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DISTRAÍDOS CANTAREMOS | Curitiba tem samba de classe

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“O samba lá da Vila sempre tem o seu lugar” (Maé da Cuíca) - Acervo
A primeira escola de samba de Curitiba nasceu em 1946, na antiga Vila Tássi, reduto negro e operário

Entra carnaval, sai carnaval e em Curitiba continua se ouvindo que por aqui o samba não tem vez. Nada mais que preconceito que, aliás, faz parte da história da cidade. Poucos sabem, mas nossa primeira escola de samba nasceu em 1946, na antiga Vila Tássi, reduto negro e operário. Atrás do campo do Ferroviário, batuqueiros se reuniam, sob comando de Maé da Cuíca, para criar o “bom samba do Paraná”. Ferroviários e seus filhos, boleiros e sambistas, às margens dos trilhos do trem, sofriam com a discriminação e a pobreza. Nem por isso deixaram de construir sua resistência e solidariedade.

Colorado, nome dado à escola da Vila, aceitava entre seus membros os perseguidos pela polícia e as prostitutas. Por sua vez, os componentes da escola, trabalhadores pobres da cidade, conquistaram o respeito do carnaval elitizado de Curitiba, trazendo para a rua a cultura negra. Não sem dificuldades, é óbvio. Em 1949, grandes empresários compram o terreno onde as casinhas da Vila Tássi ficavam (e hoje se encontra imponente moinho de trigo). Maé da Cuíca resiste com mais duas famílias brigando contra os novos grandes proprietários e a Colorado leva para o carnaval seu samba que exclamava: “quem diria que a Vila Tássi ia se acabar, quem diria que somente três casas iriam ficar”. O risco do fim do samba em Curitiba na verdade foi só o seu começo. E a resposta de Maé não podia ter mais classe: “elas ficaram pra mostrar no carnaval que o samba lá da Vila sempre tem o seu lugar”. Hoje, quando você ouvir alguém dizer que Curitiba não tem carnaval, lembre-se da resposta de Maé da Cuíca, uma resposta de classe!

*Versão original do texto da coluna Distraídos Cantaremos publicado na edição impressa do jornal Brasil de Fato Paraná, nº 1, ano 1 em 04 de fevereiro de 2016.

Edição: Lucas Botelho