Rio Grande do Sul

CAMPESINATO

MPA reúne comunicadores em seminário nacional para debater comunicação popular

Ação também buscou construir um planejamento estratégico das ações de comunicação do movimento

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Comunicadores do MPA reuniram-se em Brasília (DF) - Corbari

Entre os dias 10 e 12 de maio, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) colocou a comunicação popular em debate. Comunicadores de todas as regiões do país vinculados ao movimento campesino se encontraram na Casa de Retiros Assunção, em Brasília (DF), trazendo suas diferentes experiências territoriais para partilhar com seus pares.

“Nosso grande objetivo foi trazer as experiências dos estados para agregar no nosso Plano Nacional de Comunicação e identificar as potencialidades dos nossos comunicadores e comunicadoras que possam ser agregados ao planejamento do movimento nos próximos cinco anos”, pontuou Mateus Além, que responde pela setorial de Comunicação na Direção Nacional do MPA.

:: Fazer chegar os alimentos e a Soberania Alimentar: o MPA e o abastecimento nas cidades ::

Conforme Mateus, o papel do grupo de comunicadores populares "é reafirmar o direito à comunicação enquanto dimensão de direitos humanos e prática cidadã que compõe o camponês e a camponesa enquanto narradores de seu tempo, protagonistas de suas lutas também no espaço simbólico, se fazendo sujeitos da própria história”. Para ele, isso qualifica a necessidade de se interpretar as ações do coletivo de comunicação do movimento enquanto construção educativa/comunicativa, numa perspectiva freireana.

No mesmo sentido se manifestou o dirigente do MPA no Paraná, Valter Israel da Silva. “O direito humano à comunicação se manifesta em plenitude justamente no processo da comunicação popular, anti-hegemônica por princípio, constitutiva de seres por natureza e multiplicadora de saberes por fim.”


O papel da comunicação popular na atual conjuntura foi um dos pontos focais do encontro / Foto: Corbari

As atividades foram delineadas a partir de macrotemas trabalhados ao longo do encontro. No primeiro dia foi trabalhada análise de conjuntura, apresentada por Anderson Amaro, e planejamento, por Marcelo Leal, ambos da direção nacional do MPA.

No segundo dia a pauta foi o Plano de Comunicação do MPA, bem como os diagnósticos das experiências nos estados e perspectivas de curto, médio e longo prazo, tendo como mediadores Mateus Além e Vani Souza, coordenadores do Coletivo de Comunicação em nível nacional. Também foi apresentado um calendário com as principais atividades do MPA previstas para os próximos meses e ao longo do segundo semestre, com especial destaque para a ação “Alimentar 5 milhões” que será desenvolvida em conjunto com outras organizações aliadas.

No terceiro dia as atividades foram concluídas com encaminhamentos finais e retorno aos estados de origem.

“Nestes três dias de encontro, debates e construções pudemos nos conhecer, trocar experiências e principalmente identificar riquezas que a gente tem, entre nossa diversidade, com os mais diversos sotaques, trazendo conosco os diferentes chãos onde pisamos e as diferentes gentes que somos e representamos, uma diversidade que precisamos valorizar”, apontou Vani Souza. “Podemos ser poucos ainda, mas fazemos bastante. Vamos ser muitas e muitos mais e vamos sim fazer muito mais”, completou.

Mística e lançamento de livro

Também fez parte da programação um momento de mística camponesa e partilha de saberes, na noite do segundo dia de atividades. O seminário abriu as portas também para receber convidados externos e foi realizado o pré-lançamento do livro “Tempo dos Cardos: A saga de João Leonardo e o massacre do Molipo”, de Celso Horta (in memorian).


A memória dos que lutam foi evocada através do lançamento do livro / Foto: Corbari

A atividade contou com a presença da filha do autor, Joana Horta, que integra o coletivo de comunicação do MPA pelo estado da Bahia, assim como o convidado José Dirceu, que conviveu e manteve laços de companheirismo com o personagem retratado na publicação e com o autor, que infelizmente faleceu sem ver o seu livro publicado.

“Fico muito satisfeita de apresentar 'Tempo dos Cardos' neste encontro de comunicadores populares do MPA”, afirma Joana Horta. Explica ainda que o personagem histórico retratado, João Leonardo, foi um militante que teve a vida ceifada pelo Estado ditatorial, por lutar pelos direitos do povo do campo.

:: 'Luta é vida, vida é luta', afirma Joana Horta no pré-lançamento do livro Tempo dos Cardos ::

“Para mim não há lugar mais seguro e acolhedor para essa memória”, acrescentou. Pontuando que cada uma e cada um tem uma responsabilidade a cumprir frente o que foi conquistado às custas de muitos sacrifícios, Joana afirmou ainda que “João Leonardo, tombou, mas nós resistimos. Ele tombou, mas nós estamos aqui”. Para a comunicadora fica uma certeza: “A luta é a vida. A vida é a luta!”

José Dirceu expressou toda força do companheirismo construído com João Leonardo e Celso Horta e, através dessa evocação, fez memória nominal a todos os companheiros e companheiras integrantes do “Grupo dos 28”, ligado ao Movimento de Libertação Popular. Citou aqueles que foram assassinados, os que faleceram nos períodos seguintes e também os que permanecem como memória viva de uma geração que ousou sonhar e se dispôs a lutar por democracia e socialismo.

“Nós sonhamos e conseguimos. Nós vencemos a ditadura. Neste livro deixamos um pouco da memória destes que deram a vida pelo sonho de um Brasil democrático e Socialista”, afirmou Dirceu .

Festa Camponesa de Rondônia


Festa Camponesa de Rondônia retorna depois de dois anos de ausência por conta da pandemia / Divulgação

Durante o Seminário Nacional de Comunicadores e Comunicadoras do MPA também foi apresentada a programação da 7ª edição da Festa Camponesa de Rondônia, organizada pelos movimentos da Via Campesina, de 14 a 16 de julho, no município de Jaru (RO).

“A soberania alimentar, que em síntese é produzir alimento de qualidade e em quantidade para abastecer os povos e combater a fome, é o tema que perpassa a Festa Camponesa desde sua primeira edição e é uma das principais bandeiras de luta da Via Campesina internacional. A festa é o momento que o campesinato faz esse diálogo com a sociedade”, alinharam os representantes de Rondônia no encontro, Jeieli Borges e Olga Santana,  sobre sua importância para garantir a identidade e afirmação camponesa, e o debate sobre alimentação saudável e os direitos dos camponeses e camponesas. A festa contará com diversas atrações, momentos políticos, e, claro, o tradicional café camponês.

A programação iniciará na manhã do dia 14 com análise da conjuntura nacional e internacional e, pela tarde, seguirá debatendo “Os Desafios da Produção de Alimentos Saudáveis e Justiça Social na Amazônia”. À noite contará com apresentações culturais de artistas e cantadores populares da região.

No segundo dia, pela manhã e pela tarde estarão acontecendo simultaneamente seminários temáticos e oficinas práticas dos mais diversos temas como: Saúde Integrativa, Feminismo Camponês e Popular, Crise Climática na Amazônia, Gênero e Diversidade, Agroecologia Camponesa, Produção de Açúcar Mascavo, Apicultura, Derivados do Cacau, entre outras, além do Ato Político Cultural à noite com diversas atrações locais e nacionais.

Para o encerramento está previsto o momento mais tradicional e esperado da festa, o café camponês, que contará com a produção diversa do campesinato rondoniense, sendo partilhada com todos os presentes.


Edição: Marcelo Ferreira