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No Rio, espetáculo investiga relação entre arte, saúde mental e racismo a partir de história familiar 

"Minha avó, mulher negra, mãe de cinco filhos, foi internada compulsoriamente num hospital psiquiátrico", diz atriz

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Jéssica Barbosa criou o espetáculo a partir de relatos sobre a história de sua avó, Judith Alves Macedo - Divulgação

Pela primeira vez no Rio de Janeiro, o espetáculo “Em Busca de Judith”, com a atriz, cantora e dançarina Jéssica Barbosa estreia nesta quinta-feira (3) na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, na Zona Sul. A temporada vai até o dia 27 de agosto, de quinta a domingo, às 20h30.

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O ponto de partida para a criação da peça foi quando a artista artista ouviu pela primeira vez os relatos sobre a história de sua avó, Judith Alves Macedo, afastada dos filhos e internada num manicômio na Bahia, nos anos 1940.

Promulgada em abril de 2001, a Lei 10.216 preconiza o tratamento humanizado a pessoas que possuem algum tipo de transtorno mental. Porém, a luta antimanicomial no Brasil já vinha sendo travada desde o final da década de 1970, mais de uma década após a morte de Judith.

A descoberta desta história disparou um processo de investigação sobre as fronteiras da saúde mental e os aspectos sociais da loucura, como sintomas históricos e psíquicos do racismo estrutural. O espetáculo foi realizado pela primeira vez em 2021, como peça filme, com recursos da Lei Aldir Blanc. 

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Jéssica Barbosa assina o texto do espetáculo junto com Pedro Sá Moraes, que também assina a direção cênica e a direção musical. Em cena, a atriz alterna entre o relato biográfico, narrações de antigas fábulas e a teatralidade quase cômica de personagens que marcaram sua busca.

“Até os 32 anos, eu acreditava que minha avó havia falecido num acidente de carro. Na verdade, quando meu pai tinha 40 dias de vida, minha avó, mulher negra, mãe de cinco filhos, foi internada compulsoriamente num hospital psiquiátrico e ficou lá até morrer, 13 anos depois. Dela se sabe pouco mais do que o nome. É sobre as buscas e descobertas dessa história, permeada pelo silenciamento das vozes femininas e questões que atravessam o sistema manicomial, que trata o espetáculo”, explica Jéssica.

A musicalidade é outro eixo fundamental do espetáculo. Nas canções, compostas por Sá Moraes, Jéssica é acompanhada pelo cantor e multi-instrumentista Muato e o percussionista Alysson Bruno, alternando com Loiá Fernandes. Os versos combinam reflexão política e lirismo pungente.

Serviço

"Em Busca de Judith" 

Sala Multiuso do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, nº 160)

De quinta a domingo, às 20h30, até dia 27 de agosto

R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia) / R$ 7,50 (associados Sesc)

Duração: 68 minutos 

Classificação: 12 anos 

Gênero: Teatro canção

Edição: Clívia Mesquita