Rio Grande do Sul

NATAL SEM FOME

Jornada de Solidariedade contra a Pobreza e a Fome leva alimento a 35 comunidades da Capital e região metropolitana

Ações do Natal Solidário contaram com apoio dos movimentos populares e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ato de entrega do leite em pó para a Cozinha Solidária da Bom Jesus contou com a presença do presidente da Conab, Edegar Pretto - Foto: Katia Marko

O calor de mais de 41 graus em Porto Alegre neste final de semana não impediu as ações da Jornada de Solidariedade contra a Pobreza e a Fome que aconteceu em todo o país. Diversas organizações se somaram para levar alimento a 35 comunidades vulneráveis da Capital e região metropolitana.

:: Natal Sem Fome vai atender 33 comunidades de Porto Alegre neste final de semana ::

A ação foi realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o CUT com a Comunidade e o Levante Popular da Juventude, juntamente com os Comitês Populares de Luta e as Cozinhas Solidárias. Contou com o apoio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e a presença do presidente do órgão, Edegar Pretto, que visitou algumas cozinhas solidárias e conversou com as lideranças comunitárias. Além dos alimentos para as marmitas, arroz, feijão e carne de porco, foram distribuídos mais de 7 mil kilos de leite em pó.


Atividade na Cozinha Solidária da Bom Jesus foi realizada na manhã de sábado (16) / Foto: Katia Marko

“Com o lema ‘Os ingredientes da paz são o pão, o amor e justiça social’, o MST se soma com as demais entidades para realizar o Natal sem Fome, Natal solidário. Essa é uma campanha de solidariedade que se estende durante o ano, mas o Natal tem essa simbologia de luta, de buscar por nossos direitos. Nós assumimos o compromisso com a cidade de seguir na luta pela produção de alimentos saudáveis como um direito de todos e todas, que o alimento chegue na nossa mesa com qualidade e que não haja mais miséria e fome no nosso país”, ressalta a secretária geral do MST-RS, Lara Rodrigues, que acompanhou algumas das atividades.

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, explica que é uma ação que pretende em torno de um prato de comida, também fazer uma reflexão de como nós necessitamos de um país com trabalho decente, com renda e com direitos.

:: Carta da 20ª Jornada defende agroecologia para garantir direito à alimentação adequada ::

Segundo ele, o Projeto “CUT com a Comunidade”, que teve início na pandemia, se integra nessa rede de cozinhas que organizaram as refeições. “Elas cozinharam com a campanha que fizemos de coleta do arroz, do feijão e da carne. A Conab ajudando nesse processo, no PAA, que é esse programa de alimentos muito importante que precisa ser fortalecido no ano que vem. O que buscamos é um Brasil com direitos e um Brasil sem fome e miséria”, destacou o dirigente.

Além desses alimentos, a CUT, por meio de sindicatos parceiros, fez também a entrega de 120 cestas básicas às cozinhas que integram as ações da CUT com a Comunidade.

Programa de Aquisição de Alimentos

O presidente da Conab, Edegar Pretto, destacou que as cozinhas solidárias, agora, viraram política pública e são abastecidas com a comida do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “Nós já temos empenhados R$ 32 milhões pro PAA do RS. R$ 13 milhões são para as cozinhas solidárias. Começamos a dictribuição com o leite em pó, comprado de produtores da agricultura familiar, também com o objetivo de ajudar o setor que enfrenta uma crise”, afirma.

:: Conab assina cinco contratos do Programa de Aquisição de Alimentos em Porto Alegre ::

Segundo a Conab, o valor destinado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) para o estado, por meio do PAA, chega a R$ 100,5 milhões, incluindo os projetos na modalidade CDS, de enfrentamento da seca que atingiu o estado nos últimos três anos e compra de leite em pó.

