Pernambuco

7 de setembro

28º Grito dos Excluídos leva milhares de pessoas às ruas do Recife

Além do ato de rua, bicentenário da independência também foi marcado por ação de solidariedade no interior de Pernambuco

Brasil de Fato | Recife (PE) |
No Recife, o grito é organizado por pastorais sociais, movimentos populares do campo e urbanos, organizações sociais, sindicatos - Iyalê Tahyrine

Neste bicentenário da independência marcado por atos do 28º Grito dos Excluídos, as ruas do centro do Recife foram ocupadas por milhares de pessoas sob o lema “200 anos de independência. Para quem?” no ato organizado por pastorais sociais, movimentos populares do campo e urbanos, organizações sociais, sindicatos, entre diversos outros grupos. 

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Com a tônica da denúncia dos retrocessos que afetam o povo brasileiro, Marcus Silvestre, um dos organizadores do grito, relembra que a mobilização faz parte do calendário de lutas do Recife “Nós viemos, há 28 anos, denunciar as desigualdades históricas, porque o tempo vai passando e essas desigualdades muitas vezes vão aumentando, como aconteceu agora com a pandemia, onde os mais ricos continuaram com sua exploração e ‘passando a boiada’”, afirma. 

A mística de abertura do Grito dos Excluídos homenageou o padre Reginaldo Veloso, relembrando sua atuação no bairro de Casa Amarela, na construção do Grito e nas Comunidades Eclesiais de Base. Além de religioso, Reginaldo militou contra a ditadura junto com Dom Hélder Câmara, e construiu diversas outras lutas através das pastorais sociais e recebeu recentemente o título de cidadão pernambucano in memoriam

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A poucos dias das eleições, o ato também foi marcado pela presença de diversas candidaturas de esquerda que estão na disputa pelos cargos ao legislativo estadual e federal. Apesar dessa diversidade de candidaturas proporcionais, o coro de "olê, olê, olê olá Lula, Lula" foi uníssono durante todo o trajeto. Também estiveram presentes no ato os candidatos ao governo de Pernambuco João Arnaldo (PSOL), Jones Manoel (PCB) e Marília Arraes (SD).

Luiz Lourenzon, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo de Pernambuco e da Paraíba (Sindipetro), reafirma a necessidade de unidade das forças populares: “É uma data, além de simbólica, para mostrar as bandeiras de luta que nós temos e trazemos pra rua como forma de expressão, de mostrar nosso descontentamento e a unidade da classe trabalhadora. Estamos na luta, esperamos que dias melhores virão e que derrotaremos esse governo que tem feito retrocessos em toda a sociedade”.


Ato passa pela Av. Conde da Boa Vista, que atravessa o centro da capital pernambucana / Iyalê Tahyrine

A participação da juventude de diversas organizações foi um dos destaques do grito. Isa Sena, do Levante Popular da Juventude, ressalta o papel das lutas populares para a independência. “Estamos aqui pra mostrar quem é esse povo e o que é essa independência com as mulheres, é o povo preto, é o povo LGBT, é a juventude… Esse Brasil é nosso e a gente vai tomar ele pelas mãos nesse ano tão importante de eleições. A gente está sempre no Sete de Setembro nas ruas pra reafirmar que esse país é nosso e a independência é a gente quem faz” afirma.

Diversos grupos percussivos formado pelas organizações que organizam o ato também agitaram as ruas com palavras de ordem diversas e o encerramento do Grito aconteceu na praça da Independência, mais conhecida como Praça do Diário, onde três grandes rodas de ciranda foram criadas.

Ações de Solidariedade 

O Grito dos Excluídos em Petrolina, no sertão pernambucano, aconteceu com um café solidário no bairro João de Deus, na periferia da cidade. O ato simbólico denuncia a situação de fome no município e no país. 

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A mobilização foi organizada por várias entidades e movimentos populares que constroem o projeto Mãos Solidárias e atendeu cerca de 80 famílias, que receberam o café da manhã e kits de higiene que foram distribuídos. A prioridade foi para famílias que são chefiadas por mães solo e com pessoas idosas. 

A moradora Mauricélia participou do evento e levou seu filho para o café. Ela reforça a importância do projeto: "eu frequento o Mãos Solidárias há muito tempo. Eles me ajudam quando eu preciso, e é importante porque ajudam pessoas necessitadas, que não tem uma condição melhor".

Jucy Carvalho, educadora popular e coordenadora do Mãos Solidárias no município, afirma que basta visitar a periferia para perceber o aumento da fome na cidade. "As pessoas duvidam que existe fome. Há, ainda, pessoas que pensam que o fato de uma família receber um auxílio não passa fome. Ela passa fome, porque esse dinheiro não é suficiente. Nós identificamos inúmeras famílias em Petrolina que, mesmo estando no programa social, mesmo com um salário mínimo ou um benefício de saúde ou uma aposentaria, passam fome, porque o aumento [do preço] dos alimentos é gritante", denuncia.

O evento aconteceu com a parceira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Igreja Anglicana do Nordeste, a Rede de Médicas e Médicos Populares, movimentos da juventude como o Levante Popular da Juventude e a União da Juventude Comunista (UJC), além de organizações de mulheres como a Associação de Mulheres Rendeiras e instituições parceiras como escolas municipais e universidades públicas.

Edição: Vanessa Gonzaga