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Juventude no esporte: o caminho está na base

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Seleção Brasileira Feminina venceu o Campeonato Sul-Americano Sub-17 no mês de março - Adriano Fontes / CBF
Infelizmente, ainda tem muita gente que enxerga esse investimento como "gasto"

*Luiz Ferreira

Quem acompanhou as principais mesas de debate após o fatídico 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014 ouviu muita gente falar de uma série mudanças necessárias que precisavam ser feitas no futebol brasileiro. No entanto, foram poucos os que falaram no trabalho de base, na captação de atletas e na potencialização dos talentos que surgiam ainda novos em cada campinho de grama ou de terra espalhado por esse Brasilzão de meu Deus.

Falou-se em mudanças de filosofia no alto rendimento, mas pouco se falou na fonte de talentos do velho e rude esporte bretão (que ainda é riquíssima).

Não é preciso ser nenhum gênio para descobrir que as principais potências esportivas do planeta são o que são porque investem na base.

Não se trata apenas de vencer competições Sub-15, Sub-17 ou Sub-20, mas de entender que o esporte precisa fazer parte do desenvolvimento de qualquer ser humano.

Vejam Rebeca Andrade, por exemplo. A ginasta medalhista de ouro no salto sobre o cavalo nos Jogos Olímpicos de Tóquio foi descoberta num projeto social em Guarulhos, na sua cidade natal. Isaquias Queiroz (medalhista de ouro na prova C-1000 da canoagem na mesma edição da Olimpíada) também foi descoberto cedo e teve o talento trabalhado até chegar onde chegou. As seleções masculina e feminina de vôlei possuem um trabalho forte na base e estão entre as melhores do mundo há pelo menos vinte anos. E por aí vai…

Voltando ao futebol, podemos falar da espanhola Alexia Putellas. A melhor jogadora do mundo na temporada passada esteve presente nas conquistas da Eurocopa Sub-17 em 2010 e 2011 e faz parte de quase todas as seleções de base. Como vocês estão vendo (e lendo), não é algo que demande resultados imediatos. Foram mais de dez anos de trabalho até que Putellas finalmente despontasse como a grande jogadora que é.

Só agora o Brasil está percebendo que investir na base e na juventude dá certo.

A nossa Seleção Feminina foi campeã sul-americana Sub-17 e Sub-20 em 2022 e revelou grandes talentos para a modalidade. Não é difícil imaginar jogadoras como Dudinha, Jhonson, Aline Gomes, Yaya, Tarciane, Gabi Barbieri, Rafa Levis, Lauren e várias outras brilhando num futuro não muito distante nos gramados brasileiros e internacionais.

O grande X da questão está em enxergar o investimento na juventude não apenas como uma maneira de se formar times fortes e de transformar o país em potência esportiva, mas de entender que isso é crucial na formação do cidadão, no cuidado com a saúde e na própria integração social das diferentes camadas da nossa sociedade. Infelizmente, ainda tem muita gente que enxerga esse investimento como “gasto” ou como “dinheiro jogado fora” por não entender (ou não querer entender) que o esporte salva vidas. Todas elas. Vivemos tempos sombrios e difíceis.

Imaginem o que seria de Rebeca Andrade, de Vinícius Júnior, de Alison dos Santos, de Isaquias Queiroz, de Serginho “Escadinha” e de mais uma série de grandes atletas brasileiros que brilham no exterior se o esporte não tivesse aparecido na vida de cada um deles. Imaginem o que seria de cada jovem sem esses projetos e sem a legislação que garante um mínimo de sustento para quem escolheu viver do esporte (legislação essa que ainda resiste bravamente apesar dos golpes sofridos nos últimos anos).

Um sábio da antiguidade já dizia: a salvação do país está nos jovens. Mas para que eles consigam se tornar adultos e realizar seus sonhos, precisamos criar meios para isso. É o básico.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse