Rio de Janeiro

SEM ÁGUA

Problema de falta de água no Complexo da Maré piorou com privatização da Cedae, relata morador

Bairro ficou quase um mês sem abastecimento; moradores dizem que mesmo nos lugares que voltou a água está fraca

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Para presidente do Sindágua-RJ, é necessário que o serviço de abastecimento de água volte a ser feito por uma instituição pública - Reprodução Maré de Notícias

Moradores de favelas do Rio de Janeiro enfrentam constantemente problemas com o abastecimento de água. Saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição Federal para todos. Porém, essa não é a realidade das populações de locais mais pobres.

O coletivo de mídia independente "Maré Vive" denunciou que os moradores do Complexo da Maré, na zona norte do Rio, ficaram quase um mês com o abastecimento de água comprometido, desde o rompimento de uma adutora, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Mesmo nos locais em que o abastecimento da água retornou, moradores relatam que o fluxo não é suficiente para encher as caixas d’água.

Membro do coletivo "Frente de Mobilização da Maré", Anisio Borba mora na Maré há 30 anos e conta em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que não é a primeira vez que o bairro sofre com falta de abastecimento de água e que isso “afeta os moradores de diversas formas, como o fechamento das escolas e do comércio”.

“Eu moro em um conjunto de prédios e é um ‘perrengue’ muito grande, eu ainda consigo carregar um balde de água, mas não tinha nem água na bica na rua e o prédio tem idosos. [...] Afetou muito, atrapalhou de tal forma que a gente não tem nem como mensurar. A falta de água afeta nossas vidas de todas as formas”, detalha Borba.

Para Anisio, o abastecimento de água na região sempre teve seus problemas, mas a situação se agravou desde que a concessionária “Águas do Rio”, do grupo Aegea, assumiu os serviços de água e esgoto.

“Antes, a gente conseguia até dialogar, mas hoje nem consegue falar com a Águas do Rio, piorou muito o serviço, muito péssimo. [...] Eu acho que não está servindo ao propósito que ela veio falando que iria melhorar”, diz.

O atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos de Niterói (Sindágua-RJ), Ary Girota, afirma que “essa situação de falta de água antes desse processo de concessão da instituição da água não acontecia porque a Cedae, enquanto empresa pública, tinha obrigação de atender a todos, independentemente de ter que pagar, de poder pagar as tarifas ou não, então as comunidades eram abastecidas”.

Ele explica que no período de fim de ano, com a chegada do verão, era a época que a Cedae mais trabalhava para evitar problemas no abastecimento de água da população.

“Tudo que era obrigação de uma empresa pública fazer deixou de existir nas concessões privadas, porque o objetivo deles é o lucro financeiro, o lucro econômico. A questão social é muito mais uma narrativa, uma questão midiática e se eles gastassem o dinheiro que gastam com propagando para fazer o social, talvez melhorasse”, afirma Ary.

Segundo o presidente do Sindágua-RJ, a melhor forma de garantir que problemas de falta de abastecimento de água ou abastecimento insuficiente aconteçam é que o serviço volte a ser feito por uma instituição pública.

“Infelizmente, a população vai sofrer com isso. Por outro lado, essa mesma população pode, a exemplo de outros países como na Europa, na Bolívia e nos Estados Unidos, reivindicar que o serviço volte a ser público”, finaliza.

O Brasil de Fato entrou em contato com a Águas do Rio. A empresa afirmou que “o abastecimento de água na Maré está normalizado após o complexo reparo na Subadutora da Maré”.

Ainda segundo a concessionária, “durante o período de intervenções, manteve contato contínuo com lideranças comunitárias, informando sobre as ações realizadas, e montou um plano de contingência para atender moradores, com a disponibilização, em caráter emergencial, de caminhões-pipa e a alocação de oito caixas de 10 mil litros de água em pontos distintos da comunidade”.

Edição: Eduardo Miranda