Rio de Janeiro

ESPETÁCULO

“Para meu amigo branco”: peça aborda papel das pessoas brancas na luta antirracista

Inspirado no livro do apresentador Manoel Soares, peça está em cartaz no Sesc Copacabana até o dia 20 de agosto

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O diretor Rodrigo França conta que o formato da peça não separa plateia e atores, para provocar a reflexão “de que lado você está?” - Gabriella Maria

Como se constrói um racista? Onde aprendemos a ser racista? Essa é a premissa da peça “Para meu amigo branco”, que estreou na última quinta-feira (27), no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro. Assinada por Rodrigo França e Mery Delmond, o espetáculo é inspirado no livro de mesmo nome do jornalista Manoel Soares e leva aos palcos reflexões sobre o racismo estrutural no Brasil.

A peça conta um episódio de racismo entre crianças na escola. A menina Zuri, de 8 anos, é chamada por um colega de “negra fedorenta”. A partir disso começa o conflito entre um pai negro e um pai branco. As contradições e a falta de posicionamento da escola também são abordadas no espetáculo.

O diretor Rodrigo França conta que o formato da peça não separa plateia e atores para provocar a reflexão “de que lado você está?”.

“O lado que se beneficia com o legado da escravização ou do lado que quer realmente romper com isso e acredita numa sociedade mais humana? Definitivamente é muito complicado você se colocar no lugar do outro quando não tem vivência. Eu acredito na humanidade, quando você fala sobre pautas do racismo, transfobia, homofobia, você está falando sobre humanidade, se não te dói presenciar uma intolerância você perdeu a sua humanidade”, diz.

Para Rodrigo, a peça provoca o questionamento do que é ser antirracista. “Eu não gasto energia para discutir com a extrema direita, eu quero discutir com aquela pessoa que se diz aliada, mas cai em contradição. O que é realmente ser antirracista? Não é simplesmente comprar um livro, não é ter amigos negros, ou ser casado com uma pessoa negra. O que é ser antirracista?”.

O diretor entende que falar sobre racismo é falar para pessoas brancas, já que essa pauta também é delas. “Você vê a negritude se desgastando em criar estratégias para viver e sobreviver ao mesmo tempo tendo que discutir algo que… você está falando sobre poder, então quando você fala sobre racismo, algumas pessoas têm direito outras não. Essa é a pauta para quem quer se comprometer ao mínimo que é um sistema de equidade. Então, é urgente falar para quem tem boa vontade”.

Já o ator Reinaldo Júnior que interpreta Monsueto, o pai de Zuri, conta que “essas violências normalmente são veladas, ficam escondidas, são levadas como brincadeira e a gente traz essa discussão para o centro do palco”.

“O Monsueto é um pai apaixonado pela filha e pela educação, e ele acredita que a filha dele não tem que sair da escola, mas que a escola precisa mudar para a filha dele se manter ali”, explica o ator.

Reinaldo acredita que a peça tem como objetivo principal fazer a sociedade pensar onde o racismo começa e que ele não deve mais existir. “Minha expectativa é que atravesse a população, que as pessoas se identifiquem com o lado que se identificarem, mas que saiam refletindo. Que o teatro consiga de fato cumprir a sua função e a sua missão que é de transformar o mundo. Eu acredito num teatro que vem para mudar o mundo” finaliza.

No elenco da peça “Para meu amigo branco” também estão os atores Alex Nader, Stella Rodrigues e Mery Delmond. A peça está em cartaz de quinta a domingo, às 20 horas, até o dia 20 de agosto no teatro Arena, no Sesc Copacabana, na zona sul do Rio.

Edição: Mariana Pitasse