Greve global

Trabalhadores da Amazon em vinte países fazem greve durante a Black Friday

Da África do Sul à Itália, trabalhadores devem exigir melhoria nos salários e condições de trabalho

Tradução: Ana Paula Rocha

Brasil de Fato | São Paulo* |

Ouça o áudio:

Protesto contra a Amazon nos EUA ainda no final de 2020, em protesto contra a falta de cuidados da empresa em relação à Covid. No cartaz: "a Amazon machuca o povo trabalhador" - Kena Betancur/AFP

Nesta sexta-feira (26), uma série de greves e protestos de trabalhadores da Amazon ocorreu em ao menos 20 países como parte do dia de ação coordenado por meio da coalizão global Make Amazon Pay (Faça a Amazon Pagar, em português). 

Continua após publicidade

A “Black Friday”, dia após o feriado de Thanksgiving nos Estados Unidos, é o maior evento de vendas do ano para a trilionária empresa varejista online, junto com a Cyber Monday, evento que ocorre três dias depois. 

As demandas dos trabalhadores incluem melhorias nas condições dos locais de trabalho, seguro-desemprego, respeito ao direito de sindicalização e operações ambientalmente mais sustentáveis.

:: Caso de fraude contra Elizabeth Holmes expõe fraturas de endeusamento de empresários nos EUA

O dia internacional de ação ressalta o descomunal papel que a Amazon tem na economia global, com desafios igualmente gigantes enfrentados pelo 1,3 milhão de funcionários espalhados por quase todos os continentes. 

O período entre a Black Friday e o Natal traz não apenas picos de receita de vendas para a empresa como também grande aumento nos casos de acidentes de trabalho entre os empregados. 

O volume e ritmo de trabalho vem com maiores cotas e maiores jornadas para os funcionários do transporte e logística.  A coalizão de trabalhadores diz que a empresa também ignora protocolos básicos de segurança para assim minimizar custos e maximizar lucros. 

“A Amazon pode até estar em todos os lugares, mas nós também estamos”

“As ações deste ano foram pensadas para ser muito maiores, com greves e protestos planejados em inúmeras cidades em pelo menos 20 países por todos os continentes habitados do planeta”, afirmou em comunicado à imprensa a coalizão Make Amazon Pay

“O dia global de ação reunirá ativistas de diferentes lutas – trabalhista, ambiental, tributária, dados, privacidade, antimonopólio – enquanto sindicalistas, ativistas da sociedade civil e ambientalistas realizam ações conjuntas”.

Trabalhadores ligados ao Sindicato de Transportes em Istambul, Turquia, protestam em frente a sede da Amazon

No Camboja, ex-funcionários de uma fábrica têxtil que fechou em março de 2020 planejaram ato para exigir 3,6 milhões de dólares em seguro-desemprego. 

Na Itália, 15 mil entregadores parariam por 24 horas por demandas de redução de carga de trabalho e estabelecimento de horário semanal, bônus por desempenho e medidas de privacidade para vigilância e coleta de dados. Em setembro, trabalhadores sindicalizados dos galpões de armazenamento de produtos daquele país conseguiram seu primeiro acordo direto com a Amazon após realizarem greve de 24 horas. 

No Reino Unido, trabalhadores dos armazéns, da área de tecnologia e entregadores exigirão que a Amazon reconheça os sindicatos. Ainda que os trabalhadores britânicos tenham assegurado seu direito à sindicalização, a Amazon tem se recusado a negociar com qualquer sindicato, incluindo o GMB, que possui 600 mil membros associados.

Um exemplo da amplitude de ativistas envolvidos nos protestos pôde ser visto com a participação do grupo ambientalista Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção), que realizou protestos em diversas partes do país. Na parte da manhã, por exemplo, protestantes fizeram bloqueios na parte externa dos armazéns da Amazon na região portuária de Tilbury, no condado de Essex, próximo a Londres.


No banner laranja: "A Black Friday explora as pessoas e o planeta"; no foguete dirigido por uma alegoria de Jeff Bezes, dono da empresa: "Para a extinção e além // Crime da Amazon" / Reprodução/Twitter

De acordo com o site local Essex Live, a Amazon local soltou comunicado em que, em um dos trechos, aponta os benefícios que traz à comunidade: "Isso inclui nosso compromisso de sermos uma empresa de emissão de carbono net zero até 2040 - 10 anos antes dos Acordos de Paris - provendo um excelente salário e benefícios em um ambiente de trabalho seguro de moderno, e ao apoiar as dezenas de milhares de pequenos comerciantes britânicos que vendem em nossa loja."

Alcance dos protestos 

Atos durante a Black Friday também estão sendo organizados nos Estados Unidos, Canadá, Argentina, México, Brasil, Polônia, Alemanha, Eslováquia, Áustria, Luxemburgo, Espanha, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia e Índia. 

“A Amazon pode até estar em todos os lugares, mas nós também estamos”, disse Casper Gelderblom, coordenador do Make Amazon Pay na organização Progressive International.

“Em cada conexão dessa cadeia de práticas abusivas, estamos lutando para fazer com que a Amazon pague. Em todo o mundo no dia 26 de novembro de 2021, na Black Friday, trabalhadores e ativistas se erguerão em greves, protestos e ações para fazer a Amazon pagar.

Reunião de 70 sindicatos, grupos ambientalistas, órgãos fiscalizadores sem fins lucrativos e organizações de base, a coalizão Make Amazon Pay foi lançada na Black Friday de 2020.

É liderada pelo sindicato UNI Global (com 150 afiliados representando 20 milhões de trabalhadores por todo o mundo) e Progressive International, que agrega organizações ativistas e movimentos de esquerda. 

*Com informações do People Dispatch

Edição: Arturo Hartmann