Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA POLICIAL

No Rio, guardas municipais agridem entregador de app e redes sociais lembram caso George Floyd

Segundo advogado, homem teria avisado a ambulantes que agentes estavam chegando para recolher mercadorias

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
guarda municipal
Vídeos mostram homem imobilizado e com pescoço pressionado por guarda municipal - Reprodução

Um entregador de aplicativo foi agredido na última terça-feira (9) por guardas municipais do Rio durante uma operação de fiscalização de mercadorias de ambulantes. O caso aconteceu no entorno da Praça Saens Peña, na Tijuca, zona norte da cidade. O homem foi identificado como Renato Luciano dos Santos, de 28 anos.

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Nos vídeos gravados por ambulantes que estavam no local é possível ver o homem sendo agredido. Um dos guardas chega a colocar Renato deitado e imobilizado no asfalto e pressionar seu pescoço com um dos joelhos. Nas redes sociais, pessoas lembraram que a ação do agente foi parecida com a da polícia do estado de Minnesota, nos Estados Unidos, que causou a morte de George Floyd, em maio de 2020.

Segundo o advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), o entregador de aplicativo "teria 'ousado' avisar para alguns camelôs que o 'rapa' estava indo em direção a eles, o que não é crime", afirmou o advogado, se referindo ao recolhimento de mercadoria dos ambulantes pela Guarda Municipal.

No vídeo, um homem afirma: "Algemar, beleza, mas agredir não. Está machucando o cara, está machucando o pescoço do cara. Ô, chefe, está machucando o cara. Está vendo isso, seu Eduardo Paes?". Uma mulher grita: "Isso mata! Isso mata!".

A vereadora Mônica Cunha (Psol) escreveu em suas redes sociais marcando o prefeito Eduardo Paes. "Não precisa falar mais nada, a moça do vídeo diz tudo: que vergonha, @eduardopaes! E ainda quer armar a guarda! Se isso já não é usar o próprio corpo como arma, o que é?", questionou a vereadora.

O movimento nacional Trabalhadores Sem Direitos publicou uma nota repudiando as ações da Guarda Municipal e também lembrando do caso nos Estados Unidos, quando milhares de pessoas marcharam pelas ruas do país e em cidades de todo o mundo para protestar contra a morte de George Floyd. "Black lives matter" ("Vidas negras importam"), palavra de ordem dos atos, virou grito da causa antirracista.

"A GM tem usado de violência contra camelôs e ambulantes do Rio de Janeiro e parece estar ampliando sua violência para outras categorias de trabalhadores. Além de ter sido agredido, o entregador foi apreendido e levado para a delegacia do bairro".

Ao Brasil de Fato, a Guarda Municipal contou que os agentes realizavam o patrulhamento de rotina na esquina da Rua General Roca com a Conde de Bonfim, na Tijuca, "quando um cidadão que estava comendo um lanche em uma barraca de ambulante começou a provocar os guardas. No momento da abordagem dos agentes o indivíduo ficou mais agressivo e incitando a população contra os guardas".

O entregador de aplicativo foi detido e o caso foi registrado na 19ª DP, na Tijuca. A Guarda Municipal disse que "vai apurar possíveis excessos na conduta dos agentes".

 

Edição: Eduardo Miranda