Rio de Janeiro

Coluna

Precisamos falar sobre a qualidade da nossa arbitragem

Imagem de perfil do Colunistaesd
Os “homens do apito” estão se especializando em estragar o espetáculo com decisões estapafúrdias e uma vontade de querer ser a estrela do espetáculo - Rener Pinheiro / CBF
É impressionante como nossos árbitros parecem ignorar regras básicas do futebol

*Luiz Ferreira

É impossível falar em qualidade do futebol brasileiro sem falar da qualidade das nossas arbitragens. Qualquer discussão sobre estrutura de competições em todos os níveis e gêneros que não envolva a necessidade urgente de profissionalização e reciclagem das autoridades máximas dentro de campo não é nada além de palavras jogadas ao vento e pérolas jogadas aos porcos.

Quem acompanhou a rodada de final de semana do Brasileirão percebeu isso mais uma vez. Aliás, esse não é um assunto novo. Os “homens do apito” estão se especializando em estragar o espetáculo com decisões estapafúrdias e uma vontade de querer ser a estrela do espetáculo no lugar dos jogadores. Falo de quem está com o apito na boca e de quem comanda o VAR.

As decisões tomadas nos lances capitais de Corinthians x Goiás e Internacional x Botafogo (só para citar duas partidas) escancararam o problema. E a situação só piora mesmo com o recurso da tecnologia à disposição de todos. Pelo menos nas Séries A e B do Brasileirão. Isso porque está claro que só há um critério para a arbitragem brasileira: é não ter critério.

Não quero entrar de cabeça nas (muitas) polêmicas de cada jogo.

É verdade que vários lances que acontecem dentro de campo são puramente interpretativos e requerem concentração e frieza por parte de quem está apitando. Não é fácil ser árbitro de futebol. Nunca foi, aliás. Tomar uma decisão rápida com toda uma torcida xingando e ameaçando a integridade física e mental de tudo que é jeito é tarefa que poucos conseguiram realizar com um certo êxito.

Mas é impressionante como nossos árbitros parecem ignorar regras básicas do futebol. Ultimamente, os caras estão conseguindo errar até em marcação de lateral e tiro de meta! Coisas que qualquer um entende rapidamente. E o que mais irrita é que são erros repetidos em lances semelhantes. O estádio e os times que estão em campo são as únicas coisas que mudam. E o VAR, a ferramenta tecnológica que veio para diminuir os erros e tornar o jogo mais justo, se transformou em mais um meio para que árbitros ruins e/ou mal intencionados se tornem os protagonistas.

Conforme dito anteriormente, o critério é um só: não ter critério algum.

Renata Ruel, comentarista de arbitragem da ESPN resumiu bem a situação atual. O que eu e você estamos vendo nas partidas dos nossos times é o produto final de um processo que começou lá atrás, com a escolha de cada profissional, as orientações, o aprimoramento, estudo das regras e por aí vai. E está ficando cada vez mais claro que quem orienta cada árbitro não entende absolutamente porcaria nenhuma de futebol e da sua dinâmica.

Ano passado reclamamos horrores de Leonardo Gaciba. Em abril de 2022, o comando da Comissão de Arbitragem da CBF passou para as mãos de Wilson Luiz Semene. A única certeza que eu tenho é que nada melhorou. Pelo contrário. A sensação é que as coisas pioraram ainda mais e que os erros se tornaram ainda mais frequentes.

Só que os “homens do apito” não são os únicos culpados. Não podemos esquecer que o futebol (por mais apaixonante que seja) ainda celebra quem age na base da “malandragem”. Tem o jogador que tenta ludibriar a arbitragem cavando uma falta, fazendo a popular “cera” quando o resultado interessa ou adotando qualquer outra prática antidesportiva. E temos também o dirigente que gosta de fazer pressão e jogar a torcida contra os árbitros, tornando o ambiente ainda mais hostil do que seria. Estes são os mesmos que se calam quando suas equipes são favorecidas por este ou aquele erro.

Como estamos vendo, não há inocentes nessa história. Há culpados de sobra.

E quando se fala em profissionalização e valorização da arbitragem, também se fala na proteção de cada um que irá trilar o apito. Instruir, mostrar os erros e indicar os caminhos para que eles sejam corrigidos e dar condições de trabalho para que todos eles possam se dedicar unicamente ao futebol também faz parte desse processo.

Só que a CBF parece mais interessada em encher os cofres do que em zelar pela qualidade das competições que ela mesma organiza.

Antes de encerrar a coluna, vale lembrar que o mesmo Wilson Luiz Semene foi o comandante da arbitragem na Conmebol. E o que não faltava nos grandes jogos da Libertadores, da Copa Sul-Americana e das Eliminatórias da Copa do Mundo era polêmica.

Como cobrar qualidade de quem está com o apito na boca dentro de campo se quem deveria ser exemplo não consegue minimamente organizar uma escala ou passar as orientações corretas?

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse