Rio de Janeiro

Coluna

Seleção Feminina estreia bem e deixa a sensação de que dá pra ir longe nessa Copa do Mundo

Imagem de perfil do Colunistaesd
A Seleção Brasileira venceu o Panamá por quatro a zero na sua estreia no Mundial da Austrália e da Nova Zelândia - Thaís Magalhães / CBF
O que mais me deixou feliz na atuação do Brasil na última segunda-feira (24) foi a postura do time

*Luiz Ferreira

Eu não quero entrar na onda dos mais ufanistas e dos mais emocionados. Mas é preciso dizer que a Seleção Brasileira deu mostras de que pode sim surpreender muita gente nessa Copa do Mundo Feminina. A goleada sobre o não mais do que esforçado time do Panamá foi marcada por uma série de fatores que vão muito além do improviso tão marcante do nosso futebol.

Isso porque a equipe comandada por Pia Sundhage mostrou organização, repertório tático vasto, concentração e uma vontade enorme de superar o adversário desta segunda-feira (24). Bem diferente de outros momentos mais complicados e conturbados desse ciclo até o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia.

Antes que algum coleguinha apareça por aqui pra diminuir o feito de Ary Borges, Bia Zaneratto, Luana, Adriana, Kerolin, Debinha e companhia, quero deixar bem claro que eu sei que estamos falando do Panamá. Eu sei que a equipe comandada por Ignacio Quintana não ofereceu muita resistência no meio-campo. Eu sei que o time da América Central ofereceu espaços generosos às costas das alas Katherine Castillo e Hilary Jaén. E eu sei que a camisa dez Marta Cox (jogadora do Pachuca do México.

Eu sei disso tudo. Mas precisamos entender o contexto no qual a Seleção Brasileira está inserido.

Além disso, essa Copa do Mundo Feminina já deixou bem claro o nível aumentou absurdamente. Lembrem-se de que a Inglaterra (grande favorita ao título) cortou um dobrado para vencer um Haiti bastante organizado pelo placar mínimo. O Canadá (atual campeão olímpico) não saiu do zero contra a valente Nigéria. E a França também não conseguiu superar a bem organizada África do Sul.

Eu não gosto de usar essa palavra, mas eu entendo aqueles que dizem que o Brasil tinha “obrigação” de vencer o Panamá por conta da qualidade individual à disposição de Pia Sundhage e por toda a vivência que nossas jogadoras possuem no cenário internacional. Realmente, a distância é bem grande.

Por outro lado, a postura da Seleção Feminina me chamou a atenção.

O time entrou em campo muito bem organizado no 4-4-2 que eu e você conhecemos bem e tratou de espremer as panamenhas no campo delas desde o apito final. Em vez de firulas e toques para o lado, jogadas de ultrapassagens pela esquerda com Adriana, Debinha e Tamires, muita ocupação do espaço entrelinhas com Bia Zaneratto jogando como “camisa dez” e muita consistência na defesa com Luana, Kerolin e companhia ligadas em cada passo das atacantes adversárias.

E pensar que tinha gente que falava aos quatro ventos que esse time não tem repertório tático, que era mal treinado e tudo mais. O golaço e Bia Zaneratto e o “hat trick” de Ary Borges falam por si.

Mas realmente o que mais me deixou feliz na atuação do time nesta segunda-feira (24) foi a postura. Era possível ouvir as jogadoras cobrando concentração em cada lance e sempre buscando o ataque mesmo com a vantagem no placar. É algo bem diferente de tudo que vimos em alguns momentos desse ciclo.

Só para efeito de comparação, o Brasil estreou na Copa América Feminina de 2022 contra a Argentina e também venceu por quatro a zero.

O grupo era praticamente o mesmo que entrou em campo contra o Panamá (com uma ou outra mudança). Mas a postura foi bem diferente. É possível dizer que a equipe comandada por Pia Sundhage parecia pensar que poderia vencer a qualquer momento e não fez muita força para superar nossas hermanas na base do talento individual. Bem diferente do que vimos diante do Panamá.

Duas estreias diferentes em dois torneios diferentes. Mas a forma como a Seleção Feminina encarou o jogo é que merece a nossa atenção. A impressão que fica é a de que esse grupo finalmente entendeu que precisa se doar dentro de campo, ser intenso com e sem a bola e ter um nível de concentração para conter os avanços das suas adversárias.

Isso não quer dizer, no entanto, que o Brasil já é o campeão e que a FIFA tem que entregar a taça pra gente. Muito pelo contrário! Agora é que a nossa seleção passou a ser visada. E eu duvido que a França entre em campo com a mesma postura do empate contra a Jamaica.

Aliás, é preciso dizer que o negócio vai ser muito mais complicado no jogo do próximo sábado (29).

As francesas possuem mais experiência internacional, possuem muito talento e força e serão um adversário muito mais complicado do que as panamenhas. Fora que elas vão entrar em campo precisando desesperadamente dos três pontos para não dependerem da última rodada.

Mesmo assim, a postura do Brasil me deixou com a esperança de que dá sim pra pensar em ir longe nessa Copa do Mundo. Não foi só a goleada. Foi a forma como ela foi construída. Essa foi a grande notícia dessa segunda-feira (24). Seguimos em busca da primeira estrela. E se as deusas do velho e rude esporte bretão quiserem, ela virá.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse