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O Homem do ano

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A cada pesquisa eleitoral é difícil não acreditar que Lula será eleito no próximo ano e que a era Bolsonaro caminha para os seus últimos meses - Mauro Pimentel/AFP
Obrigado por nos acompanhar neste ano de 2021. Boas festas e fiquem bem! Até a volta!

Olá! 2021 foi o ano de Lula e ao que tudo indica, 2022 será também. Mas se depender dos delírios do general e do capitão, muita sujeira ainda vem pela frente. Nos acompanhe na última edição deste ano.

.Dez meses que valem uma década. A cada pesquisa eleitoral é difícil não acreditar que Lula será eleito no próximo ano e que a era Bolsonaro caminha para os seus últimos meses. As pesquisas Datafolha, IPEC e CNT indicam um cenário de vitória no primeiro turno e confirmam o aumento da reprovação de Bolsonaro e o voo de galinha da “terceira via”.

Com tanto voto sobrando, o que acrescentaria Geraldo Alckmin na chapa de Lula afinal? Ou, como resume Celso Rocha de Barros, quantas pessoas que resistem a votar no PT o fariam se o vice de Lula fosse alguém como Alckmin? Com esta aliança, Lula estaria avançando para as fileiras do centro e até desbaratando a terceira via, além de mostrar moderação para o mercado, sugerindo que em tempos de política intolerante é capaz de unir forças e de dialogar em nome da tão urgente estabilidade, sintetiza de forma crítica Esther Solano.

Uma ideia que enfrenta resistência dentro do próprio petismo: “Em uma campanha que precisa de aguerrimento, você vai botar um anestesista?” reclama o ex-presidente petista Rui Falcão, num coro que inclui Valério Arcary, do PSOL, que sugere apostar na mobilização das massas ao invés da conciliação.

O certo é que Lula já é o candidato dos mais pobres e dos mais preocupados com a economia, enquanto Bolsonaro, Ciro e Dória são candidaturas de seus seguidores, e nem chamando o Meirelles isso é capaz de mudar. Já Sérgio Moro sequer consegue garantir a fidelidade do seu novo partido, e sua candidatura continua restrita aos saudosos da Lava Jato.

.Facada nas costas. Com o ano eleitoral chegando, Bolsonaro “amigo do centrão” sai de cena, e volta ao palco o capitão do submundo. O sinal de alerta foi dado pelo público fiel nas redes sociais, que abandonou as lives de Bolsonaro por falta de “radicalidade”. A aposta agora é de que polarização, enquadramento do centrão e distribuição de benesses econômicas poderão reverter o péssimo desempenho nas pesquisas.

Para começar, enquanto o gen. Heleno alucinava sobre um possível atentado contra Bolsonaro, quem de fato levou a facada pelas costas foi o senador Fernando Bezerra (MDB-PE). O líder do governo no Senado e fiel escudeiro até o fim na CPI da Covid esperava ocupar a vaga no Tribunal de Contas, mas na hora H foi trocado por Antonio Anastasia (PSD-MG).

Algo parecido deve ocorrer com o senador Marcos Rogério (DEM-RO), outro aguerrido bolsonarista da CPI, mas cuja candidatura ao governo de Rondônia não conta com o apoio de Bolsonaro. Esse movimento do governo é arriscado e pode tornar irreversível a tendência de afastamento entre o centrão e Bolsonaro, aposta Gerson Camarotti.

Mas o mais provável é que, enquanto o Congresso puder abocanhar uma parte gorda do orçamento, o casamento de conveniências continue. Além disso, o capitão aposta que os R$ 400 de auxílio serão capazes de reverter o atual desgaste e levá-lo ao segundo turno.

E a PEC dos Precatórios aprovada no Congresso dará um drible no indesejado teto de gastos para o ano que vem, permitindo que o governo faça concessões seletivas para seu público fiel, a exemplo dos policiais federais agraciados com o natalzinho.

E, se a força dos argumentos falhar, o capitão ainda contará com os argumentos de força: com a PF perseguindo adversários políticos, seguranças agredindo jornalistas, com Augusto Aras engavetando investigações contra o governo até o fim de 2022, e com militares infiltrados no TSE questionando o resultado das eleições caso todo o resto dê errado.

