Rio de Janeiro

OCUPAR E RESISTIR

No centro do Rio, moradores da Ocupação Manuel Congo criam restaurante Tuia Café

Estabelecimento é organizado para manter custos básicos do edifício que sedia a ocupação desde 2008

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Ocupação é uma das principais da cidade do Rio de Janeiro - Jéssica Rodrigues

A ocupação Manuel Congo, localizada no centro do Rio de Janeiro, é uma das mais conhecidas da cidade como exemplo de luta pela habitação popular. Com a liderança do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), 42 famílias ocuparam o antigo prédio abandonado do INSS há 14 anos e fundaram a ocupação. Para manter os custos básicos do edifício, a partir de setembro de 2021, os moradores inauguraram o restaurante “Tuia Café Cultural”.

O estabelecimento foi criado com o objetivo de cobrir as despesas de moradia das famílias da ocupação, que foi uma das poucas do Rio a conseguir a reforma do prédio pelo programa “Minha Casa Minha Vida Entidades”, em 2014.

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Lurdinha Lopes, uma das lideranças do Movimento Nacional de Luta por Moradia, explicou em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria da rede TVT com o Brasil de Fato, que a maioria das pessoas que vivem na ocupação são trabalhadores informais ou aposentados e não possuem renda suficiente para se manter na região central do Rio.

“Muitas das famílias antes moravam em comunidades, não pagavam algumas taxas. Como é que você suporta o aumento do custo de vida se não tiver uma estratégia coletiva? Desde que nós ocupamos separamos uma parte do espaço para nos desafiar a construir algo que gerasse trabalho e renda”, diz Lurdinha.

Elizete Napoleão também é membro do MNLM, e assim como Lurdinha, esteve na liderança da luta por moradia da ocupação Manuel Congo. Ela conta que o desafio da sustentabilidade no local é grande, e que o objetivo final é que o Tuia Café possa crescer ao ponto de empregar todas as 42 famílias que vivem na ocupação.

“Toda a nossa estrutura foi feita com mão de obra voluntária de companheiros, e é muito importante estarmos juntos nessa luta para manter nossas famílias e a ocupação. Nós ainda somos pequenos e estamos aprendendo com o trabalho, mas está dando certo e eu creio que em breve seremos um restaurante conhecido na Cinelândia”, fala Elizete.

O restaurante é mais que uma maneira de auxiliar nas contas da ocupação, o local é também espaço de encontro dos movimentos sociais, de debates políticos pelos direitos dos trabalhadores e eventos culturais.

“Nós temos na ocupação dos espaços vazios no campo e na cidade o maior instrumento de luta anticapitalista para garantir o acesso à moradia digna [...] A ocupação Manuel Congo não é um acaso, ela cumpre uma estratégia de luta por moradia e ela foi planejada pra isso”, finaliza Lurdinha.

O próximo passo do “Tuia Café Cultural” é começar a servir também café da manhã e expandir seu espaço para o andar de baixo, onde fica a casa de cultura da ocupação, que está sendo reformada. Com isso, os organizadores pretendem receber mais pessoas e realizar eventos culturais maiores. 

O restaurante funciona de segunda a sexta, das 11h30 às 15h, e fica localizado na rua Evaristo da Veiga, 17, no centro do Rio.

Edição: Mariana Pitasse