Rio de Janeiro

Coluna

As verdadeiras personalidades do ano no mundo do esporte

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Isaquias Queiroz e Rebeca Andrade foram eleitos os atletas do ano pelo COB em cerimônia realizada em Aracaju - Gaspar Nobre / COB
Rebeca e Isaquias quebraram barreiras, superaram lesões e uma gama quase infinita de dificuldades

*Luiz Ferreira

O momento do país é tão difícil e tão complicado que eu não censuro e nem critico quem tenha vontade de chutar o balde. Me perdoem a sinceridade, mas é tanta decepção, tanta notícia ruim, tanto retrocesso que fico pensando se realmente vale a pena continuar lutando.

Só que o esporte (este lindo) sempre aparece para nos mostrar que sim, vale a pena seguir na briga para que as coisas melhores e para que todos tenham seu lugar ao sol. Na última quarta-feira (7), na belíssima Aracaju, os principais atletas de 2021 foram agraciados com o Prêmio Brasil Olímpico em cada uma das suas modalidades.

Destaco dois deles: Rebeca Andrade e Isaquias Queiroz.

Os vencedores do prêmio de atleta do ano de acordo com o Comitê Olímpico do Brasil não são tema desta coluna por acaso. Rebeca e Isaquias quebraram barreiras, superaram lesões e uma gama quase infinita de dificuldades, enfrentaram o preconceito e se jogaram de corpo e alma naquilo que amam: o esporte.

Ver os dois com medalhas olímpicas no peito e o brilho nos olhos é, sem dúvida, um alento imenso diante desse mar de notícias ruins (e falsas) que já faz parte do nosso cotidiano. Antes que eu me esqueça, a ideia aqui passa bem longe do discurso meloso e demagogo da “superação” e de uma “romantização” do sofrimento. A questão aqui é muito mais simples.

Vale a pena sim continuar lutando pelo que é certo. Vale a pena sim lutar pela justiça social. E vale a pena sim lutar para que esse país funcione.

Rebeca Andrade e Isaquias Queiroz despontaram para o esporte através de projetos sociais e tiveram suas primeiras oportunidades no ginásio e nas águas concedidas por pessoas que viram neles algo de especial. Um brilho nos olhos que pode ser facilmente notado em muitas crianças que os têm como referência e ídolos. Nunca nesse país a ginástica artística e a canoagem ganhou tanto espaço na imprensa depois do que esses dois fizeram nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

É o mesmo brilho nos olhos de quem vê um Gabigol, um Neymar, uma Marta jogando futebol. De quem vê uma Fê Garay arrasando no vôlei. Ou de quem ainda se lembra de uma Janeth empilhando cestas no basquete.

E a lição que Rebeca Andrade e Isaquias Queiroz nos deixam é essa. A do brilho nos olhos. As verdadeiras personalidades do ano no Brasil e no mundo (que se dane a Time) conseguiram nos arrancar esse brilho (e algumas lágrimas) com suas conquistas, seu jeito simples e sua simpatia.

Mas talvez a principal conquista deles tenha sido a necessidade de se continuar lutando para que nossos filhos tenham mais oportunidades do que nós tivemos e para que todos nós não percamos o nosso brilho nos olhos.

Isso é o que mais irrita essa gente que quer destruir esse país. Eles não toleram o sorriso de pessoas como Rebeca Andrade e Isaquias Queiroz. Ambos gente como a gente.

Impossível não se lembrar de Nelson Mandela:

“O esporte tem o poder de transformar o mundo. Tem o poder de inspirar. Tem o poder de unir as pessoas de um modo que poucas coisas podem fazer. Fala com a juventude em uma língua que eles conseguem entender. Esportes podem criar esperança onde antes só havia desespero. É mais poderoso que governos no que diz respeito a quebrar barreiras raciais. Ri na cara de todo o tipo de discriminação.”

Que assim, seja, Madiba. Que assim seja.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

Edição: Mariana Pitasse