POLÍTICA

Marina do MST quer mandato na Alerj para trabalhar pelo combate à fome no Rio de Janeiro

Para a dirigente do movimento, mulheres negras devem ser priorizadas nas políticas públicas sobre insegurança alimentar

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Marina do MST recebeu repórteres no Armazém do Campo RJ para coletiva de imprensa - Clívia Mesquita

O combate à fome, que já atinge 2,8 milhões de pessoas no estado do Rio de Janeiro, é a principal preocupação da dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Marina dos Santos. Visando a disputa para uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em outubro, ela é enfática ao opinar: "Não podemos esperar um programa de combate à fome".

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Nesta quarta-feira (29), a pré-candidata a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) recebeu veículos de comunicação popular para uma coletiva de imprensa no Armazém do Campo, na Lapa, região central do Rio de Janeiro, e falou sobre a necessidade de tornar o debate sobre a volta da fome a principal bandeira de luta das próximas eleições.

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"É preciso que imediatamente após a posse do Lula e Freixo, seja apresentado um programa emergencial de combate à fome no Brasil e no estado do Rio de Janeiro. Isso tem que estar na pauta de construção dos programas de governos. Tanto o Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, extinto em 2019] quanto outros conselhos que foram destituídos precisam retornar", disse Marina do MST, defendendo uma retomada da participação popular nas políticas públicas. 

Além de responder às perguntas dos repórteres e jornalistas presentes no Armazém do Campo nesta manhã (29), Marina refletiu sobre sua trajetória até se tornar a pré-candidata que pretende representar o MST na Alerj. Mulher sem terra, de origem camponesa, ela se comove quando é perguntada sobre o papel das mulheres no enfrentamento da fome.

"Eu vi e vivi que a fome tem cor, gênero e classe. As chefes de família mulheres, pretas, são ao mesmo tempo as principais atingidas e as sujeitas que se viram nos trinta para levar comida para casa. Em todos, todos, os lugares que fomos levar comida nas campanhas de solidariedade do MST, quem estava lá para receber a comida, a quentinha, organizar a distribuição, eram as mulheres negras. A prioridade das políticas que precisamos fazer é para esse público", enfatizou emocionada.

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"Minha luta nesses 33 anos que estou no MST também passa por esse lugar. Essa sujeita mulher que quer assumir essa tarefa como parlamentar não poderia ter outro projeto principal senão o combate à fome", concluiu.

Em uma iniciativa inédita, o MST lançou em 10 estados candidaturas ao legislativo. O Rio de Janeiro, segundo Marina, representa o enfrentamento direto ao bolsonarismo, visto que o atual presidente começou sua carreira política como vereador e consolidou sua base eleitoral na capital fluminense.

"Vamos vencer Bolsonaro nas urnas, mas o bolsonarismo vamos levar um tempo para combater", avalia a dirigente sobre a ideologia que o alçou à presidência da República. 

Experiência

Para Marina, a experiência concreta de luta e organização popular que o MST acumulou nos últimos 40 anos serão valiosas para a política institucional, especialmente neste momento de crise do país.

"Acreditamos que podemos oferecer algo para a sociedade nesses dez estados, especialmente no combate à fome, aproveitando as experiências do MST na luta pela democratização da terra, na organização dos assentamentos, cooperativas de produção, da produção em si, distribuição de alimentos. Transformar essas experiências em políticas públicas no legislativo", afirmou.

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Na coletiva com comunicadores populares, a pré-candidata reafirmou que além do combate à fome, seu projetos serão voltados para incentivar a produção de alimentos, com prioridade à produção de agroecologia.

"A fome é fruto do modelo agroexportador que é a base de sustentação política e econômica desse governo, que traz muitas consequências para a sociedade brasileira. Tanto do aumento da concentração da terra, dos bens da natureza, porque não produz comida e tem como prioridade a produção de commodities para exportação. E usa um alto índice de agrotóxicos no campo que contaminam a comida, o meio ambiente. Tudo isso reflete na diminuição da produção de comida, que chega no prato das pessoas", avalia

A atividade desta quarta (29) é parte de uma semana intensa na agenda de Marina, que lança oficialmente sua pré-campanha a deputada estadual nesta sexta-feira (1) durante o "Arraiá da Reforma Agrária", que acontece a partir de 12h, no Largo da Carioca, local de grande circulação de trabalhadores no centro do Rio e onde ocorre anualmente a tradicional Feira da Reforma Agrária Cícero Guedes. 

A festa vai contar com feira da agricultura urbana e camponesa, atividades culturais e debates. Segundo a organização, o final da programação será marcado por um grande ato político de lançamento da pré-campanha de Marina, com a presença de artistas e lideranças políticas do estado. 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse