Rio de Janeiro

Coluna

Alguns pitacos sobre o futuro do Vasco

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Os sócios do Vasco aprovaram a venda de 70% da Sociedade Anônima do Futebol (a SAF) para a 777 Partners no último domingo (7) - Daniel Ramalho / CRVG
A realidade é muito mais dura e implacável do que eu e você pensamos

*Luiz Ferreira

Os sócios do Club de Regatas Vasco da Gama aprovaram a venda de 70% da Sociedade Anônima do Futebol (a SAF) para a 777 Partners no último domingo (7). O grupo estadunidense se comprometeu a investir 700 milhões de reais até o ano de 2026 e assumiu o controle do futebol masculino, do futebol feminino e das categorias de base além da enorme dívida do clube.

Essa reestruturação acabou se tornando vital para que o Vasco consiga sobreviver no sentido mais literal da palavra. Não é o caso de se defender a venda da SAF de todo e qualquer clube. Mas fato é que a situação atual do Trem Bala da Colina escancarava a necessidade de uma solução urgente depois de tantas gestões irresponsáveis e temerosas que simplesmente sugaram as finanças do clube.

Vale lembrar mais uma vez que este colunista não é especialista em economia e que existe gente muito mais capacitada para tratar desse tema.

E não se trata aqui de julgar se a venda da Sociedade Anônima do Futebol foi correta ou não. Conforme mencionado anteriormente, a situação do Vasco pedia uma solução urgente e profunda.

Mas confesso que o clima de “nossos problemas acabaram” me preocupa um pouco. Acho que não é preciso lembrar àqueles que estão lendo a coluna nesse momento que o Vasco agora precisa de pessoas que realizem um trabalho sério e profundo não somente no futebol, mas em todas as modalidades esportivas e principalmente na mentalidade de quem comandava as coisas.

Não preciso lembrar que os nomes que comandaram o Vasco nos últimos vinte anos simplesmente acabaram com qualquer chance do clube retomar o protagonismo de tempos passados. Nomes esses que espernearam e usaram meios lícitos e ilícitos para impedir a venda da SAF e o início de uma tentativa de reestruturação mais séria e profunda. Pessoas de mentalidade arcaica e mesquinha e que não querem “largar o osso” de jeito nenhum.

Só que ainda é pouco.

A entrada da 777 Partners no cenário é apenas o início desse processo. E o futuro a Deus pertence. Mas para que ele seja muito mais feliz com que o presente, é altamente necessário que as coisas caminhem como devem caminhar. Pagamento das dívidas, recuperação da mentalidade vencedora e reestruturação do clube (incluindo as instalações de São Januário) e das equipes de futebol como um todo (com a chegada de reforços para o time, profissionais capacitados para comissão técnica e gestão do clube). Como vocês podem perceber, não é algo que será resolvido com um estalar de dedos ou um passe de mágica.

A empolgação dos torcedores é plenamente compreensível. No entanto, a realidade é muito mais dura e implacável do que eu e você pensamos.

O momento do Vasco ainda é grave e exige concentração e trabalho sério.

Fora as pessoas que permanecem no clube (na parte social) e não estão lá muito satisfeitas com a perda do poder que tinham antes da chegada da 777 Partners e da venda da SAF.

Ao mesmo tempo, a empresa estadunidense não pode ser tratada como a única “Salvadora da Nau Vascaína”. Temos que lembrar que estamos falando de empresários. E assim como todo e qualquer empresário do mundo, o objetivo principal é gerar lucro. As vitórias e os títulos que podem (e devem) vir no futuro são consequência disso. Suspeitem do discurso mais ufanista e das bravatas. Ainda mais vindo de pessoas que lidam com dinheiro e tratam a vida através de uma planilha do Excel.

A única certeza que temos é a de que o Vasco deu o primeiro passo para recuperar o prestígio de outros tempos nem tão longínquos assim. O estrago feito por certas figuras foi grande. A venda da SAF é apenas o primeiro passo num processo que promete ser longo e desgastante.

Mais do que nunca, a nau vascaína precisa retomar o rumo. Sem bravatas e sem promessas de soluções fáceis e imediatas.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse