Rio de Janeiro

Cultura popular

Projeto da UFRJ em parceria com moradores da Maré pesquisa a diversidade musical em favelas

Um dos frutos do projeto foi o bloco “Se benze que dá”, em que as letras falam sobre o direito de ir e vir dos moradores

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O projeto é uma parceria do laboratório de Etnomusicologia da UFRJ com o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) - Musicultura

“A música é um remédio para a alma”, diz o ditado popular. A escola de música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acredita tanto nisso que ultrapassou seus muros e criou o projeto de extensão “Musicultura!”. Em conjunto com moradores da Maré, na zona norte do Rio, o projeto estuda a diversidade musical produzida nas favelas cariocas.

O projeto é uma parceria do laboratório de Etnomusicologia da UFRJ com o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), e os moradores participantes não precisam ter experiência musical, nem estarem na graduação.

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Criado em 2003, o “Musicultura” já pesquisou diferentes temas ligados à música e à região, como a memória do samba no complexo da Maré, cujo os resultados não só romperam com habituais estereótipos ligados a favela, mas também possibilitaram a criação do bloco de carnaval “Se benze que dá”, no qual as letras das músicas falam sobre o direito de ir e vir dos moradores.

O coordenador do projeto, professor titular da UFRJ, Samuel Araújo, explica em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que o “Musicultura” tem como princípio a construção coletiva do conhecimento, que valoriza a experiência de todos.

“No Brasil, este trabalho é o primeiro a colocar Paulo Freire no centro da abordagem do conhecimento em música. Uma nova situação política que valoriza no campo acadêmico a pesquisa participativa, iniciativas que valorizam a experiência comunitária”, diz o professor.

 

 

Samuel conta que o grupo chegou a ter um laboratório de pesquisa dentro da Maré, mas que com o aumento da violência nas operações policiais no local os encontros passaram a acontecer apenas dentro da UFRJ e depois, com o início da pandemia de covid-19, passaram a ser remotos.

“Nós atuamos, inclusive, no interior de um prédio da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do estado. Era um local quase que abandonado e nós ressignificamos esse local instalando um laboratório acadêmico”, conta Araújo.

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A pesquisadora Mariluci Nascimento participou do Musicultura por mais de 10 anos. Ela cresceu na Maré, local em que sua família mora, e conta que, para ela, um dos temas mais significativos pesquisados pelo projeto foi o forró na região, por causa de sua descendência nordestina.

“A gente pesquisou sobre o mercado do forró, o quanto a Maré tem importância na cena de forró no Rio de Janeiro. Meus pais são nordestinos e isso é uma coisa que impacta muito, você estudar sobre sua origem”, finaliza Mariluci.

Desde sua criação, o projeto “Musicultura” já possibilitou a publicação de cerca de 15 artigos escritos pelo grupo, composto por acadêmicos da UFRJ e moradores da Maré, em periódicos e livros acadêmicos do Brasil e no exterior, além de dezenas de trabalhos expostos em eventos científicos.

Edição: Mariana Pitasse