Alerta

Gripe e ômicron: menos letais mas muito transmissíveis, surtos aumentam a ocupação hospitalar

SUS volta a ser pressionado em momento de menor oferta de leitos após avanço da vacinação contra a covid

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Novos leitos estão sendo abertos em diversos estados para atender demanda por aumento de doenças respiratórias - ASSECOM/RN – Elisa Elsie

O aumento da ocupação de leitos nas unidades de terapia intensiva (UTI) no país é o destaque do Boletim do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na última sexta-feira (7). 

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De acordo com o órgão, a atenção a esse indicador é fundamental diante do avanço da variante ômicron do coronavírus e da epidemia de gripe, causada pelo vírus influenza H3N2.

Por um lado, a ômicron está associada a casos mais leves de covid-19 e se dissemina no momento em que o Brasil está com 67,7% da população com o esquema vacinal completo. 

Por outro, tanto a variante do coronavírus quanto a da influenza têm altos índices de transmissibilidade e estão se espalhando em momento de aumento de aglomerações por conta das festas de fim de ano e as férias de verão. 

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Além disso, os surtos acontecem em um momento em que, por conta do avanço da vacinação contra a covid-19 e a melhora do cenário epidemiológico, o sistema de saúde reduziu o número de vagas para pacientes graves. Por esse motivo, a Fiocruz explica que não é possível comparar as atuais taxas de ocupação hospitalar com a de outros momentos da pandemia. 

"Todos estes elementos contribuem para impactar negativamente a dinâmica da pandemia e a capacidade de enfrentamento, com impactos sobre a saúde da população e o sistema de saúde", avalia o boletim, ao alertar que estamos diante de um aumento abrupto de casos de ambos os vírus, podendo sobrecarregar os sistemas de saúde. 

A população já está sentindo isso na prática. 

Emergências e hospitais pressionados

Com a fundamental diferença da menor letalidade, profissionais do sistema de saúde relatam estarem vivendo um cenário similar aos momentos de pico da pandemia de covid no Brasil, com aumento da demanda por atendimento e de hospitalizações, além da perda de força de trabalho por conta das contaminações.

O boletim da Fiocruz mostra que quatro estados brasileiros estão com mais de 60% dos leitos ocupados, o que os posiciona em zona de alerta intermediário: Pernambuco (79%), Alagoas (68%), Pará (67%) e Tocantins (62%). 

Em Pernambuco, estado com a taxa mais elevada, oito pessoas morreram por influenza em 2022. Nos últimos 15 dias o estado abriu 378 novos leitos para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).  

A Fiocruz divulgou também os dados da ocupação hospitalar nas capitais brasileiras. Goiânia (97%) lidera, seguida empatada por Fortaleza (85%) e Maceió (85%), cidades que por estarem com mais de 80% dos leitos sendo usados, se encontram em zona de alerta crítico.

Camilo Santana (PT), governador do Ceará, anunciou pelo Twitter a ampliação de leitos de enfermaria e de UTI, além de novas normas para eventos no estado. Se forem realizados em ambientes abertos, podem reunir até 500 pessoas e, em lugares fechados, 250. Em qualquer um dos casos, é obrigatório apresentar o certificado de vacinação. 

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Ainda de acordo com o boletim, três capitais estão na zona de alerta intermediário em relação à ocupação de leitos. São elas Palmas (66%), Salvador (62%) e Belo Horizonte (73%).

Na capital baiana a prefeitura abriu, desde o fim do ano passado, 30 novos leitos e mais dois postos de saúde com oferta de testes. 

Em Alagoas o governo do estado também anunciou ampliações, depois de informar que as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) estão superlotadas.

Pelo Twitter, o governador Renan Filho (MDB) afirmou que serão instaladas quatro centrais especializadas de síndromes gripais nas UPAs e disponibilizados 360 novos leitos em hospitais.

Dirigir um carro em um nevoeiro

A Fiocruz destaca que "a situação de recrudescimento da pandemia, sem dados epidemiológicos disponíveis para apreciação do que está ocorrendo e estimativa de tendências, é gravíssima".

O órgão compara o enfrentamento de uma pandemia sem os dados básicos com "dirigir um carro em um nevoeiro, com pouca visibilidade e sem saber o que se pode encontrar adiante".

A inconstância e falta de disponibilidade de dados por parte do Ministério da Saúde se arrasta desde 29 de novembro de 2021. Em nota, a pasta diz que integração de dados deve ser normalizada em 15 de janeiro.

De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o número de casos diários de covid-19 aumentou aproximadamente 2000% apenas entre os dias 2 e 6 de janeiro.

 

Edição: Douglas Matos