Desigualdade

Aumento anual na riqueza dos bilionários atinge maior índice já registrado, diz Oxfam

Concentração de renda disparou durante a pandemia; revelação dos dados coincide com início do Fórum Econômico Mundial

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Fórum Econômico Mundial
Sessão virtual dentro do Fórum Econômico Mundial de 2022. Diretor executivo do FEM, Klaus Schwab, e seu presidente, Borge Brende, conversam com o primeiro-ministro da Índia Narendra Modi. - FABRICE COFFRINI / AFP

A concentração de renda atual do mundo é comparável aos índices registrados durante o "auge do imperialismo ocidental no início do século 20" e tem ligações com o histórico da escravidão. Esse foi o destaque do relatório da Oxfam "A Desigualdade Mata", pesquisa da ONG que traz dados sobre a acumulação de recursos e afirma que, ao mesmo tempo que 17 milhões de pessoas morreram de covid-19 e 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza, os dez homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas.

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A publicação coincide com o início do Fórum Econômico Mundial, uma reunião anual de líderes políticos, bilionários e representantes da sociedade civil que ocorria na na pequena cidade de Davos, na Suíça, e que atualmente acontece de maneira remota.

Nesta segunda-feira (17), começa o que a organização do evento descreve como uma série de apresentações "visionárias" sobre o estado do mundo. O evento conta com a participação de líderes europeus, presidentes, o secretário-geral da ONU e empresários como Bill Gates e Adar Poonawalla, diretor e herdeiro da fabricante de vacinas indiana Serum.

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Apontando para uma concentração de renda também registrada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Credit Suisse e Fórum Econômico Mundial, a Oxfam destaca que, desde o início da pandemia, um novo bilionário surgiu a cada 26 horas.

O clube dos 2.775 bilionários que existem no mundo aumentou seu patrimônio durante a pandemia mais do que nos últimos quatorze anos, diz a Oxfam. O patrimônio dos 10 homens mais ricos do mundo é maior do que a soma de 3,1 bilhões de pessoas mais pobres.

"Este é o maior aumento anual na riqueza bilionária desde o início dos registros. Isso está acontecendo em todos os continentes. Ele é possibilitado pela disparada dos preços do mercado de ações, uma explosão de entidades não regulamentadas, um aumento no poder de monopólio e na privatização, juntamente com a erosão das taxas e regulamentos de impostos corporativos individuais e dos direitos e salários dos trabalhadores. Todos auxiliados pela utilização do racismo como arma", afirma a pesquisa.

A pesquisa "A Desigualdade Mata" também comparou a viagem espacial de Jeff Bezos com o "momento icônico de Maria Antonieta 'que comam brioches'". O fundador da Amazon foi com seus amigos ao espaço em seu "foguete de luxo" enquanto "milhões morriam desnecessariamente debaixo dele porque não tinham acesso a vacinas ou não podiam comprar comida".


Oxfam comparou Jeff Bezos com Maria Antioneta / JOE RAEDLE / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP©

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Apartheid vacinal e propostas de soluções

O ano de 2021 foi marcado por um "vergonhoso apartheid vacinal" que derrubou a ideia que surgiu no início da pandemia de que todos "estávamos todos no mesmo barco", diz a ONG. Os imunizantes foram "foram desde o primeiro dia trancafiadas atrás de uma barreira de lucro privado e monopólio".

"Em vez de vacinar bilhões de pessoas em países de baixa e média renda, criamos bilionários das vacinas, à medida que as empresas farmacêuticas decidiam quem viveria e quem morreria", diz o texto.

Para enfrentar a situação, a Oxfam sugere uma série de medidas como a tributação imediata dos ganhos dos super-ricos, o investimento em um sistema de saúde universal e gratuito, a garantia de renda para todos, investimento em programas contra a violência contra mulheres, estabelecer limites para a concentração de mercado e garantir o direito à sindicalização para trabalhadores.

"Um imposto único de 99% sobre o aumento repentino nos lucros decorrentes da Covid-19, apenas entre os 10 homens mais ricos, geraria US$ 812 bilhões", destaca a Oxfam.

Edição: Arturo Hartmann