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Será que finalmente chegou a vez de Neymar?

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Desde que se recuperou de lesão no início do ano, Neymar já marcou 21 gols em 21 jogos pelo PSG e pela Seleção Brasileira - Reprodução / Twitter / Paris Saint-Germain
Neymar parece finalmente disposto a ser o jogador que eu e você esperamos que ele seja

*Luiz Ferreira

Neymar é o tipo de personagem que divide opiniões. Há quem veja no camisa 10 e principal referência da Seleção Brasileira um homem de 30 anos que se recusou a crescer (e amadurecer) e que não sabe lidar com críticas. E há quem veja nele o craque que vai comandar o escrete canarinho rumo ao hexa no Catar no final do ano.

Só que as coisas parecem estar mudando.

Depois de um período marcado por lesões e polêmicas fora do campo, Neymar parece finalmente disposto a ser o jogador que eu e você esperamos que ele seja. As suas atuações pelo Paris Saint-Germain nesse início de temporada europeia prova essa tese.

Desde que se recuperou de mais uma lesão no quinto metatarso do pé direito no começo de 2022, Neymar fez 21 partidas (somando suas participações na Seleção Brasileira e no PSG). Foram 21 gols marcados (média de um por partida), onze assistências para gol e mais uma série de ótimos números que não caberiam aqui nessa coluna.

Mas talvez a grande notícia seja a vontade firme que Neymar tem de se superar e se transformar no líder que a Seleção Brasileira tanto precisa nessa próxima Copa do Mundo. Ao invés do jogador individualista, estamos vendo um "10" de fato e de direito que distribui passes decisivos com uma facilidade absurda. Ao invés das polêmicas extracampo, vemos um atleta mais focado e muito melhor preparado fisicamente. E ao invés da "estrela" que quer monopolizar os holofotes, vemos o desejo de dividir o protagonismo com os companheiros de equipe.

Até mesmo a crise com o francês Mbappé (em mais uma polêmica sobre cobrança de pênaltis) foi resolvida de maneira rápida, tranquila e sem muito alarde.

Sim, eu sei que é difícil acreditar nessa melhora toda. Mas ela é real. E ainda que o Campeonato Francês não tenha tanta competitividade, a mudança no comportamento do brasileiro dentro de campo é nítida. Há algo de diferente em Neymar. Algo que não vimos em 2014 (no Brasil) e nem em 2018 (na Rússia). É possível sim afirmar que aquele brilho nos olhos está diferente. Talvez um foco maior, uma noção de responsabilidade mais forte ou até mesmo a vontade de calar os críticos sejam as grandes motivações do camisa 10 nesse momento.

Há em Neymar o desejo quase obsessivo de ser o melhor jogador de futebol do planeta.

A diferença é que o camisa 10 parece ter compreendido que o futebol é um esporte coletivo e que ele precisa dos demais companheiros para conquistar vitórias e levantar taças. E em se tratando de Seleção Brasileira, isso é ótimo.

É verdade que ainda existe o medo de lesões. Como esquecer a entrada forte de Juan Camilo Zúñiga no jogo contra a Colômbia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014? Como esquecer da lesão no pé que o tirou de vários jogos da temporada de 2018 e fez com que ele chegasse na Rússia longe da sua melhor forma? Só que a impressão que fica é a de que até isso está mudando. Vemos um Neymar muito mais forte fisicamente e muito mais precavido. O estilo mais “garçom” que toca de primeira e não prende tanto a bola também ajuda nesse sentido.

E ao contrário do que muitos dos seus detratores afirmam, ele ainda é o nosso principal jogador. Gostem dele ou não. Mesmo que sua presença iniba um pouco os demais companheiros de equipe e traga mais os holofotes para si. Aliás, com tantos jovens atletas aparecendo nas últimas convocações de Tite, é até bom que as atenções estejam voltadas para o nosso camisa 10 numa das suas últimas chances de colocar seu nome entre os melhores da história.

Será que finalmente chegou a vez de Neymar?

Será que ele vai deixar o “quase” para trás? Será que ele vai jogar aquilo que se espera dele no Catar? E será que esse bendito hexacampeonato mundial finalmente vai sair do papel?

Não é fácil prever o futuro. Principalmente no velho e rude esporte bretão. Mas este parece ser bem promissor diante de tudo que estamos vendo lá pelos lados da França nessas últimas semanas.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse