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Principal grupo armamentista do Brasil tem quatro pré-candidaturas no Rio

Influência política do grupo no RJ fez com que fosse instituído o dia estadual do colecionador e atirador esportivo

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Grupo ProArmas está cada vez mais articulado para ingressar na política institucional - Sergio Lima/ AFP

Os grupos que defendem o armamento da população estão cada vez mais articulados para ingressar na política institucional. Neste ano, o ProArmas, principal organização armamentista do país, apoia mais de 50 pré-candidatos a diferentes cargos nas eleições, segundo informação da Folha de São Paulo.

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O movimento ProArmas possui representação em cerca de 20 estados brasileiros. A entidade se define em seu site como uma organização “na busca da restauração de direitos fundamentais tais como viver e permanecer vivo por meio do acesso a legítima defesa”.

No estado do Rio de Janeiro, o movimento já lançou seus pré-candidatos. Ao todo, o movimento está defendendo quatro nomes em território fluminense. 

Felipe Nini, que está licenciado do cargo de coordenador de voluntários do ProArmas RJ, é pré-candidato a deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Nini se apresenta em uma rede social como casado, pai de dois filhos, patriota e defensor da liberdade. 


Felipe Nini / Foto: Reprodução/Facebook

Outro nome apoiado pelo grupo é o de Alexandre Freitas. O então deputado estadual foi eleito em 2018 para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com 20.234. Segundo a biografia no site da Casa Legislativa, o parlamentar tem entre as principais pautas a redução do Estado, a desburocratização, o armamento civil, a garantia das liberdades individuais e o combate ao crime organizado.

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O político foi expulso do partido Novo após uma desavença com membros da agremiação por comemorar a ação da Polícia Civil no Jacarezinho, considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, e que resultou na morte de 28 pessoas. Desde o final de 2021, Freitas está filiado ao Podemos. O parlamentar é o único do grupo que já homologou a candidatura para deputado federal no dia 23 de julho. 


Alexandre Freitas / Foto: Reprodução

O terceiro indicado do movimento é Flavio Pacca, coordenador regional licenciado do ProArmas RJ. Em 2018, o policial civil foi postulante ao cargo de deputado federal pelo Partido Social Cristão (PSC), obteve 4.118 votos e não foi eleito. Neste ano, Pacca pretende tentar novamente uma cadeira na Câmara Federal, mas desta vez pelo PTB. 

O instrutor de tiro já tem passagem pelos bastidores da política como consultor de segurança do ex-governador Wilson Witzel.  Em 2019, o agente de segurança foi alvo de uma operação da Corregedoria da Polícia Civil e do Ministério Público pelo crime de extorsão. Em 2020, o Ministério Público do Rio pediu a absolvição do policial e outros três agentes envolvidos por inconsistência nas provas apresentadas.


Flavio Pacca / Foto: Reprodução

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O último nome apoiado formalmente pelo ProArmas no Rio é o deputado federal Daniel Silveira (PTB), que mesmo com pendências na Justiça pretende concorrer para o Senado Federal. O político foi condenado em abril a oito anos e nove meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques antidemocráticos.

Silveira já declarou que irá registrar a candidatura com base no indulto do presidente Jair Bolsonaro  (PL) que extinguiu a pena. Na avaliação do procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, o decreto de Bolsonaro não derruba a inelegibilidade do político.


Daniel Silveira / Foto: Reprodução/Facebook

Riscos 

Para o policial federal e autor do livro “Armas Para Quem?”, Roberto Uchôa, o ProArmas inspira-se na Associação Nacional de Rifles da América, organização conhecida pela promoção dos direitos dos proprietários de armas de fogo, da proteção a caça e da autodefesa nos Estados Unidos, mas vai além ao defender vagas nos gabinetes de políticos eleitos para garantir que as pautas defendidas pelo grupo sejam cumpridas. 

“Isso é cercear a liberdade parlamentar porque esse parlamentar com certeza não foi eleito somente pelo grupo ProArmas e pelos atiradores esportivos. Quando ele se coloca sobre o domínio de determinado interesse é perigoso. E o segundo ponto é que você vai ter uma bancada de parlamentares defendendo o interesse de pessoas que têm armas de fogo e circulam armadas pelas cidades com autorização do governo federal. É um grupo de pessoas articuladas e que todas possuem arma de fogo, isso não é bom para a democracia”, avalia.

Em vídeo publicado nas redes sociais, o presidente do ProArmas, Marcos Pollon, explicou que a exigência para todos os candidatos que o movimento apoia é uma vaga no gabinete e que a pauta de armas dos candidatos apoiados pelo grupo seja integralmente do ProArmas.

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De acordo com Uchôa a situação é ainda mais perigosa no estado do Rio de Janeiro porque não há um compromisso com a política de segurança pública.

“Esses candidatos pró-armamentista são a favor da política de derrame da política de arma de fogo em circulação, são pessoas que não têm muito compromisso com a segurança pública, você dando esse derrame de arma de fogo numa sociedade violenta como a nossa, num estado que sofre com o problema da milícia, é praticamente jogar gasolina na fogueira. É imprevisível o que você pode ter pela frente, eu acho um perigo essa política seguir em frente e você ter parlamentares se sujeitando ao controle do lobby de determinado grupo”, comentou ao Brasil de Fato. 

Influência

A influência política do grupo no Rio de Janeiro fez com que fosse instituído o dia estadual do colecionador e atirador esportivo. A lei assinada pelo governador Claudio Castro (PL) em 22 de julho, estabelece que a data tem por finalidade “a comemoração da prática esportiva, enaltecendo o esporte e sua cultura”.

 


Publicação do Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro de 25 de julho / Foto: Reprodução

O Brasil de Fato procurou o grupo ProArmas para comentar sobre a participação nas eleições deste ano e a pauta defendida pelo movimento com relação a política de segurança pública. A equipe não recebeu retorno até o fechamento desta reportagem. 

Edição: Mariana Pitasse