Rio de Janeiro

Futuro da Petrobras

"Prioridade é mudar rumo da Petrobras para ela atuar pelo interesse do povo", diz petroleiro

Petroleiros apresentaram recentemente diversas propostas que estão sendo incorporadas ao plano de governo de Lula

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Petrobras fup
Coordenador da FUP afirma que desfazer retrocessos de Bolsonaro na Petrobras depende também de forte base de parlamentares da esquerda - Divulgação

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), em conjunto com os sindicatos da categoria, tem realizado plenárias nacionais desde 2021 e aprovou e apresentou recentemente diversas propostas que estão sendo incorporadas ao capítulo de Energia do plano de governo do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

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A campanha de Lula já assumiu publicamente o compromisso de acabar com o Preço de Paridade de Importação (PPI), que fez os preços dos combustíveis dispararem, aprofundando a crise econômica e a pobreza, e de interromper as privatizações do Sistema Petrobras. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, o coordenador da FUP José Maria Rangel disse que a Petrobras foi o alvo do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Ele enumerou o fim da exclusividade da estatal na operação do pré-sal e, já no governo de Jair Bolsonaro (PL), um projeto de lei que acaba com o regime de partilha e tira da União o controle das riquezas do pré-sal.

"O que o povão precisa entender é que tudo que aconteceu desde o golpe teve o objetivo de vender a Petrobras em partes, bem barato, para estrangeiros e ainda fazer os brasileiros pagarem a conta com gasolina, diesel e gás de cozinha caríssimos", aponta o petroleiro.

Robin Hood às avessas

Rangel afirma que é urgente mudar o atual cenário e fazer com que a estatal passe a estar em sintonia com o interesse da maioria da população. "Hoje, a Petrobras faz papel de Robin Hood às avessas, tira dos pobres que pagam o gás e o transporte caros, para dar aos ricos acionista. É a eles que interessa a Petrobras de hoje, e ainda querem que ela seja vendida completamente a preço de banana".

Para o coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, a Petrobras do governo Bolsonaro, "que vive da descoberta do pré-sal feita no governo Lula", deixou de ser uma empresa integrada e nacional de energia para se converter em uma empresa enxuta e regional de exploração de petróleo offshore.

"Se tornou uma empresa que produz e exporta óleo cru a um preço menor, e abre mão do refino deixando o país refém da importação de derivados, vendidos, aliás, a preços internacionalizados e dolarizados. A empresa distribui dividendos recordes e os consumidores pagam a conta com inflação de combustíveis", reforça Nozaki.

O representante do Ineep enumerou medidas que precisam ser tomadas em eventual vitória de Lula nas eleições. Segundo Nozaki, a empresa deve estar "comprometida com a segurança energética, a autossuficiência na produção de petróleo e no abastecimento de derivados, atuando no refino, renováveis, fertilizantes". Ele defende que a Petrobras utilize a renda petroleira em benefício das gerações futuras e esteja comprometida com a transição energética.

Rangel, da FUP, lembra que Lula precisará de apoio no Congresso Nacional para que o desmonte da estatal seja revertido. Ele argumenta que a empresa precisa voltar com os investimentos na construção, em território nacional, de navios e plataformas para retomar a indústria naval, os investimentos na exploração, produção e revitalização dos campos maduros e os investimentos em outros setores.

"As pessoas costumam achar que, uma vez eleito, o presidente pode fazer tudo, mas não é assim que as coisas acontecem. O presidente precisa de um parlamento que o ajude a aprovar as medidas. Se ele não tiver um número expressivo de parlamentares que pensem como ele, não vai conseguir mudar o que precisa ser mudado, da desigualdade social, fome, desemprego, às mudanças na Petrobras", explica.

Confira as propostas dos petroleiros para a Petrobras:

1 – Preço dos Combustíveis

Implantar uma política de preços justos, adotando como parâmetro para definição dos preços não só o mercado internacional, mas também os custos e a sustentabilidade da indústria, criar um imposto sobre exportação de petróleo cru, de modo a capitalizar um fundo moderador dos preços de derivados (com a participação da sociedade e dos trabalhadores na gestão) e acabar com o Preço de Paridade de Importação (PPI).

2 – Leilões do Petróleo

Interromper, imediatamente, todos os leilões em curso. É fundamental condicionar a realização de novos leilões às necessidades de abastecimento interno e ao desenvolvimento da cadeia de prestadores de bens, serviços e fornecedores de máquinas e equipamentos. 

3 – Petrobras integrada e desenvolvimento nacional

Resgate da empresa integrada, com atuação em todo o território nacional. Retomada dos investimentos em tecnologia, pesquisa e inovação, privilegiando as parcerias com as universidades públicas, bem como a retomada dos investimentos na Universidade Petrobras, e dos investimentos sociais, em cultura, meio ambiente e esportes.

4 – Petrobras 100% pública

Retomada da construção de uma Petrobras 100% pública em que a União detenha a totalidade do capital social, tendo como foco principal a retomada das ações alocadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque, sem submeter a empresa às leis de outra nação, condição que dificulta, em muito, a atuação da empresa como indutora do desenvolvimento nacional.

5 – Interromper a privatização da Petrobras

Paralisar todos os processos de privatização de ativos em andamento e constituir um processo de investigação com ampla participação da sociedade para analisar todos os movimentos de venda de ativos realizados nos últimos cinco anos, com o objetivo de reestatizar o que for possível.

6 – Parque de refino e abastecimento nacional

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética, as regiões Norte e Nordeste irão apresentar fortes déficits na produção de derivados na próxima década. Nesse sentido, entendemos ser estratégica a retomada do aumento da capacidade de refino nacional, com o parque sob controle da Petrobras, de modo a garantir o abastecimento do país.

7 – Legislação do setor petróleo

Os petroleiros defendem a manutenção do Modelo de Partilha de Produção nos campos petrolíferos considerados estratégicos e no polígono do pré-sal, com a retomada da estatal como operadora única.

Em relação aos tributos que incidem sobre o setor, dada a profunda destruição do Brasil, a questão fiscal vai assumir papel central na reconstrução do país e, cientes da carência de recursos, os petroleiros defendem a revisão da estrutura tributária da área de óleo e gás.

8 – Transição energética

Revitalização do programa de biocombustíveis, com a preservação da PBio – Petrobras Biocombustíveis – e a retomada de suas plantas de produção de biocombustíveis. Retorno da atividade da Petrobrás na geração de energia por meio de usinas eólicas e solares, assim como o investimento em pesquisas para o desenvolvimento do hidrogênio verde.

Edição: Mariana Pitasse