Rio de Janeiro

HISTÓRIA

Museu Memorial Pretos Novos: a história esquecida do Rio de Janeiro

Por falta de verba, Instituto pode fechar as portas

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Estima-se que cerca de 30 mil pessoas foram enterradas no Cemitério Pretos Novos
Estima-se que cerca de 30 mil pessoas foram enterradas no Cemitério Pretos Novos - foto: divulgação

Uma reforma em casa mudou o destino da vida de Merced Guimarães e do seu marido. Em 1996, durante uma escavação rotineira os trabalhadores encontraram ossos humanos. Foram muitas especulações até uma equipe de investigação da Prefeitura do Rio de Janeiro constatar que a residência do casal, localizada no bairro da Gamboa, no centro do Rio, estava sob uma sepultura coletiva de negros africanos datada de 1769 a 1830.  

Nove anos depois da descoberta, o casal criou o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, o IPN. As pesquisas arqueológicas mostraram que o local abrigou os restos mortais de 20 a 30 mil africanos escravizados que não resistiram as insalubres condições de viagem da África ao Brasil. Merced Guimarães, que é diretora do Instituto, relata a crueldade da história do maior cemitério de escravos das Américas. 

“É um cemitério campo santo, que tinha uma igreja por trás que lavrava os óbitos e cobrava por esses enterramentos, mas você não tem noção de que forma eles enterravam essas pessoas. Eram valas comuns, uns sobre os outros, jogados e, de tempos em tempos, eles abriam aquelas valas, quebravam os ossos, queimavam aquela matéria ainda em decomposição”, conta à Radioagência BdF. 

O cemitério que marca um dos legados mais dolorosos da história do país foi fechado após a proibição do tráfico negreiro. A memória de sua existência foi cimentada com os projetos de urbanização que ocorreram depois. O Instituto Pretos Novos surge justamente para evitar que essa história, que marcou profundamente o Brasil, seja esquecida.  

Porém, a falta de recursos está colocando em risco a existência do Museu, que conta hoje com uma Biblioteca com mais de 600 obras dedicadas à cultura, história e artes afro-brasileiras e indígenas; uma galeria de exposições e pesquisa arqueológica. O repasse anual que o Instituto recebia da Prefeitura foi cortado. A última verba que o espaço recebeu do município foi no ano passado no valor de R$85 mil reais. 

O que tem mantido o Museu são as doações voluntárias e também o Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, concedido pelo Centro de Apoio e Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves, Cadon. Merced conta que devido à escassez de recursos algumas atividades foram suspensas.  

“Esse ano não fizemos as nossas oficinas de História, Antropologia, Sociologia de graça. A gente não teve nenhuma parceria financeira a não ser doações e ajudas de alguns cursos e professores, que realizaram aulas, em troca de doações de materiais de limpeza”, afirma. 

Em julho deste ano os arqueólogos descobriram o primeiro esqueleto completo no Cemitério dos Pretos Novos. A ossada data do início do século 19 e  pertence a uma mulher de aproximadamente 20 anos que foi batizada de  Josefina Bakhita.  

O Memorial está localizado na Rua Pedro Ernesto, números 34 e 32, no bairro da Gamboa no Centro. A visitação ocorre de terça à sexta-feira de uma às seis da tarde e aos sábados, de 11 da manhã, às duas da tarde.

Edição: Raquel Júnia