Rio de Janeiro

CORRUPÇÃO

Investigações colocam em debate o funcionamento do transporte público no Rio

Nesta semana, empresários e parlamentares foram presos, entre eles, o deputado Jorge Picciani e Jacob Barata Filho

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Jacob Barata Filho é suspeito de pagar propina a políticos em troca de decisões favoráveis a seus negócios, como aumento da tarifa de ônibus
Jacob Barata Filho é suspeito de pagar propina a políticos em troca de decisões favoráveis a seus negócios, como aumento da tarifa de ônibus - Tânia Rego/ Agência Brasil

Nesta semana, a Polícia Federal cumpriu uma série de mandados de prisão e de busca e apreensão como parte das ações de uma operação que investiga esquemas de corrupção envolvendo parlamentares, empresários e a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). As ações colocaram em debate a corrupção e o funcionamento dos serviços de transporte público no estado.

Nesta quinta-feira (16), o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB), e os deputados estaduais Paulo Melo (PMDB) e Edson Albertassi (PMDB) tiveram prisão preventiva decretada, por unanimidade, pela Primeira Seção do Tribunal Federal da 2ª Região. Os parlamentares, que estão automaticamente afastados da Alerj, se apresentaram novamente na sede da Polícia Federal, no centro do Rio e, em seguida, foram levados para a Cadeia Pública Frederico Marques, localizada no bairro de Benfica, onde está preso o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB).

Ao longo da semana, foram expedidos mais de nove mandados de prisão preventiva, quatro de prisão temporária, quatro de condução coercitiva, além 35 mandados de busca e apreensão. Na última terça-feira (14), empresário Jacob Barata Filho, Felipe Picciani, filho de Jorge Picciani, e Lélis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor, foram levados em prisão preventiva. Ao mesmo tempo, o deputado Jorge Picciani já havia sido levado até a sede da Polícia Federal, no Rio, para prestar depoimento.

Para Marta Moraes, coordenadora geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) e membro do Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe), essa ação coloca em evidência o que os movimentos sociais já vem denunciando há tempos no Rio de Janeiro.

“Não é de hoje que a gente fala dos governos do PMDB que formaram verdadeiras quadrilhas no estado. Também não é de hoje que denunciamos a máfia da Fetranspor e esses esquemas de corrupção no Rio. A gente sabe que enquanto as escolas estão abandonadas, as pessoas estão morrendo nas filas dos hospitais, servidores estão sem salários, o dinheiro indo todo para a corrupção. A gente quer que o dinheiro desviado volte para a população”, afirma. 

Na avaliação do deputado estadual Gilberto Palmares (PT), é necessário evitar o julgamento prévio e aguardar as investigações para que se chegue às conclusões definitivas sobre o caso. Enquanto isso, o parlamentar aponta que o episódio serve para que a população coloque em discussão e cobre transparência e melhorias no serviço de transporte público do Rio de Janeiro.  

“O que tem que ser debatido agora são os desmandos da Fetranspor e dos barões do transporte no Rio. Eles só trazem prejuízos à população do Rio. Ganham rios de dinheiro operando o sistema de bilhetagem eletrônica e concentrando informações. Isso tem impacto direto na maneira como as passagens são cobradas”, acrescenta. 

Nas investigações, Jacob Barata FIlho, dono de mais de 25 empresas de ônibus no Rio, conhecido como "Rei do ônibus", é suspeito de pagar propina para políticos em troca de decisões favoráveis a seus negócios, como aumento da tarifa de ônibus.

O líder do governo na Alerj, o deputado Edson Albertassi (PMDB), é outro alvo da ação. Ele foi indicado pelo governador Luiz Fernando Pezão para o Tribunal de Contas do Estado (TCE). Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a indicação de Albertassi para a vaga de conselheiro no TCE pode ter sido uma manobra para retomar espaços de interesse no conselho.

Já o deputado Jorge Picciani é suspeito de receber propina da Fetranspor em nome da empresa de sua família chamada Agrobilara, que é comandada por seu filho, Felipe. Em nota enviada à imprensa, o parlamentar disse que ele e seu filho são inocentes e que em toda a minha carreira jamais recebeu qualquer vantagem em troca de favores. No texto, ele garante que a Alerj não atua a serviço de grupos de interesse.

Edição: Raquel Júnia