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Fernando Diniz: o técnico que amamos odiar

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O trabalho de Fernando Diniz no Fluminense tem recebido elogios até de jogadores da Seleção Brasileira - Mailson Santana / Fluminense FC
Não é exagero afirmar que o Fluminense joga hoje o futebol mais vistoso do país

*Luiz Ferreira

Poucos técnicos provocam tanta discussão nos programas esportivos e nas resenhas de torcedores como Fernando Diniz. O treinador do Fluminense, como todos nós sabemos, é conhecido pelo seu estilo completamente único de montar suas equipes e pelo apego quase inegociável aos seus conceitos de jogo. Uns o defendem como o último baluarte do chamado “futebol-arte”. Outros o classificam como “teimoso”. E boa parte apenas assiste os jogos dos seus times pelo mais puro entretenimento.

De qualquer maneira, Fernando Diniz se transformou no treinador que muitos amam odiar por uma série de motivos. E talvez o maior deles seja a defesa que ele recebe de alguns colegas de imprensa.

Mas vamos combinar que era muito difícil encontrar até mesmo dentre os torcedores mais otimistas do Fluminense alguém que pensasse que o time fosse disputar as primeiras posições do Brasileirão depois da eliminação precoce na Libertadores e da campanha ruim na Copa Sul-Americana. O discurso de alguns era de terra arrasada depois da saída de Abel Braga do comando do Tricolor das Laranjeiras e outros falavam até em luta contra o rebaixamento.

Fernando Diniz chegou, fez algumas mudanças na formação e nos titulares.

Conseguiu encontrar em Nino, Samuel Xavier, André, Jhon Arias, Paulo Henrique Ganso e Germán Cano a espinha dorsal da sua equipe e apostou num estilo agressivo com e sem a bola, de muita movimentação, toque de bola (incluindo aquela famosa saída de bola com toques desde o campo de defesa) e belos gols.

Não é exagero afirmar que o Fluminense joga hoje o futebol mais vistoso do país. Com isso, o termo “Dinizismo” foi tomando conta das redes sociais e se transformando em sinônimo de jogo bem jogado para os torcedores tricolores.

Só que todo esse futebol tem um preço.

Por ser extremamente fiel aos seus conceitos, Fernando Diniz acaba expondo suas equipes a riscos desnecessários. Não foram poucas as vezes em que o Fluminense levou gols por conta de erros na saída de bola provocados por jogadores que ainda apresentam dificuldades para trabalhar essa saída pelo chão ou diante de adversários que entendem como o time se comporta dentro de campo. A derrota de 3 a 0 para o Corinthians nas semifinais da Copa do Brasil é um bom exemplo disso.

Se seus defensores elogiam o compromisso em mostrar um futebol bonito, seus detratores o acusam de teimosia e de insistir em fazer seus times passarem por riscos desnecessários por causa desse apego a conceitos táticos. Seja como for, o cenário tem bastante relação com o título desta crônica. E a tendência é que ele se transforme no centro das atenções caso consiga finalmente conquistar seu primeiro título de expressão e ganhar o destaque que alguns tanto afirmem que ele merece.

Diniz já ganhou elogios de Neymar e Thiago Silva, dois líderes da Seleção Brasileira.

E sabendo que Tite deixa o comando do escrete canarinho depois da Copa do Mundo, o treinador do Fluminense se coloca como forte candidato ao posto mais importante do país.

Antes que me crucifiquem e finquem cruzes na porta da minha casa, lembro que Vicente Feola era assistente de Béla Guttmann no São Paulo antes de assumir a Seleção Brasileira em 1958. Aymoré Moreira (embora muito mais experiente em 1962) ainda não havia conquistado um título de expressão como treinador até a Copa do Mundo do Chile.

E Zagallo não tinha nem cinco anos na beira do gramado quando assumiu o escrete canarinho em 1970. Guardadas todas as proporções, pensar em Fernando Diniz na Seleção Brasileira não é nenhum absurdo e ele entra na briga junto com nomes como Dorival Júnior, Cuca e Abel Ferreira.

Na vitória ou na derrota, no empate ou no gol perdido, na tabela ou no erro na saída de bola, o nome de Fernando Diniz sempre estará em “boca de Matilde”, como diriam os mais antigos. O técnico que muitos amam odiar vem fazendo um ótimo trabalho. E isso precisa ser mais reconhecido por parte de alguns colegas de imprensa. Doa a quem doer, o “Dinizismo” não deve ir embora tão cedo.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse