra companhias aéreas e é urgente que a GOL apresente um plano institucional de combate ao racismo que inclua ações de reparação, de educação antirracista e um canal interno de denúncias".

O que diz a GOL?

O Brasil de Fato procurou a GOL para explicações sobre o episódio ocorrido. A empresa enviou a seguinte nota para a reportagem:

"A GOL lamenta profundamente o sentimento da cliente durante o embarque do voo G3 2053, que partiu de Brasília com destino ao Rio de Janeiro às 10h45 desta quarta-feira, 31 de janeiro, e informa que, com total prioridade, a área de atendimento ao cliente já tentou contato para ouvi-la sobre o ocorrido e até o momento não obteve retorno.

Sempre que algum de nossos clientes se sente mal atendido isso incomoda profundamente a todos nós. Possuímos um Comitê de Ética que já está apurando o caso internamente com a seriedade devida. Temos também um Canal de Denúncias ativo e incentivamos que colaboradores, clientes, terceiros e investidores o acionem a qualquer momento em que evidenciem ou suspeitem de qualquer comportamento antiético.

Dispomos de grupos de diversidade e equidade, entre eles o Grupo de Equidade Racial (Cores & Elos), do qual fazem parte colaboradores que representam vários setores da empresa a serem ouvidos, desenvolvendo ações e metas que dão o direcionamento às estratégias da organização em relação ao tema.

Por não compactuar com qualquer forma de racismo, a GOL, que já é signatária do Pacto Racial desde 2021, também aderiu em novembro de 2023 ao Pacto Global da ONU e tornou-se embaixadora do Movimento Raça é Prioridade, que integra a Estratégia Ambição 2030 do Pacto Global da ONU no Brasil.

Reforçamos que a nossa prioridade número 1, neste momento, é ouvir a cliente para esclarecer o ocorrido".
 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Clívia Mesquita