Mulheres a frente das cozinhas

A cozinha da Tia Bete, a cozinha da Tia Lúcia ou a cozinha da Teresinha. O que todas têm em comum é a união de mulheres para alimentar as comunidades. Nascidas na pandemia, as cozinhas solidárias produzem entre 200 e 500 marmitas por semana, cada uma, para atender uma população de milhares de pessoas nas vilas de Porto Alegre.


Letícia Fagundes coordena junto com a Tia Bete a cozinha na Bom Jesus desde o início da pandemia da covid-19 / Foto: Katia Marko

Letícia Fagundes, da Cozinha Solidária da Bom Jesus, conta que a igreja comunitária Nossa Senhora Aparecida que abriga a cozinha foi ocupada por um grupo de mulheres durante a pandemia. “A gente precisava de um espaço pra abrigar nossas ações. No início nós distribuíamos cestas básicas, mas pela carência da comunidade que é de mulheres e crianças, a gente sentia a necessidade de fazer o alimento, porque na pandemia as pessoas não tinham gás, não tinham emprego, e elas tinham necessidade de ser atendidas”, explica.

:: Encontro reúne cozinhas comunitárias para momento de fortalecimento no combate à fome ::

“Nós reunimos forças e fomos até a igreja Perpétuo Socorro, pra disputar esse espaço, graças a Deus naquele momento de ânsia, nós encontramos uma boa pessoa, agora não sei te dizer o nome, mas foi um padre progressista que nos ajudou nos fornecendo a chave desse espaço.”

Letícia conta que de lá pra cá, eles vêm cadastrando mulheres, principalmente mães solos, e crianças. “Nós temos uma quantidade imensa de mulheres que perderam o Bolsa Família naquele momento, que perderam as suas faxinas, e estavam num estado de miséria total, sem comida mesmo, e aqui nós as acolhemos.”

Hoje já faz 3 anos que a cozinha ocupa o espaço da igreja, com distribuição semanal entre 200 e 350 marmitas. “Hoje nós temos uma rede de pessoas que nos ajudam, mas nós temos uma rede de mulheres cadastradas aqui junto conosco, e a gente vem fazendo a diferença dentro da comunidade”, reflete Letícia.

Confira mais imagens:


Cozinha Solidária Vila dos Herdeiros, no bairro Agronomia, realizou um jantar no sábado, com leitura conjunta do panfleto produzido pela CUT e MST, distribuição de balas e brinquedos doados pela arrecadação do Pe. Luciano, pároco da Paróquia São Carlos / Foto: Saraí Brixner


No final foram distribuídos os alimentos que sobraram para as famílias participantes / Foto: Saraí Brixner


Natal Sem Fome e Solidário entregou leite em Pó para a Cozinha Solidária Ass. Força e Coragem, da Tia Lúcia / Foto: Katia Marko


Edegar Pretto e Luzia Teixeira, da Superintendência Regional da Conab no RS, participaram das atividades no sábado / Foto: Katia Marko


Leite em pó chegando na cozinha da Associação Mulheres Maria da Glória, no Morro da Cruz, no sábado / Foto: Katia Marko


Mutirão pra carregar os sacos com o leite em pó contou com ajuda das mulheres que participam da cozinha solidária / Foto: Katia Marko


No domingo, representantes dos movimentos participaram do almoço pra comunidade com a distribuição dos pacotes de leite em pó e marmitas / Foto: Katia Marko


Leite também chegou na Cozinha do Comitê Popular de Luta Desabafa, na Vila Farrapos / Foto: Katia Marko


Festa organizada na Vila Barracão na Cruzeiro, pelo Levante da Juventude, encerrou as atividades de domingo / Foto: Katia Marko


Mulheres da comunidade participaram da organização da ação na Cruzeiro, que contou com a participação da secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS, Ísis Garcia / Foto: Katia Marko


Jovens que participam do Levante da Juventude brincaram com as crianças na ação da Vila Barracão / Foto: Katia Marko


MST e Levante da Juventude se somaram nas ações de solidariedade / Foto: Katia Marko

Edição: Marcelo Ferreira