Paraná

PERFIL POLÍTICO

Maria Letícia: Daqui pra frente

Em entrevista, vereadora suspensa fala sobre o passado e aponta o futuro de possível candidatura

Curitiba (PR) |
E depois da eleição, os desafios se potencializam exatamente por você ocupar um espaço que normalmente é ocupado por homens - Rodrigo Fonseca

Enquanto o sol se põe sobre Curitiba, a vereadora Maria Letícia Fagundes caminha pelos corredores da Câmara, uma figura de resiliência e determinação.

Nascida em 6 de outubro de 1959, em Guaratuba, Maria Letícia cresceu em Paranaguá, onde sua paixão pela medicina e sua consciência social floresceram. "Cresci em meio às histórias de vida das pessoas, e isso moldou minha missão como médica", ela relembra com ternura.

Depois de uma jornada acadêmica na Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná e na Universidade de São Paulo, onde se especializou em Ginecologia e Obstetrícia, Maria Letícia encontrou seu propósito ao trabalhar como médica legista na Polícia Científica do Paraná. "Foi lá que vi o rosto da injustiça", ela confessa, lembrando-se dos casos de violência doméstica que testemunhou.

Determinada a fazer mais, fundou a ONG Mais Marias em 2012, uma iniciativa dedicada a apoiar vítimas de violência e promover a conscientização sobre a Lei Maria da Penha. "Foi um chamado do coração", ela diz, seu olhar refletindo a determinação. "Eu sabia que precisava fazer mais, ser mais do que uma espectadora da dor alheia".

"O início da minha atuação política aconteceu quando me tornei presidente da Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Eu fui presidente durante duas gestões, e na época eu lutava pelos direitos trabalhistas da categoria. A partir disso, percebi que tudo passava pela política, e então me despertei para participar como eleita também. Comecei minha atuação política me elegendo em 2016 como vereadora e me reelegendo em 2020. É isso", revela Maria Letícia, destacando sua transição para a política.

Candidatura

"Se eu pretendo me candidatar? Sim, sou pré-candidata agora na eleição em outubro. E vou lutar muito para me eleger. Aliás, eu vou me eleger, né? Muito confiante, com certeza, no trabalho que construí", afirma com convicção.

Maria Letícia também compartilha sua trajetória no Partido Verde: "Eu me inscrevi no PV em 2010, muito influenciada por uma amiga minha ambientalista, que era uma ativista da questão ambiental e era muito amiga minha. A gente um dia sentou para conversar sobre isso e ela me sugeriu o Partido Verde, pelas pautas que a gente tinha em comum. E dai foi isso, fui lá no partido, fiz a minha filiação, ninguém me conhecia no partido, eu disputei em uma eleição bem escondida, não recebi um centavo do partido para fazer minha campanha e fiz uma campanha mais com cara de médica do que com cara de política. E foi assim que eu entrei".

"Os desafios... Eu vejo duas fases dos desafios, antes de você se tornar eleita e depois que você se torna eleita. Pré-eleição, antes de a gente estar eleito, o desafio estava em conseguir um espaço para disputar a eleição. Por exemplo, talvez o desafio maior seja uma mulher buscando uma oportunidade de ser eleita nessas campanhas que são tão desiguais entre homens e mulheres. E depois da eleição, os desafios se potencializam exatamente por você ocupar um espaço que normalmente é ocupado por homens. Então, você enfrenta muita resistência dentro do parlamento dos colegas vereadores homens", desabafa, sobre os desafios enfrentados na política.

Perseguição na Câmara

Quanto ao que considera uma verdadeira perseguição na Câmara, ela compartilha:

"A própria dificuldade é assim, o Conselho de Ética... O corregedor é um homem. Passada essa fase da corregedoria, a gente tem que enfrentar um Conselho de Ética absolutamente formado por homens. E daí já fazendo uma referência da participação da mulher na política, que é muito, muito menor do que os homens. Então, elas não têm essa oportunidade. Este é um aspecto. Segundo, que se a gente pensar efetivamente, eu também fui julgada pela população".

"Eu enfrentei momentos difíceis", ela confessa, seu olhar refletindo a dor e a determinação. "Mas nunca duvidei do meu compromisso com minha comunidade e com a causa que defendo".

Apesar dos obstáculos, Maria Letícia permanece em sua missão de promover a igualdade de gênero e o bem-estar de sua comunidade.

"Não importa o que aconteça, nunca desistirei de lutar por aquilo em que acredito", ela declara, com a voz carregada. "Há tanto a ser feito, e estou pronta para enfrentar os desafios que surgirem no meu caminho".

Edição: Pedro Carrano