Rio de Janeiro

INTOLERÂNCIA

MP-RJ abre inquérito para apurar discurso de ódio do Pastor Felippe Valadão em show de Itaboraí

Religioso chamou praticantes de religião afro-brasileira de "endemoniados" e ameaçou fechamento de terreiros

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
intolerância religiosa
Pastor subiu ao palco no primeiro dia de comemorações pelos 189 anos da cidade e atacou outras religiões - Prefeitura de Itaboraí/Divulgação

O Ministério Público do Rio de Janeiro, por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva Núcleo Itaboraí, instaurou inquérito civil nesta segunda-feira (23) para apurar denúncia de intolerância religiosa e discurso de ódio durante um show do Pastor Felippe Valadão, na última quinta-feira (19), em Itaboraí, região metropolitana do estado.

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A noite, dedicada à música gospel, marcou o primeiro dia de shows em comemoração aos 189 anos de emancipação administrativa de Itaboraí. O evento foi promovido e custeado pela prefeitura local no centro da cidade.

Quando subiu ao palco, o pastor Felippe Valadão disse, ao microfone e para o público, que "o tempo de bagunça espiritual acabou", em referência, segundo ele, aos "endemoniados". O pastor afirmou ainda que era para todos se prepararem "para ver muito templo de umbanda fechado na cidade".

O MP informou que o procedimento, "que apura eventual discurso de ódio e preconceito contra religiões de matriz africana, praticando, tem tese, intolerância religiosa", está em fase de diligências.

Nas redes sociais, o desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) William Douglas defendeu o pastor, alegando que ele não é intolerante, mas foi "deselegante" e "rude nas palavras". Segundo ele, foram colocados despachos na frente do palco no dia anterior. Na postagem, Valadão agradeceu pela "lucidez".

Na última sexta-feira (20), a Prefeitura de Itaboraí foi pressionada a se posicionar sobre o caso. Em nota, ela afirmou que repudia qualquer manifestação de intolerância religiosa, mas que "declarações dos convidados e artistas para as apresentações são de inteira responsabilidade deles".

Em entrevista ao Brasil de Fato, a deputada estadual Mônica Francisco (Psol), que é vice-presidente da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça Cor Etnia Religião e Procedência Nacional da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), afirmou que o ato do pastor "deve ser alvo veemente de condenação por parte de amplos setores da sociedade".

"Direcionar palavras de xingamento a pessoas que professam religiões diferentes, demonizar pessoas por conta da sua profissão de fé ou aquilo que fazem é extremamente contrário aos preceitos bíblicos. A narrativa bíblica não orienta a violência contra quem quer que seja e essa atitude nos causa muita tristeza e indignação", disse Mônica Francisco.

Edição: Eduardo Miranda