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E quem disse que ia ser fácil?

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O Brasil venceu a Suíça por 1 a 0 nesta segunda-feira (28) e garantiu a classificação para as oitavas de final da Copa do Mundo - Lucas Figueiredo / CBF
Agora, é descansar, recuperar os lesionados e confirmar o primeiro lugar do grupo na sexta-feira (2)

*Luiz Ferreira

Confesso que algumas “análises” de alguns colegas de imprensa me arrancam boas risadas. Principalmente nesta época de Copa do Mundo, onde todo e qualquer habitante deste país chamado Brasil se transforma no mais profundo conhecedor do velho e rude esporte bretão.

Não me entendam mal. O torcedor é soberano e a corneta salva vidas. O problema é que alguns membros da “grande mídia” acabam confundindo gosto pessoal e birra com Tite ou qualquer outro jogador da Seleção Brasileira com aquilo que o campo realmente nos mostra.

Dito isto, a vitória sofrida e suada do Brasil em cima da Suíça é a mais uma prova de que ninguém vai ter vida fácil nessa Copa.

Nem mesmo a seleção dona de cinco títulos mundiais.

E o que eu ouvi de gente dizendo que esse grupo G da Copa do Mundo era uma “baba” e que a equipe comandada por Tite não teria problemas em se classificar foi uma festa. Ainda bem que o Brasil venceu e melhor ainda que o fez sem levar gols e buscando dentro do jogo todas as opções para sair de campo com os seis pontos conquistados contra Sérvia e Suíça, equipes que mandaram Portugal e Itália para a repescagem das Eliminatórias Europeias, diga-se de passagem.

Notem bem como essa Copa do Mundo está completamente louca. A Arábia Saudita venceu a Argentina. Japão venceu a Alemanha. Marrocos deitou e rolou pra cima da Bélgica. Percebam como esse Mundial está recheado de zebras e resultados inesperados. E isso tudo só justifica o cuidado de Tite com cada partida e cada uma de suas escolhas.

Sobre o jogo desta segunda-feira (28), o treinador da Seleção Brasileira optou pelas entradas de Éder Militão e Fred nos lugares dos lesionados Danilo e Neymar. Com isso, Lucas Paquetá foi jogar mais à frente. E como era de se esperar, o adversário da segunda rodada da fase de grupos da Copa do Mundo dificultou e muito a vida do ataque brasileiro.

Já ouviram falar na expressão 'ferrolho suíço'?

O Brasil se deparou com uma Suíça fechada até a alma na entrada da sua área e que tentava sair em velocidade com bolas longas para os atacantes. A nossa sorte é que o sistema defensivo funcionou como o esperado. Thiago Silva, Marquinhos, Alex Sandro, Éder Militão e Casemiro novamente seguraram a onda lá atrás e mostraram por que é absurdamente difícil fazer gol na Seleção Brasileira.

Mas o ataque não andava lá muito bem das pernas. Fred perseguia o ótimo Xhaka no meio-campo. Lucas Paquetá e Richarlison sofriam com a forte marcação adversária, Raphinha estava em mais uma noite de erros seguidos nas tomadas de decisão e Vinícius Júnior estava completamente sobrecarregado no lado esquerdo. As bolas que chegavam na frente eram raras. E quando o meio-campo conseguia superar a primeira barreira, os atacantes não conseguiam aproveitar. Na melhor oportunidade do primeiro tempo, Vinícius Júnior parou no ótimo goleiro Sommer.

Tite e todos nós percebemos que a Seleção Brasileira precisava melhorar.

Rodrygo entrou no lugar de Lucas Paquetá logo depois do intervalo, mas o futebol continuava pobre. As coisas só começaram a funcionar depois que Bruno Guimarães entrou no lugar de Fred. Vinícius Júnior teve um gol anulado por conta de impedimento de Richarlison no começo da jogada. Aliás, pecado terem anulado esse gol hein.

Antony e Gabriel Jesus entraram nos lugares de Raphinha e Richarlison e a Seleção Brasileira se mandou pro ataque. O time martelou até os 37 minutos do segundo tempo, quando Vinícius Júnior passou para Rodrygo na entrada da área e o camisa 21 deixar a bola com Casemiro. O volante do Manchester United não teve dúvidas: acertou um belo chute de primeira no ângulo do goleiro Sommer.

Golaço, senhores. Esse sim foi validado.

E daí para o final do jogo, o Brasil até teve chances de aumentar o marcador, mas acabou esbarrando na afobação e no cansaço. Vamos combinar que esse time correu uma barbaridade hoje.

Aliás, vocês acreditaram mesmo que ia ser fácil? Caíram no conto do comentarista que não vê jogo e diz que o Brasil tem “obrigação” de levar a Copa do Mundo? Sério mesmo?

Não se enganem, meus amigos. O bagulho tá doido pra todo mundo lá no Catar. Principalmente para as principais seleções do planeta. A pressão em cima do Brasil, da França, da Espanha e também das ainda ameaçadas Argentina, Bélgica e Alemanha é gigantesca. Todo mundo sabe que quem está por baixo quer subir e quem está em cima não quer descer. Então, temos aí uma belíssima briga de foice no escuro entre os melhores jogadores do mundo.

Sim, o Brasil poderia ter jogado melhor contra a Suíça. Tite, inclusive, poderia ter dado oportunidades para Pedro ou Everton Ribeiro por conta da maneira como o time se comportou diante da Suíça. Mas ainda bem que as coisas acabaram dando certo.

Agora, é descansar, recuperar os lesionados e confirmar o primeiro lugar do grupo contra Camarões na próxima sexta-feira (2). Quem sabe Tite não dá uma oportunidade para outros jogadores sentirem o gostinho de jogar uma Copa do Mundo hein?

Mas não se esqueçam. As coisas nunca são fáceis numa Copa do Mundo. E quem fala o contrário vive num terraplanismo futebolístico que nem mesmo Pelé ou Marta podem curar.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse