Rio Grande do Sul

Coluna

Pé dentro, pé fora, na ciranda do poder popular

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Seminário “Construindo um projeto de educação popular a partir das ações de participação social do Governo” foi realizado dias 11 e 12 de março, em São Paulo - Foto: Vinícius Braga
A esperança está de novo no ar, com soberania, igualdade, direitos, cuidado com a Casa Comum

São tempos extraordinários sob todos os aspectos. Preocupantes, por um lado, pelo neofascismo reinante, pelo ódio e intolerância do cotidiano, pela violência, especialmente com as mulheres e jovens, povo negro e LGBTQIA+, pelas guerras no mundo, pela desigualdade econômica e social crescente, pela desumanização.

Mas são também tempos de vida e ressurreição. No Brasil, são tempos de construção e reconstrução. Um exemplo, entre outros tantos: a Secretaria Geral da Presidência da República realizou em 11 e 12 de março, em São Paulo, Seminário com presença ativa de participantes e convidadas-os do governo federal e da sociedade civil, com o tema: Construindo um projeto de educação popular a partir das ações de participação popular do governo.

Os debates concentraram-se, num primeiro momento, no acúmulo dos governos Lula e Dilma: novos cenários e novos desafios, grandes diretrizes, instrumentos previstos para a Secretaria Geral na participação popular e educação popular. Uma troca e reflexão coletiva sobre os novos ventos na conjuntura, suas grandes dificuldades, suas novas e grandes possibilidades.

Quatro Grupos de Trabalho e Comissões debateram: 1. A educação popular como referência para processos formativos associados à reconstrução das formas de participação social, retomada dos Conselhos, Conferências, PPA (Plano Plurianual) Participativo, dimensão federativa de todos os processos e articulações nos territórios, aproveitando a capilaridade dos agentes governamentais. 2. Educação popular como referência para articulação de Conselhos, Comitês locais e outros fatores de organização de base, grandes objetivos nacionais. 3. Educação popular e o fortalecimento de entidades e movimentos sociais para o processo de participação social e formação de lideranças locais. 4. Educação popular, participação digital, comunicação e redes.

Os debates e reflexões foram intensos, como não podia deixar de ser, buscando produzir consensos, novas propostas e ações a partir das práticas já existentes e consolidadas nos governos democrático-populares e outras a criar solida e coletivamente no diálogo aberto entre governo federal e sociedade civil organizada.

Há mil problemas e dificuldades, com certeza, pela frente. Como engajar o conjunto do governo federal nas políticas e programas e participação social e educação popular? Por exemplo, no retomado Programa Minha Casa, Minha Vida? Nos processos de Economia Solidária? No PNAE, Programa Nacional de Alimentação Escolar, no PAA, Programa de Aquisição de Alimentos, nas milhões de famílias e comunidades que recebem o Bolsa Família, as políticas da educação, da saúde, assistência social, nas políticas e programas de soberania e segurança alimentar e nutricional, de agroecologia e produção orgânica? Como promover o diálogo permanente e organizado, com eventuais críticas, entre governo e movimentos sociais, ONGs, pastorais e igrejas, Associações de Moradores, movimento sindical e todas as organizações da sociedade civil?

´Quando o povo se junta, o poder se espalha. Nossa comunidade é a nossa voz´, diz o refrão da RECID, Rede de Educação Cidadã, que estava representada no Encontro, junto com o CEAAL, Conselho de Educação da América Latina e Caribe, entre outros movimentos, entidades e organizações da sociedade civil.

Uma das sugestões do Seminário é envolver milhares de educadores/as militantes no processo de participação social e educação popular em todo Brasil. Para fazer o que Frei Betto, presente na abertura do Seminário, dizia em 2003, para a equipe de educadoras-es populares do TALHER no início do Programa Fome Zero: “Matar, sim, a fome de pão, e em primeiro lugar. Mas também, ao mesmo tempo e sempre, saciar a sede de beleza.”

É de novo o desafio, em 2023, exatos 20 anos depois. A urgência do diálogo entre diferentes políticas, programas, e entre governo e sociedade, movimentos sociais e populares, movimento sindical, Associações de moradores, pastorais, igrejas, ONGs, articulações como o CEAAL Brasil, ABONG, Centrais Sindicais: Soberania e Segurança alimentar e nutricional, Economia Solidária, Agroecologia e Produção orgânica, Segurança pública, Direitos Humanos, Educação, Saúde, Assistência social, Políticas antirracismo, Igualdade e Feminismo, Programas e Políticas ambientais, cuidado com a Casa Comum.

Os tempos urgem e rugem. Um pé dentro dos governos, outro pé fora dos governos, na ciranda do poder popular, movimento e instituição, um não eliminando o outro, educação popular e participação social caminhando lado a lado. A esperança está de novo no ar, com soberania, igualdade, direitos, cidadania, cuidado com a Casa Comum, democracia.

Ninguém solta a mão de ninguém. Vamos lá fazer o que será! ESPERANÇAR freireanamente.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko