Rio de Janeiro

FAVELA É CULTURA

Após 3 anos, Complexo do Alemão volta a realizar evento cultural de arte, diálogo e comunicação

A 16ª edição do do “Circulando” ocorreu no último sábado (16) e reuniu centenas de moradores do CPX

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O evento promoveu o diálogo com a comunidade e a valorização da cultura favelada. - VD ZN

A 16ª edição do “Circulando – Diálogo e Comunicação na Favela” aconteceu no último sábado (16), no Complexo do Alemão, zona norte do Rio, depois de três anos de hiato por conta da pandemia. A ação, que é promovida pelo Instituto Raízes em Movimento, levou centenas de pessoas para a rua principal da comunidade para conferir e participar de atividades como exposição fotográfica, roda cultural de MCs, debates, graffiti, oficina de lambe, e outros.

O evento promoveu o diálogo com a comunidade e a valorização da cultura favelada. O coordenador e fundador do Raízes em Movimento, Alan Brum, conta que a retomada da atividade marca o início de uma agenda de ações para 2024.

“Neste evento, a gente traz todas as experiências que viveu no ano, e as articulações com diversos parceiros da cidade e outras organizações sociais de favela, de outros lugares, de todo o Complexo do Alemão, além da parceria com universidades e institutos, então esse momento é fundamental”, diz Brum.


A ação é promovida pelo Instituto Raízes em Movimento / VD ZN

Marilene dos Santos, de 61 anos, se intitula como criadora de artesanato. Ela nasceu e cresceu no Complexo do Alemão e acredita que o “Circulando” mostra que a favela não é só violência.

“Eu participei de um curso de fotografia para mulheres e hoje estou aqui expondo, isso é muito importante porque nos sentimos mais empoderadas”, conta Marilene.

Ao longo da atividade, uma mesa de alimentos foi montada para os participantes. Ana Santos, que trabalha com agroecologia na Serra da Misericórdia, foi a responsável pelas comidas saudáveis.

“É muito bom retomar esse local com uma alimentação saudável, com as produções do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], trazendo diversidade na mesa, mas também inclusão, onde a gente resgata as comidas das nossas avós como cuscuz, cozido, pensando que comida de verdade no campo e na cidade é um direito de todos, e principalmente é um direito na favela”, afirma.

A vereadora Mônica Cunha (Psol) também participou da ação. Ela conta que não perde nenhuma edição do “Circulando” porque o evento "mostra o que de verdade a favela faz”.

“Nós mostramos o Alemão, nos aproximamos das pessoas e dizemos que favela é cidade, que favelado é ser humano e a gente quer viver, a gente não quer só sobreviver”, finaliza a parlamentar.

Durante a ação, também ocorreu o lançamento do “Acervo Memórias Faveladas”, portal digital em parceria com o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz), com mais de mil documentos históricos sobre o Complexo do Alemão.

Além da divulgação do portal, houve também a apresentação dos resultados parciais do "Projeto Conhecer e Desenvolver", financiado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), que está promovendo uma ação-piloto na Travessa Laurinda, no Morro do Alemão, para construir um diagnóstico propositivo para melhorias urbanas, socioambientais e climáticas na área, através da articulação e participação ativa da população local.

Edição: Jaqueline Deister