Rio de Janeiro

EVENTOS EXTREMOS

Como as cidades devem se preparar para lidar com as fortes chuvas e as ondas de calor?

Em entrevista ao BdF, o arquiteto e urbanista Sydnei Menezes analisa a situação do Rio e aponta possíveis caminhos

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Desde o início do ano, mais de 100 mil pessoas no estado do Rio foram afetadas pelas chuvas - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Fortes chuvas, ondas de calor e vendavais são alguns dos efeitos trazidos pelas mudanças climáticas que evidenciam a urgente necessidade dos municípios brasileiros se prepararem para lidar com os chamados eventos extremos.

Somente em janeiro, as chuvas que atingiram a cidade do Rio de Janeiro, região metropolitana e baixada fluminense deixaram 12 mortos. Dados obtidos pelo portal G1 apontam que, desde o começo do ano, mais de 100 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas no estado do Rio.

O alto impacto gerado pelos eventos extremos é cada vez mais frequente. Em 2022, a cidade de Petrópolis, na região serrana do estado, foi atingida por duas tempestades, uma em fevereiro e outra em março. Ao todo, 242 pessoas morreram e o rastro de destruição pode ser visto até hoje no município. 

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Para entender como as cidades podem se preparar para lidar com os fenômenos climáticos, o Brasil de Fato conversou com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ), Sydnei Menezes.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato: As soluções urbanísticas para lidar com os efeitos das chuvas intensas passam por conceitos como o de cidade-esponja. Poderia explicar essa proposta e como ela deveria ser aplicada em cidades brasileiras?

Sydnei: Uma das soluções urbanísticas mais interessantes para colaborar na contenção das águas de chuva, principalmente quando há excesso das mesmas em condições catastróficas até, é preparar a cidade de uma infraestrutura que possa recolher esse excesso de água antes do seu despejo nas redes pluviais e também em rios e córregos.

Alguns casos, como no Rio de Janeiro, as soluções foram os piscinões. A Praça da Bandeira é um bom exemplo. Os piscinões fazem o papel da retenção de águas de chuvas antes de dispensá-las nos canais. Outras soluções, que acontecem no mundo todo e poderiam ser aplicadas no Brasil, são os chamados parques fluviais. São instalados às margens dos rios onde há uma previsibilidade de ocupação de água em caso de excesso de chuvas. Esses parques se tornam inundáveis na época das grandes chuvas. Esses projetos preveem a permeabilidade do solo, que podem aderir as águas das chuvas, como parques e áreas verdes. São soluções bastante eficientes.  

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As chuvas que ocorreram em janeiro deste ano deixaram 12 mortos na Baixada Fluminense e na cidade do Rio. As mortes foram causadas principalmente por afogamento e deslizamento de terra. O que pode ser feito a médio e longo prazo em cidades da Região Metropolitana do Rio para evitar situações como essa?

Infelizmente, no Brasil, no Rio de Janeiro, quando acontecem fortes chuvas, há uma tragédia anunciada. Isso acontece porque há a necessidade de fazer algumas ações que, lamentavelmente, não são feitas. Existem ações preventivas de manutenção e conservação das redes pluviais, da limpeza de bueiros, algo permanente. É importante que esse trabalho seja feito, inclusive, em tempo seco, a limpeza dessas galerias.

Outra solução é tratar as encostas com levantamento das áreas de risco. Isso já existe em muitas cidades brasileiras. É importante para avisar previamente para que as pessoas deixem as áreas de risco. A cidade do Rio de Janeiro já faz esse trabalho de forma eficiente. Existem ações preventivas imediatas e de médio e curto prazo. 


Sydnei Menezes, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro / Foto: divulgação

Um levantamento recente realizado pelo jornal Folha de São Paulo, com base nos dados do Atlas de Desastres do Brasil aponta que entre 1991 e 2022, o estado do Rio de Janeiro registrou o maior número de mortes do Brasil devido a tempestades, ao todo foram 1.511 óbitos de um universo de 4.111. Quais fatores contribuem para deixar o estado do Rio de Janeiro no topo desta lista?

A ausência de políticas públicas permanentes são responsáveis pelo aumento absurdo de casos no estado do Rio de Janeiro, além de uma fragilidade ou do negligenciamento de fiscalização. Ações mais duras, conjuntas, de políticas públicas, precisam se efetivar. O governo do estado precisa fazer um trabalho junto às prefeituras. É um trabalho de formiguinha, demorado, às vezes não aparece, mas é muito importante para evitar as tragédias anunciadas.

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Uma outra preocupação recente da população fluminense são as ondas de calor. Em janeiro deste ano, a cidade do Rio teve recorde de sensação térmica de 59,5ºC em Guaratiba. Do ponto de vista urbanístico, o que pode ser feito para atenuar as consequências das altas temperaturas?

A única forma de combater as ondas de calor é com uma política de arborização urbana. Não só a criação de praças, áreas verdes, mas traçar nas ruas da cidade do Rio, em especial zonas norte e oeste, que têm uma carência enorme deste tipo de expectativa do poder público municipal, implantar uma política permanente do plantio de árvores, a chamada arborização urbana.
 

Edição: Clívia Mesquita