Rio Grande do Sul

Coluna

Sem as mulheres, não há democracia

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"Por um mundo sem violência; em defesa da vida das mulheres" é um dos lemas exibidos no ato político na Lomba do Sabão, neste 8 de março de 2023 - Foto: Comunicação do MAB
Não é mais tempo de qualquer tipo de injustiça, não é mais tempo de mortes e violência

À Débora Moraes, militante do MAB, vítima de feminicídio há 6 meses

7 horas da manhã, quarta-feira, Dia Internacional da Mulher. Muitas mulheres, e alguns homens, vão se reunindo na Lomba do Sabão, na confluência da Estrada Antônio José Santana e Rua Zaire, na Lomba do Pinheiro, Porto Alegre.

As falas lembram da luta e compromissos de vida de Débora Moraes, militante do MAB, Movimento dos Atingidos por Barragens, ao lado de sua casa e ao lado da Barragem, em união  na defesa das famílias ameaçadas por rompimento águas e por despejos, e falando, com dor no coração, da vida de luta da Débora em defesa das famílias ameaçadas, por defesa de seus direitos, por dignidade e vida.

A caminhada começa na casa de Débora, com cantos, preces, louvações, e segue pelas ruas da Lomba do Sabão, em defesa das mulheres, moradoras e moradores, de todas e todos ameaçados de expulsão de suas casas, em defesa das águas e do meio ambiente.

Às 10 h, no Plenarinho da Assembleia Legislativa gaúcha, acontece um Ato ´Violência contra as Mulheres e o Desmonte das Políticas Públicas´: depoimentos, defesa da vida e da igualdade. Ao meio-dia, na Praça da Matriz da capital, Porto Alegre, há um almoço coletivo, e às 14 h, Rodas de Conversa sobre direitos, contra toda forma de violência e os feminicídios. Às 17h, saindo do Largo Glênio Peres, centro da capital, Marcha do 8M unificado, milhares de mulheres e homens, dizendo, em alto e bom som, com toda unidade, sem mulheres, não há democracia.

Às 11h do 8 de março de 2023, data histórica, o presidente Lula lançou um conjunto de medidas e Decretos entre as quais Trabalho igual, igual salário, combate à violência de gênero, licença maternidade no Bolsa Atleta, distribuição gratuita de absorventes no SUS, Dia nacional Marielle Franco em cada 14 de março, entre outras iniciativas,  na presença de 11 mulheres ministras da República, de mulher presidente do Bando do Brasil e mulher presidente da Caixa Econômica Federal, presença inédita de mulheres em postos-chave da Presidência da República, sinalizando um novo tempo de igualdade e democracia.

Em Carta a seus ministros, escreveu Lula em 8 de março de 2023: “Este governo tem como marca de sua gestão o respeito às mulheres. É um governo que acredita e defende que o lugar da mulher é onde ela quiser estar, as mulheres exigindo sempre maior participação política. Um governo que trabalhará incansavelmente para reconstruir um Brasil mais justo, inclusivo e igualitário para todas e todos.” 

Foi assim em todo Brasil neste histórico 8 de março de 2023, mulheres do campo e da cidade dizendo que é mais do que hora e vez do fim da violência contra as mulheres, fim dos feminicídios, fim de qualquer discriminação e desrespeito, por preservação do meio ambiente, por  abastecimento de água, por salários iguais entre mulheres e homens. Não é mais tempo de desigualdade, não é mais tempo de preconceitos, não é mais tempo de qualquer tipo de injustiça, não é mais tempo de mortes e violência.

Escrevi em 8 de março de 2013, há exatos 10 anos, a partir da conhecida música Sem medo de ser mulher, de Zé Pinto, ´pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer/ participando sem medo de ser mulher´: “Viva as mulheres de coragem, que não têm medo de serem mulheres. E participam. E vão à luta. E têm fé na vida.”

Escrevo em 8 de março de 2023, sem as mulheres não há democracia. Nas ruas, nas vilas, nas escolas, nos bairros populares, nas igrejas, no campo e na cidade, em todos os lugares, em todos os espaços, manhã, tarde, noite, madrugada: as mulheres estão e estarão onde querem estar. Sem as mulheres, não há e não haverá democracia de verdade, nunca, jamais. Nos parlamentos, nos governos, no voto, mas muito mais na decisão de políticas públicas com participação social e popular, na consolidação de direitos para trabalhadoras e trabalhadores, especialmente os mais pobres entre os pobres, da população negra, de indígenas, do povo LGBTQUIA+, das juventudes, as mulheres estarão sempre presentes, leves, livres, fortes, corajosas, ao lado dos homens de boa vontade.

Não há descanso, muito menos tempo a perder. O feminicídio e ausência física de Débora Moraes, militante, lutadora, e de tantas outras mulheres vítimas de violência, não há de ser em vão. Débora está/estará sempre presente, viva nas mentes e corações de todas e todos. Viva as mulheres! Viva a democracia!  

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko