Rio de Janeiro

Licença para atirar

PF apreende quase 8 mil unidades de munição na casa de Roberto Jefferson, segundo jornal

Ex-deputado possuía licença vencida de CACs, modalidade usada por Bolsonaro para flexibilizar o acesso às armas no país

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Nos disparos feitos contra um delegado e três agentes, Roberto Jefferson usou um fuzil, de calibre 5.56 - Valter Capanato/ Agência Brasil

No domingo (23), a Polícia Federal apreendeu 7.797 unidades de munição na casa do ex-deputado Roberto Jefferson, em Levy Gasparian, no Sul Fluminense, segundo informações do portal G1.

As buscas aconteceram na casa do ex-parlamentar enquanto ele era levado para a Superintendência da Polícia Federal, no centro do Rio.

Jefferson atirou contra policiais federais com fuzil de calibre 556 e atirou granadas que foram cumprir um mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Nos disparos feitos contra um delegado e três agentes, Roberto Jefferson usou um fuzil, de calibre 5.56. O delegado Marcelo Vilela e a agente Karina Oliveira ficaram feridos na ocasião.

Após Jefferson ser retirado da casa, os policiais federais entraram para fazer buscas no local. Encontraram 4,9 mil munições para pistolas dos mais diferentes calibres: 45 e 9 milímetros, por exemplo.

Para fuzil havia 319 munições. Mais de 2 mil eram para revólveres, de calibres 38 e 22. Além das munições e armas como uma pistola, sem cano, por exemplo, a Polícia Federal encontrou ainda 29 pendrives.


Jefferson atirou contra policiais federais com fuzil de calibre 556 e atirou granadas / Divulgação

Licença vencida

Jefferson possuía as armas e munições a partir de uma licença emitida para caçadores, atiradores e colecionadores no Brasil, identificados pela sigla CACs. No entanto, o sistema do Exército informou que a licença estava suspensa e que ele não poderia ter ou transportar armas fora de Brasília. 

As CACs foram usadas por Bolsonaro para flexibilizar o acesso às armas pela população. Segundo dados obtidos recentemente pelos institutos Igarapé e Sou da Paz, referentes a junho deste ano, passou de um milhão o número de armas registradas na modalidade.

Em entrevista concedida ao Brasil de Fato, sobre a pesquisa, a cientista social Giane Silvestre, pesquisadora de pós-doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), alertou para vários riscos do acesso ampliado a armas. 

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Ela destacou, entre outras consequências, que o trabalho das polícias é dificultado, e os agentes de segurança ficam sob risco ainda maior.

"A facilitação de armas acaba deixando os criminosos mais poderosos, por que acabam tendo mais acesso às armas e tem poder de resposta e revide à ação da polícia muito maior, e também sobrecarrega o sistema investigativo", disse.

A especialista alertou ainda que o poder público enfrenta dificuldades para fiscalizar a circulação dessas armas, e muitas delas acabam sendo usadas pelo crime organizado: tanto as que são compradas diretamente para este fim, quanto muitas que são roubadas ou furtadas.

Edição: Mariana Pitasse