Rio de Janeiro

HISTÓRIA NEGRA

Instituto Pretos Novos reinaugura museu e anuncia início de novas escavações arqueológicas

Exposição retrata civilizações africanas, história da escravidão no Brasil e tentativa de apagamento histórico

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
A mostra “Matriz Africana” é dividida em três partes e tem curadoria de Marco Antonio Teobaldo - Jéssica Rodrigues

Na última quinta-feira (9) ocorreu a reinauguração do Museu Memorial Pretos Novos com a mostra “Matriz Africana”, no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro. A exposição é dividida em três partes e tem curadoria de Marco Antonio Teobaldo.

O museu é uma das frentes de atuação do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) que foi criado em 2005 com o objetivo de reverenciar a história negra no Brasil e impedir seu apagamento.

A mostra retrata diferentes civilizações africanas, conta a história da escravidão no Brasil, a tentativa de apagamento da Pequena África, localizada na região portuária do Rio e a descoberta do Cemitério dos Pretos Novos, em 1996.

Ao chegar no Instituto todas as pessoas receberam uma fita com a frase “Meus respeitos aos Pretos Novos” para ser pendurada em uma escultura que simbolizava uma árvore baobá. Uma forma de reverenciar os escravos que ali foram enterrados.


Escultura simbolizando uma árvore baobá / Jéssica Rodrigues

Em entrevista ao Brasil de Fato, o curador Marco Antonio Teobaldo explicou que com essa homenagem pôde trazer um pouco de vida para um lugar onde houve tanta morte. “Essa é uma árvore sagrada que une o terreno até o sagrado”, afirmou.

Já o Diretor de Estudos e Pesquisas do Instituto, Marcelo Monteiro, destacou que é muito importante “conhecermos nossa história e não tentar escondê-la”.

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“Nós precisamos manter viva a nossa história para que a gente consiga conquistar, não só dignidade, mas a reparação do Estado brasileiro. O que aconteceu neste país foi um crime de lesa humanidade e este crime precisa ser reparado”, explicou Monteiro.

Novidade

Durante o evento também foi anunciado que novas escavações serão realizadas no local depois de cinco anos. Em 2017, foi encontrado o primeiro esqueleto completo no Cemitério dos Pretos Novos, nomeado de Josefina Bakhita. Foram sete meses de escavações em uma área de 2 metros quadrados de um dos poços de observação do cemitério.


O esqueleto pertence a uma mulher que morreu há cerca de 200 anos, no início do século 19, com aproximadamente 20 anos de idade / Jéssica Rodrigues

A equipe de arqueologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vai realizar as novas buscas no sítio arqueológico. A professora Andrea Lessa vai comandar a escavação que tem início previsto para julho.

O espaço vai contar também com um laboratório arqueológico interativo onde o público vai poder acompanhar de perto o trabalho dos profissionais.

Sítio arqueológico 

O cemitério foi encontrado por acaso. No dia 8 de janeiro de 1996, a família Guimarães dos Anjos decidiu fazer uma reforma na casa, local em que hoje funciona o IPN, e em meio à retirada de entulhos, partes de esqueletos foram encontradas. Arqueólogos do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB) foram chamados para estudar o local e constataram que se tratava de um cemitério dos Pretos Novos.

Desde a sua fundação, em 13 de maio de 2005, a família tem investido na preservação do sítio arqueológico e se empenhado para reverenciar a memória dos quase 60 mil corpos despejados naquele terreno.

Serviço

Visitações gratuitas:

Quando? Terças-feiras

Horário: 10h às 16h

Visitações pagas:

Quando? Quarta à sexta-feira

Horário: 10h às 16h

Quando? Sábados

Horário: 10h às 13h

Valor: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia entrada).

Endereço do IPN: Rua Pedro Ernesto, 32, Gamboa

Edição: Jaqueline Deister