Rio de Janeiro

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Manifestação no centro do Rio repudia golpe de 1964 e pede abertura de arquivos

Protesto rememorou as violações de direitos humanos ocorridas no período para impedir que voltem a acontecer

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Após o ato, os manifestantes realizaram uma caminhada até o Centro Acadêmico da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio (FND/UFRJ) - Jéssica Rodrigues

Na última segunda-feira (1º), marco dos 60 anos do golpe de Estado que instaurou a ditadura civil-militar no Brasil, organizações de luta por memória, verdade e justiça, movimentos sociais, parlamentares e membros da sociedade civil organizaram o ato “60 anos do golpe: Ditadura Nunca Mais”, em frente ao prédio do antigo Departamento de Ordem e Política Social (Dops), no centro do Rio.

A manifestação teve como objetivo rememorar as violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura para impedir que elas voltem a acontecer. Além de pedir pela penalização dos golpistas de 1964 e de 8 de janeiro de 2023, a reinstalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e a transformação do prédio do antigo Dops em um espaço de memória e pela abertura dos arquivos da ditadura.

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Para o historiador e ex-assessor da Comissão Estadual da Verdade do Rio, Lucas Pedretti, “falar sobre 64 não é falar do passado, mas sim sobre o presente e futuro porque repudiar o golpe e a ditadura cria uma resistência a repetição dessa violência”.

“Diante do que foi o 8 de janeiro, diante de uma polícia que promove genocídio nas favelas e periferias a gente não pode achar que a violência de Estado ficou no passado. A gente não vai topar a política de esquecimento e conciliação”, afirma Pedretti.

O presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio, Rafael Maul chamou atenção para o avanço do encarceramento em massa e da manicomialização. “Nós não podemos tolerar esses espaços de tortura, racismo, lgbtfobia, espaços de desvio de verba pública, nós devemos lutar contra. Não há conjuntura tolerável para os avanços de políticas de genocídio, de militarização, para o avanço das políticas prisionais no Rio de Janeiro”, diz.

A vereadora Mônica Benício também participou da manifestação e relembrou o envolvimento de milícias no assassinato de sua esposa e também vereadora Marielle Franco. Segundo ela, esses grupos milicianos são “frutos de uma ditadura que não abre a sua caixa para ser revelado o que aconteceu”.

“A gente só vai avançar numa democracia plena quando a gente falar de reparação, de justiça e a gente não pode abrir mão desse debate nem pelos perdidos na ditadura, nem por Marielle Franco, nem por cada corpo de jovem negro que é tombado pela violência do Estado”, finaliza a vereadora.

Após o ato, os manifestantes realizaram uma caminhada até o Centro Acadêmico da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio (FND/UFRJ), símbolo da resistência democrática e das lutas populares, onde foi feita a entrega anual da Medalha Chico Mendes de Resistência pelo Grupo Tortura Nunca Mais.

Os homenageados foram movimentos internacionais de apoio a resistência palestina BDS e Stop the Wall; Gonzaguinha, uma importante voz da resistência; Historias Desobedientes, da Argentina, Leonel de Moura Brizola; os lutadores por moradia, terra e direitos humanos Maria Criseide da Silva e Wellington Marcelino Romana; Norberto Nehring, assassinado pela ditadura; Pastor Mozart, resistente e solidário desde os tempos da ditadura; os Quilombos do Sapê do Norte do Espírito Santo, ainda hoje ameaçados pelas Forças Armadas e pela empresa Suzano S/A e Ranúsia Alves Rodrigues, assassinada pela ditadura.

Edição: Mariana Pitasse