.Prepara-te para a guerra. A mensagem de que a “paz” que o governo foi obrigado a engolir depois do 7 de setembro vai terminar para manter sua base coesa foi dada pelo general Heleno, ao abrir fogo contra o STF mais uma vez. O Supremo entrou na linha de tiro porque impediu outra artimanha de Bolsonaro para agradar sua base mais fiel, a proibição do passaporte vacinal.

Mais um indício de que, diante de uma nova fase da pandemia, Bolsonaro vai insistir no negacionismo, desmoralizando as vacinas e ressuscitando o falso tratamento precoce e o kit cloroquina. Entretanto, antes de preparar novos ataques aos ministros Luís Barroso e Alexandre de Moraes, Bolsonaro deveria se lembrar que Moraes não leva desaforo para casa, e que até mesmo na Polícia Federal há dissidências internas.

Alexandre de Moraes manteve aberto o inquérito sobre a live em que o capitão fez uma falsa associação entre a vacina contra a Covid-19 e o vírus HIV, ao contrário do engavetamento pedido pela PGR, e também deu prosseguimento ao inquérito das fake news, no qual a PF agora deverá tomar depoimento do próprio Bolsonaro sobre alegações de fraudes nas urnas eletrônica.

Há ainda um novo problema: os negócios do jovem empreendedor Jair Renan, que estão sob investigação da PF do Distrito Federal. Por fim, mesmo que a candidatura de Sérgio Moro não decole, ela causa problemas ao bolsonarismo, já que o ex-juíz flerta com a base evangélica, assedia a Igreja Universal e ganha simpatias até do “véio da Havan”.

.Bye bye Brasil. Em menos de uma década, o número de brasileiros que deixaram o país cresceu 122%. São 4,2 milhões de brasileiros vivendo no exterior, o maior êxodo de toda a história do país. Perguntados pelo DataFolha, outros 70 milhões de brasileiros tomariam o mesmo caminho. E motivos não faltam. Ou pior: as más notícias não param de chegar.

O consumo de carne vem caindo há três anos consecutivos no país e em 2021 atingirá o menor índice dos últimos 12 anos, resultado da inflação dos preços deste alimento. Não há sinais de que haverá retomada de crescimento na economia, e o Banco Central reconhece que está preocupado com a estabilidade dos preços, mas que não trabalha com nenhuma meta de crescimento econômico ou de geração de empregos para o próximo ano.

As receitas no setor de serviços voltaram a cair depois de uma minúscula recuperação. Em outra frente, as importações também aumentaram, reduzindo o superávit comercial. Puxando a lista de produtos importados estão o petróleo e seus derivados. E não é à toa: 56,7% das vendas de ativos da Petrobras ocorreram no governo Bolsonaro, aumentando a dependência externa no setor onde parecia que um dia seríamos autônomos.

Para os eleitores mais pobres, a saída para a economia passa pela eleição de Lula. Já para o mercado, desolado com o fracasso de Moro, restou uma última tentativa de se reconciliar com o Bolsonaro: apresentar um programa de mais austeridade fiscal, mais juros e mais privatizações, enquanto o agronegócio pede pressa para aprovar ainda este ano o projeto de lei que regulariza a grilagem, privatizando terras da União, e outro que acaba com o que sobrou das leis ambientais.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Quem tem fome não pode esperar. A socióloga Maria Vitória Benevides e o jurista Fábio Comparato convocam a população para ações urgentes, pontuais e solidárias contra a fome.

.O homem com água demais . A Agência Pública revela quem é o empresário que concentra as concessões de água do cerrado baiano.

.Infraero privatiza lucro e caminha para extinção. O The Intercept mostra como uma empresa lucrativa foi acumulando prejuízos com as privatizações de terminais.

.Professores relatam vigilância em aulas remotas na pandemia. A Agência Pública mostra como as aulas gravadas estão sendo utilizadas para perseguir professores por doutrinação.

.A história trágica do massacre contra o reitor Cancellier. Eduardo Ramos escreve como um lembrete vergonhoso e eterno, os nomes e os cargos dos principais envolvidos no episódio que levou a morte do Reitor Cancellier.

.Mia Couto: "Estamos à espera de que o Brasil regresse a essa plenitude que foi roubada". Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o escritor moçambicano fala sobre pandemia, literatura africana e fundamentalismos.

Obrigado por nos acompanhar neste ano de 2021. O Ponto vai entrar num pequeno recesso e retorna na segunda semana de janeiro de 2022. Boas festas e fiquem bem! Até a volta!

Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Leandro Melito