Paraná

20ª Jornada

“O capitalismo está envenenando em doses diárias a população”, diz João Pedro Stédile

Dirigente nacional do MST falou sobre a crise estrutural na programação da 20ª Jornada de Agroecologia

Curitiba (PR) |
Conferência: A crise estrutural e a “Casa comum: as tarefas políticas deste tempo histórico, com a participação de João Pedro Stédile - Foto: Juliana Barbosa

Integrando os debates da programação da 20ª Jornada de Agroecologia deste sábado (25), o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, realizou a Conferência: A crise estrutural e a “Casa comum: as tarefas políticas deste tempo histórico”. Entre as pautas destacadas em sua fala, Stédile abordou as causas da crise climática e, principalmente, dos efeitos maléficos dos crimes ambientais para a população. Entre eles, destacou, por exemplo, o uso dos agrotóxicos usados pelo agronegócio.

“Minha fala será baseada em uma metodologia que aprendi quando era muito jovem lá no interior do Rio Grande do Sul, já que fui formado pelas influências da teologia da libertação. E os companheiros e companheiras agentes de pastoral usavam um método dialético que eles chamavam de ver, julgar e agir. Qual é o problema que a realidade está nos apontando todos os dias? Nunca antes na história do nosso planeta nós tivemos tantas mudanças climáticas. E nunca antes nós tínhamos assistido tantos impactos na vida normal. Sejam pelas ondas intensas de calor, pelas enchentes, os temporais, os ciclones, os maremotos, o nosso planeta, todo santo dia evidencia situações anormais do que é a vida”, disse.  


João Pedro Stédile na Jornada de Agroecologia, em Curitiba. / Juliana Barbosa /MST

Stédile destacou que a crise climática é consequência dos crimes praticados contra a natureza e que tem impacto na garantia de vida também para o ser humano. “O número de desastres, como lhes dizem, são crimes contra a natureza. Nos últimos cinco anos aumentou cinco vezes mais a cada ano. Na última década, tem morrido, por consequência desses crimes, 115 pessoas por ano. Nas ultimas décadas, milhares de espécies já desapareceram e devagarzinho a espécie do ser humano também está sendo assassinada”, destacou.

Aumento do uso de agrotóxicos

O dirigente nacional do MST também incluiu o aumento do uso de agrotóxicos em todo o mundo entre os crimes contra o meio ambiente. “O agrotóxico mata a biodiversidade para salvar uma commoditie, seja a soja, a cana, o milho. Quem usa agrotóxico é um criminoso, porque está usando veneno para matar algum ser vivo. E esse veneno, por ser de origem química, não se dissolve na natureza, é um ser estranho na natureza e, por isso, contamina o lençol freático, os rios, a própria produção agrícola e até as nuvens”, explicou. “Justamente por isso, 67% das cidades que fornecem água potável na torneira já fornecem essa água com doses inaceitáveis de glifosato. O capitalismo está envenenando a nossa população em doses diárias”, complementou Stédile.

O dirigente também falou sobre o adoecimento de trabalhadores de empresas do agronegócio devido ao contato com o glifosato. “42 mil fazendeiros acometidos de câncer pelo glifosato nos Estados Unidos entraram na justiça contra a Monsanto e conseguiram uma indenização de 10 bilhões de dólares como reparação aos anos que perderam de vida. Essa semana, quatro agricultores americanos receberam uma indenização de 1 bilhão de dólares porque também comprovaram que o câncer que tiveram foi desta mesma origem. Mas, mesmo assim, o capital não aprende porque, por exemplo, os deputados do Parlamento Europeu, a maioria da direita financiada por essas empresas, alongaram o uso de glifosato na Europa por mais dez anos”, disse.

No dia 24 de outubro de 2023, citou Stédile, foi publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, fornecendo uma avaliação detalhada dos impactos, riscos e adaptação das mudanças climáticas nas cidades, onde vive mais da metade da população mundial. E, neste texto, os cientistas afirmam que  “a vida no planeta está ameaçada e estamos agora num território desconhecido.”

O que fazer

Para Stédile, é preciso agir tanto do ponto de vista da sociedade como do poder público, em todas as instâncias, e destacou alguns pontos que considera ações fundamentais, como: a luta pelo desmatamento zero, lutar radicalmente contra o agrotóxico, combater as soluções ilusórias do dito “capitalismo verde”, combater a mineração predadora e nas cidades fazer o debate sobre o transporte público.


Conferência: A crise estrutural e a “Casa comum: as tarefas políticas deste tempo histórico / Juliana Barbosa /MST

Edição: Lia Bianchini