Rio de Janeiro

Coluna

A boa fase do Flamengo e o "efeito Dorival Júnior"

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Dorival Júnior vem fazendo um ótimo trabalho à frente do Flamengo - Marcelo Cortes / Flamengo
Dorival Júnior devolveu ao Fla a identidade perdida ao longo dos últimos meses

*Luiz Ferreira

Quem viu o Flamengo no primeiro semestre e vê o time em campo agora, pode até pensar que o elenco rubro-negro sofreu uma reformulação completa e que São Judas Tadeu lançou seu manto sobre o clube para livrá-lo de todas as maldições e todo tipo de energia ruim. Sim, o clima é completamente diferente daquele visto nos tempos de Paulo Sousa, mas o responsável pela ótima fase na temporada tem nome e sobrenome: Dorival Júnior.

As vitórias sobre Atlético-MG (pela Copa do Brasil) e Corinthians (pela Libertadores) já mostraram que o Flamengo vem jogando um futebol envolvente, organizado e que enche o coração do torcedor rubro-negro de esperanças. As comparações com o time comandado por Jorge Jesus são inevitáveis. Mas é preciso deixar bem claro que Dorival Júnior conseguiu devolver ao Fla a identidade perdida ao longo dos últimos meses.

Esse é o grande mérito do treinador.

O jogo contra o Corinthians, realizado na última terça-feira (2), na Neo Química Arena, chega a ser emblemático. Depois de um início irregular e nervoso, o Flamengo dominou completamente a partida e construiu o resultado a partir das grandes atuações de Arrascaeta e Everton Ribeiro no meio-campo e da fibra de David Luiz e Léo Pereira (quem diria hein?) na zaga rubro-negra. E ainda podemos falar das atuações de Filipe Luís, Rodinei (outro que vem surpreendendo), Gabigol, Pedro e do chileno Arturo Vidal.

E tudo isso parte do trabalho realizado por Dorival Júnior em duas frentes. A primeira tem relação direta com a forma como o Fla joga. Na prática, Dorival fez o simples: colocou os jogadores nas posições onde se sentem mais confortáveis. Isso potencializa o talento de cada um deles e os deixa à vontade para criar jogadas e partir na direção ao gol adversário. Além disso, o treinador conseguiu encontrar uma maneira de fazer com que Pedro e Gabigol jogassem juntos sem que o time perdesse consistência defensiva.

Em tempo: espero que vocês estejam se deliciando com o recital de bom futebol promovido por Everton Ribeiro e Arrascaeta. O primeiro se encontrou jogando mais recuado e o uruguaio já pode entrar no seleto grupo dos melhores jogadores estrangeiros que já atuaram no Brasil. Não só do Flamengo. Do Brasil. Falo com total tranquilidade.

E a segunda trata da gestão do grupo. Por mais que a direção fizesse suas lambanças, estava claro que Paulo Sousa destruiu toda e qualquer possibilidade de relacionamento com os jogadores. O clima pesado e as indiretas nas coletivas eram frequentes e irritantes. E isso sem falar nos problemas extracampo e as notícias que vazavam para a imprensa. O problema com Diego Alves e a maneira como toda a crise foi gerida retrata bem essa falta de tato do português.

Dorival Júnior fez exatamente o contrário.

Chamou os mais experientes, mostrou o que pretendia, uniu o grupo e pôs suas ideias em prática. O resultado está aí para todos verem. O Flamengo hoje se impõe sobre seus adversários na base da técnica e do futebol bem jogado. O time segue vivo no Brasileirão, na Copa do Brasil e na Libertadores e dá a sensação de ainda não ter alcançado todo o potencial, visto que Vidal e Everton Cebolinha estão entrando em forma aos poucos.

Tudo isso possibilita que jovens como João Gomes, Victor Hugo, Lázaro e outros entrem em campo sem pressão e mantenham o nível dos mais experientes. Finalmente vemos o Flamengo jogar com leveza e sem semblantes fechados. O “efeito Dorival Júnior”, a maneira como o treinador vem lidando com um grupo estrelado e que está mais do que acostumado a vencer jogos e levantar taças e seu jeito sereno explicam bem esse sucesso.

Pode ser que os títulos não venham em 2022. O futebol é traiçoeiro e costuma brincar com os nossos corações frequentemente. Mas a semente foi plantada. O Flamengo é hoje muito mais competitivo e muito mais forte com Dorival Júnior no banco de reservas.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse