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Desfile das escolas de samba de Porto Alegre terá arquibancada liberada e transmissão ao vivo

Conheça os enredos dos grupos Ouro e Prata e saiba como assistir os desfiles nesta sexta (23) e sábado (24)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
União da Tinga, neste ano no Grupo Prata, traz para a passarela do Completo Cultural Porto Seco enredo com temática de religião de matriz africana - Foto: Pedro Piegas/PMPA

Está tudo pronto no Complexo Cultural Porto Seco para receber o desfile das escolas de samba de Porto Alegre nesta sexta-feira (23) e sábado (24). Dezoito escolas de samba e uma tribo vão cruzar a avenida, prestigiadas por um público esperado de 10 mil pessoas, que terá acesso gratuito nas arquibancadas.

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Na pista, o samba no pé, a alegria e as cores das fantasias e alegorias coroam um dedicado trabalho das agremiações, que mais uma vez apresentam enredos com temas populares, sociais e históricos. Muitos enredos trazem o desejo pelo direito de ser feliz, bem como o empoderamento do povo negro e sua cultura e a religiosidade afro que conduz as temáticas.

No Grupo Ouro, desfilam 10 escolas. Na noite sexta, vão para a pista (a partir da meia noite de sábado) Copacabana, Bambas da Orgia, Imperatriz Dona Leopoldina, Fidalgos e Aristocratas e Acadêmicos de Gravataí. No sábado, no mesmo horário, é a vez de Unidos de Vila Isabel, União da Vila do IAPI, Estado Maior da Restinga, Imperadores do Samba e Realeza.

O Grupo Prata é composto por oito escolas. Na sexta entram na passarela, às 20h, União da Tinga, Império da Zona Norte, Academia de Samba Praiana e Samba Puro. Já no sábado, que abre às 19h com o desfile da Tribo Os Comanches, desfilam Império do Sol, Protegidos de Princesa Isabel, Filhos de Maria, Unidos da Vila Mapa.

Ingressos gratuitos e transmissão ao vivo

Este é o segundo ano em que os ingressos são gratuitos. Dessa vez eles podem ser retirados diretamente no sambódromo, por ordem de chegada e conforme a capacidade do espaço.Os ingressos para a sexta-feira serão entregues no dia, assim como os do dia 24 serão entregues no sábado, sempre a partir do horário de abertura dos portões, às 18h.

“Queremos garantir que as arquibancadas tenham o máximo de ocupação desde o início até o fim das apresentações, evitando que parte do público se desloque para o sambódromo apenas no horário do desfile da sua escola, o que acaba impedindo que mais pessoas assistam ao Carnaval”, afirma Liliana Cardoso, presidente do comitê-executivo do Carnaval no Complexo Cultural do Porto Seco.

Os desfiles das escolas de samba de Porto Alegre terão transmissões ao vivo. Quem não for ao Porto Seco poderá assistir ao Carnaval 2024 pelos canais do YouTube da Prefeitura de Porto Alegre ou pelo canal aberto da TVE. A transmissão inicia às 20h nos dois dias.

Além das questões superficiais


Estado Maior da Restinga foi a vencedora de 2023 / Foto: Pedro Piegas/PMPA

Os enredos neste ano abordam temas relevantes para as comunidades envolvidas com as escolas. A campeã do Grupo Ouro em 2023, Estado Maior da Restinga, busca o bi neste ano com o o tema “Crianças, que todas sejam amadas, respeitadas e protegidas”. A preocupação com os pequenos em forma de samba traz o desejo por uma sociedade em que vidas não se percam no caminho, sob a proteção de Mãe Oxum e de Nossa Senhora.

Um dos trechos do enredo canta: “Mazelas sociais jamais / Criança é criança ‘sinal fechado” pra dor / “Fome” somente de vitórias / Preserve a infância sagrado valor”.

A Sociedade Beneficente e Cultural Bambas da Orgia, que conforme conta seu presidente, Carlos Breik, é fortemante ligada a questões sociais e atua realizando eventos para crianças, também terá uma ala infantil. Contudo, vem com o enredo “Òrànmíyàn”. Orixá das religiões de matriz africana, com nome que pode ser lido como Oraniã, é dito que ele foi rei dos yorubás na cidade de Ife, na Nigégia. Pai de Xangô, foi fundador do Império de Oió por volta de 1400.

“A nação azul e branco... aláfiou! / Sou Bambas... na pele, raiz ancestral / Africanamente herdeiro real!”, diz trecho do samba.


Neste ano o Bambas da Orgia traz o enredo Òrànmíyàn / Foto: Tainara Caceres/Uespa

A ideia, como revela o temista do Bambas, Pedro Linhares, é fazer uma reflexão sobre “a potencialidade da riqueza de ser quem somos, indo além das aparências e das questões superficiais.” Lembra que é normal “ficar à flor da pele” quando se fala de coisas sentimentais, como amor ou samba.

“A abertura do nosso desfile é uma desmistificação do que está na pele, ou seja, no casco, na terra africana. É uma proposição de riqueza, uma descoberta de verdades quanto à mitologia africana, especificamente pela linhagem real de Oyó. E também a parte geográfica, de potencialidades da terra ser rica, e também do seu povo, principalmente”, explica.

Linhares destaca ainda que Òrànmíyàn é especial porque traz uma simetria, com metade da pele branca e metade preta. “A gente faz também por uma provocação, nesse ponto de superficialidades, o que é a essência... se a gente tem como classificar as pessoas ou classificar o povo africano e a sua terra, a mãe África, por tom de pele ou não”, afirma.

Ancestralidade e identidade negra

A Imperadores do Samba traz à passarela o enredo “Somos filhos de rainhas e reis”. A letra inicia dizendo: “Meu quilombo é vermelho! / Tenho sangue da nobreza africana / Imperador eu sou... leão guerreiro! / Canta resistência soberana!”.


Neste ano a Imperadores celebra a identidade negra / Foto: Divulgação Imperadores do Samba

Autor do enredo, Fábio Castilhos, do departamento de carnaval da escola, afirma que neste ano a Imperadores vai iluminar figuras históricas da África, destacando rainhas e reis, civilizações e legados importantes para a história do mundo atual. “Valorizando a herança ancestral, no primeiro setor, destacamos personagens fundamentais para nossa concepção de realeza, por exemplo Makeda, rainha do povo etiope que tinha grandes habilidades políticas e de negociação”, aponta.

Enquanto o segundo setor abraça a diversidade cultural, lembrando civilizações e conexões entre arte, cultura, comércio e agricultura, o terceiro traz o contexto brasileiro. “Figuras como Zumbi e Dandara representam a resistência do Quilombo de Palmares e todo o legado e aprendizado para a nossa atualidade. A mensagem central é a celebração da identidade negra, a luta pela liberdade e o compromisso de buscarmos a nossa realeza”, destaca.

Homenagem a Giba Giba, o guardião do sopapo

Na série Prata, a Academia de Samba Praiana presta uma homenagem a um de seus fundadores e seu primeiro presidente, o percussionista, cantor e compositor Giba Giba, que foi um defensor das causas sociais da cultura da negritude no estado. O enredo é “Sopapo Poético para Giba Giba”, destacando a íntima relação entre o artista e o tambor de sopapo, instrumento afro-gaúcho criado na região de Pelotas e Rio Grande no século 19.


Praiana homenageia seu primeiro presidente, o músico Giba Giba / Foto: Pedro Piegas/PMPA

“Teu sopapo trovejou, se aquilombou / Com a luz de um griô, compositor / Valentia de lanceiro, meu alabê guerreiro / O teu dom se espalhou”, canta trecho do samba.

Filho do homenageado, o músico Edu Nascimento disse estar muito feliz com o tema escolhido pela Praiana e pelo convite para desfilar. No início, conta que pensou em sair na bateria, “ao lado dos guris”, mas o presidente da escola o convidou a estar no carro de destaque por considerá-lo “herdeiro do pai e do sopapo”.

“Olha que honraria, eu acho que foram muito felizes e queridos, com uma visão de amor, de afeto, de historicidade. E o pai representa exatamente isso, amor e afetividade. Giba Giba e sopapo, sopapo e Giba Giba, eram um só! Ele tocou durante 63 anos e cada vez que ele tocava, ele reunia pessoas. Esse ano completou dez anos que ele se foi, e com essa homenagem lindíssima. E veja, ele continua reunindo pessoas, a escola vai sair como há muito tempo não saia, vai sair com quase mil pessoas”, comenta.

Confira os enredos de todas as escolas de samba

Grupo Ouro

Copacabana
Enredo: O Negro é da Ralé?! Será?

Bambas da Orgia
Enredo: Òrànmíyàn

Imperatriz Dona Leopoldina
Enredo: Karité! O Fio do Mundo

Fidalgos e Aristocratas
Enredo: Quando os Tambores Falam

Acadêmicos de Gravataí
Enredo: A Trupe da Onça Negra Apresenta: No Palco da Fantasia, Entra em Cena a Commedia Dell'Arte

Unidos de Vila Isabel (Viamão)
Enredo: Neguinho do Brasil, flor que a vila beija

União da Vila do IAPI
Enredo: Axabó, a voz que ressoa na Bahia, ecoa na vila

Estado Maior da Restinga
Enredo: Crianças, que todas sejam amadas, respeitadas e protegidas, diz o Estado Maior da Restinga

Imperadores do Samba
Enredo: Somos filhos de rainhas e reis

Realeza
Enredo: Alma Negra

Grupo Prata

União da Tinga
Enredo: ÈSÙ

Império da Zona Norte
Enredo: Gênesis, o resgate da história da criação

Academia de Samba Praiana
Enredo: Sopapo poético para Giba-Giba

Samba Puro
Enredo: Gramado, um mundo de magia e chocolate puramente artesanais

Império do Sol
Enredo: Um bicentenário com mais de 200 anos - São Leopoldo, a saga histórica da cidade povoada, amada e miscigenada

Protegidos de Princesa Isabel (NH)
Enredo: Sou das águas do mar

Filhos de Maria
Enredo: Ominirá

Unidos da Vila Mapa
Enredo: Baiana Mãe do Brasil

Tribo Os Comanches
Hino: Nos encantos das matas e das flores. Os Comanches vivem a história da mais bela flor. Açucena


Edição: Katia Marko