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Esporte, Evangelho e o exemplo que vem do campo, da água e das pistas

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O senegalês Sadio Mané recebeu o Prêmio Sócrates por conta das suas ações sociais no seu país - Reprodução / Instagram
O esporte na sua essência está muito mais próximo dos ensinamentos do Cristo do que você pensa

*Luiz Ferreira

Compromisso. Esforço. Trabalho. Perseverança. Humildade. Respeito. Tolerância. Amizade. Honra. Amor ao próximo.

Quem acha que o esporte não passa de mera atividade física para quem quer entrar em forma ou de entretenimento para as tardes de domingo precisa rever alguns conceitos. E pra ontem. Pense um pouco mais e você vai perceber que vários dos valores difundidos pelo esporte (seja ele qual for) estão bem próximos de algumas lições que aprendemos na nossa querida Bíblia. Duvida?

Na última segunda-feira (17), durante a cerimônia de entrega da Bola de Ouro da Revista France Football, o senegalês Sadio Mané (jogador do Bayern de Munique) conquistou o “Prêmio Sócrates” pelas ações solidárias que realiza no seu país. Nos últimos três anos, Mané inaugurou uma escola na vila onde nasceu, fez doações para o governo de Senegal para ajudar no combate ao novo coronavírus e ainda participa de mais uma série de projetos sociais.

Vamos dar um pulinho no Evangelho de Mateus, mais precisamente no capítulo 25 e nos versículos de 37 a 40:

“Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”

A atitude de Sadio Mané e de vários outros profissionais do esporte que se preocupam com seu próximo e que buscam fazer aquilo que gostariam que fizessem com se encaixa perfeitamente nessa passagem. Imaginem, por exemplo, o que seria de medalhistas olímpicos como Rebeca Andrade e Isaquias Queiroz se não fosse a mão amiga de pessoas com mais posses e mais condições de ajudar e lapidar esses talentos. E notem que não estamos falando de uma simples esmola, mas daquela caridade que levanta e faz com que o ajudado se sinta no dever de ajudar outras pessoas.

Um outro exemplo (não tão agradável como o de Sadio Mané) vem do futebol brasileiro. As brigas em Recife e em Fortaleza e a invasão de torcedores na Ilha do Retiro e na Arena Castelão lembra uma das passagens mais marcantes do Evangelho de Mateus, no capítulo 26 e versículos 50 a 52.

“Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Então, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam.
E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha.
Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.”

Eu e você sabemos que a provocação, a zoação e as piadas fazem parte do universo do futebol, mas que as coisas saem do controle quando isso é tomado como ofensa e quando a paixão por um clube passa dos limites. Aliás, diante da facilidade com que vemos tantos atos violentos e tantas coisas ruins sendo ditas por aí, é de se estranhar que os autores dessas atitudes se digam cristãos quando os versículos 44 e 45 do capítulo 6 do Evangelho de Lucas dizem o seguinte:

“Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos.
O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.”

O esporte na sua essência está muito mais próximo dos ensinamentos do Cristo que muita gente pensa. Cada gol, cada ponto, cada recorde e cada volta olímpica traz um ensinamento que pode ser facilmente encontrado na Bíblia. Seja com Sadio Mané ajudando sua gente em Senegal ou com os projetos sociais descobrindo novos valores. Ou com o exemplo de paz e de preocupação com o próximo que algumas das nossas torcidas ainda precisam aprender.

Disciplina. Trabalho. Humildade. Esforço. Amizade. Convivência. Tolerância.

Tudo está interligado. E não é preciso ser atleta de alto rendimento ou buscar o recorde mundial para se entender esse papel agregador do esporte e sua proximidade com ensinamentos valiosos.

Basta ter olhos de ver e ouvidos de ouvir. Preparar a ‘boa terra” no nosso coração para receber a Palavra também passa pela revisão das nossas atitudes e pelo combate de todo discurso bélico e de ódio.

O versículo 17 do capítulo 15 do Evangelho de João resume tudo: “Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros". 
 

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse