Minas Gerais

Coluna

O vasto mundo do trabalho no SUS

Imagem de perfil do Colunistaesd
Paula Fróes - GOVBA / Fotos Públicas
SUS emprega diretamente mais de 4 milhões de trabalhadores

O reconhecimento do valor do SUS para milhões de brasileiras e brasileiros vem se tornando um sentimento compartilhado que pode contribuir decisivamente para seu fortalecimento.

Um aspecto crucial para a consolidação desse reconhecimento diz respeito a compreensão das condições de trabalho no SUS. Pouca atenção é dispensada, no entanto, aos trabalhadores do SUS.  Ou mais precisamente, às trabalhadoras do SUS, uma vez que as mulheres são a grande maioria que fazem acontecer o serviço de saúde Brasil afora.

Essa crescente confiança pública deve vir acompanhada de uma visibilização dos seus desafios políticos formando um sentimento de solidariedade.

:: Leia mais notícias do Brasil de Fato MG. Clique aqui ::

Se as trabalhadoras e os trabalhadores vinculados ao SUS fossem imaginados como a população de uma cidade brasileira, ela seria a terceira capital mais populosa do país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Uma das pesquisas mais abrangentes já feita sobre o trabalho no SUS, coordenada pela professora Maria Helena Machado (Fiocruz), identificou que o SUS emprega diretamente mais de 4 milhões de trabalhadores da saúde em seus mais de 200 mil estabelecimentos assistenciais hospitalares e ambulatoriais, que conta com mais de 430 mil leitos, e 280 mil Equipes de Saúde da Família espalhados no território brasileiro.

Esse vasto mundo, como dizia nosso mineiro Drummond, não deveria mesmo nos surpreender dado que estamos falando do maior sistema público e universal de saúde do planeta. ¹

É fundamental iluminar o valor do ofício dos tantos profissionais que compõem o SUS como médicos, farmacêuticos, fisioterapeutas, odontólogos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, além de técnicos e auxiliares de laboratório, de radiologia, maqueiros, Agentes Comunitários de Saúde, e motoristas de Ambulância.

Metade dos trabalhadores do SUS são da enfermagem

Nesse vasto mundo do SUS, metade dos profissionais pertence à área da enfermagem – profissionais graduados, técnicos e auxiliares – dos quais 77% são mulheres. De fato, onde há vida, há enfermagem!

Imagine essa população de trabalhadoras e trabalhadores em movimento, realizando o seu ofício diariamente. Sem dúvida, valeria a pena mergulhar na vastidão de conhecimentos e experiência que esse contingente de trabalhadoras e trabalhadores abriga, como se organizam para realizar as ações de promoção, assistência e reabilitação da saúde da população brasileira.

Condições de trabalho

Nesse esforço de pensar os profundos desafios do trabalho no SUS, é revelador que, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 13,6 mil trabalhadores da saúde tenham morrido por covid-19². Isso se torna ainda mais grave se levamos em conta que parte importante dessas mortes foi um desdobramento das condições precárias de trabalho como as elevadas jornadas de trabalho e a ausência de insumos básicos, como luvas e máscaras adequadas a manejo dos pacientes.

Isso para não falar nas mortes decorrentes do crime de genocídio que ficou caracterizado por meio do atraso proposital na compra de vacinas por parte do atual governo de Jair Bolsonaro.      

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

A qualidade da assistência na rotina do SUS está diretamente ligada às condições do trabalho, como a estabilidade no emprego. Nesse quesito, uma questão clara e pontual diz respeito à completa ausência de concursos públicos e a organização de carreiras para o SUS. Sobretudo nas prefeituras, o que se vê em cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, e, inclusive, em Belo Horizonte, é a proliferação de contratos precários, como a terceirização por meio de empresas que exploram o orçamento da saúde.

Conquista

A recente aprovação do piso nacional do salário para a enfermagem, no valor de R$ 4.570,00, nos mostra um caminho importante para a valorização dos profissionais que constroem o SUS. No entanto, o desafio para a implementação sustentável desse piso salarial se relaciona diretamente ao aumento do financiamento público para o SUS. Para os que trabalham na iniciativa privada, os empresários do setor não se mostram nada satisfeitos, embora tenham alcançado lucros extraordinários, da ordem dos bilhões de reais, mesmo durante a pandemia.     

Existe solução política

Nessa viagem de descobertas que traremos semanalmente nessa coluna, uma coisa é certa: para qualquer problema que você identifique no SUS é importante ter sempre em conta que existe uma solução política, portanto humanamente possível. Em ano de eleições,  propostas muito consistentes³ estão sendo apontadas para ampliar, aperfeiçoar e realizar plenamente o SUS – essa cidade operária em franco trabalho, diário e noturno, pela vida!

Ronaldo Teodoro é cientista político, professor do Instituto de Medicina Social da UERJ e diretor do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).

__

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

 

:: Leia outros artigos da Coluna: O SUS NO SEU COTIDIANO

1. Enfermagem, pilar da saúde 

2. Impacto covid nos profissionais de saúde  

3. Frente Pela Vida 

Edição: Elis Almeida