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Caso Robinho: esporte não pode ser escudo para que atletas fujam das responsabilidades

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Robinho foi condenado a nove anos de prisão por crime sexual cometido na Itália em 2013 - Ivan Storti / Santos FC
Robinho é um criminoso condenado em todas as instâncias na Justiça italiana e precisa pagar por isso

*Por Luiz Ferreira 

É possível falar muitas coisas sobre a condenação de Robinho na última instância da Justiça italiana pelo crime de abuso sexual. Nove anos de prisão parece uma pena branda diante de tudo o que aconteceu em 2013 e pela postura do jogador, que tripudiou da vítima mais de uma vez e se disse "perseguido" quando trechos da sentença judicial foram revelados pela imprensa no final de 2020.

Não preciso e nem vou falar sobre o conteúdo do caso e sobre a maneira como o crime se desenrolou. Mas é urgentemente necessário colocar as coisas como elas devem ser.

Robinho cometeu um crime e deve pagar por ele.

E o futebol não pode ser nunca usado como escudo para que qualquer pessoa fuja de suas responsabilidades perante a lei e a sociedade. Ponto final. Precisamos parar com essa mania abominável de separar o atleta da pessoa. Isso não existe.

Foi a pessoa Robinho quem construiu uma carreira de sucesso no futebol brasileiro e do exterior. Foi a pessoa Robinho quem participou de duas Copas do Mundo e figurou entre os melhores de sua geração. E foi a pessoa Robinho quem construiu o patrimônio que permite uma vida sem muitas dificuldades hoje em dia.

No entanto, foi essa mesma pessoa Robinho quem cometeu um crime hediondo e estragou a vida de uma pessoa. E é essa mesma pessoa Robinho que deve responder por isso diante do que determina a lei. Ponto final.

Pessoalmente, eu duvido muito que Robinho cumpra a pena de nove anos de detenção aqui no Brasil por uma série de fatores que envolvem essa postura de "vítima de uma perseguição da imprensa feminista" e a babação em cima de uma série de políticos de caráter altamente questionável. Estes, por sua vez, já devem estar agindo nos bastidores para que a Justiça brasileira passe aquele famoso paninho nesse caso.

Como é bom ter 'amigos', não é mesmo?

É por isso que as coisas devem ser tratadas como elas devem ser. Sem mais nem menos. Doa a quem doer. Robinho precisa pagar pelo crime que cometeu. E o futebol não pode seguir deslocado da sociedade e nem se transformar em terreno de exceção para todos os crimes que constam no Código Penal.

Robinho é um criminoso condenado em todas as instâncias na Justiça italiana. E quem ainda insiste em defendê-lo depois de tudo o que foi revelado pela imprensa e pela investigação assina o termo de cúmplice desse crime de abuso sexual. Isso se estas mesmas pessoas não fazem coisa muito pior na intimidade. Geralmente aparecem falando em Deus na frente das câmeras e se transformam nos demônios que dizem combater por trás delas. Na prática, é como se o rosto e as palavras de Robinho estivessem impressos em cada um desses que ainda insistem em defender o indefensável.

Mais do que nunca, as coisas precisam ser tratadas como devem ser tratadas.

Chega de passar pano. Chega de transformar o futebol num terreno de exceção e de impunidade para quem pratica crimes. Chega desse pensamento hipócrita e machista defendido aos quatro ventos sobre a quantidade de álcool ingerido ou pelo comprimento da roupa de uma mulher. Chega de colocar a culpa na vítima.

E não me venham com papo de "segunda chance" porque vocês não acreditam nisso. Se assim fosse, não teríamos tanta gente falando que "bandido bom é bandido morto" e outros fazendo arminha com a mão logo depois de falar de Jesus Cristo e seus ensinamentos.

Eu realmente estou de saco cheio de ver um monte de hipócritas usando o futebol como salvo-conduto pra fazer e tolerar todo tipo de lambança. Seja jogador, jornalista e até treinador campeão brasileiro. Chega dessa normalizar o absurdo.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

Edição: Mariana Pitasse