Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO

Caravana do CPERS identifica situação de abandono nas escolas estaduais do RS

Dirigentes do sindicato visitam escolas para ver de perto a realidade e reforçar mobilização por reposição salarial

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Cleusa Terezinha, diretora da escola Dr. Hector Acosta, de Santana do Livramento, mostra uma das salas interditadas há três anos por infiltração - Foto: Divulgação CPERS

Várias escolas da rede pública estadual do Rio Grande do Sul encontram-se em situação de abandono. Aulas na penumbra, teto prestes a desabar, risco de curto circuito, muros desabando, mofo, infiltrações e insegurança. Esta é a avaliação do Centro dos Professores do Estado do RS (CPERS/Sindicato) em um levantamento divulgado nesta terça-feira (23), resultado parcial de uma caravana que o sindicato realiza desde o dia 11 de novembro por diversas regiões do estado.

Até o momento, os dirigentes do sindicato estiveram em mais de 120 escolas estaduais, em 30 cidades nas nove regiões funcionais do estado. A caravana segue até o dia 26, tendo como objetivo, além de mostrar a realidade vivenciada por alunos e trabalhadores, reforçar a mobilização por reposição salarial da categoria dos professores e funcionários da escolas, que estão há sete anos sem reajuste.

O sindicato destaca que, enquanto o governo estadual afirma que são poucas as escolas que, por falta de condições, não retomaram as aulas presenciais, a realidade é outra. Exemplos de abandono se multiplicaram conforme a Caravana progrediu, revelando que inúmeras instituições não possuem as condições mínimas para o retorno determinado pelo governador Eduardo Leite (PSDB).

“Estamos percorrendo o estado junto à nossa base para provar ao governador e à Seduc que o mundo de fantasia deles não é real. As escolas estão sucateadas e nossos salários defasados”, afirma a presidente do Sindicato, Helenir Aguiar Schürer.

“Presenciamos escolas onde aluno tem aula sem luz, escola fechada há dois anos por princípio de incêndio, escola com salas interditadas pois quando chove as paredes dão choque e escola com o muro caindo. A gestão Eduardo Leite não avança, ela retrocede”, critica a dirigente.

Exemplos de descaso com e educação pública


Teto da escola Pedro Schuler ameaça desabar / Foto: Divulgação CPERS

As visitas às escolas são feitas por diretores do sindicato, acompanhados por representantes dos núcleos, que fiscalizam as condições e dialogam sobre a campanha salarial com os trabalhadores. A caravana constatou, por exemplo, que no município de Portão (RS), a escola Pedro Schuler tem o teto da cozinha, do refeitório e do laboratório de informática está completamente comprometido, ameaçando desabar. O setor de obras da Seduc, esteve na instituição para verificar o problema, mas sem apresentar previsão para o conserto. “Apenas nos disseram que a escola está na fila das obras a serem feitas, que há situações mais urgentes e que o governo não tem dinheiro”, relata a diretora Jurandara Coletti.

No município de Santana do Livramento, que a escola Dr. Hector Acosta atende 890 alunos e segue em revezamento, com quatro das maiores salas interditadas há três anos por infiltração. A diretora, Cleusa Terezinha Har Pereira, afirma que para realocar os alunos, a escola utiliza salas menores, que não têm capacidade para receber a totalidade de estudantes. “Tivemos que interditar as salas pelos problemas elétricos e de infiltração. Estava perigoso para os alunos. Segundo a CRE não há empresas interessadas na obra, está tudo trancado e não temos mais retorno.”

Em Guaíba, a escola Nossa Senhora do Livramento convive há quase seis anos com obras inacabadas. A instituição pegou fogo em 22 de dezembro de 2016 e a construção do novo prédio, iniciada em fevereiro de 2018, foi interrompida em setembro do mesmo ano, por falta de pagamento da Seduc à empresa contratada. Dessa forma, a escola faz revezamento em três turnos durante o dia e os estudantes vão somente três dias da semana presencialmente.

A diretora Marisa Kaller dos Santos conta que para não danificar alguns materiais, ela mesma está finalizando a obra de algumas salas com recursos da escola. “Alguns ambientes eu mesma estou tocando a obra, como a biblioteca. Não consigo ver os materiais se danificando e não fazer nada. É muito triste saber que já podíamos estar devidamente instalados e não estamos. São poucos os reparos que faltam, como piso, porta e instalação da rede elétrica. A Seduc só sabe dizer que o processo está em andamento, mas nada acontece”, desabafa.

No município de Tapera, uma das situações mais preocupantes foi a verificada na escola Dionísio Lothário Chassot, que aguarda há mais de dez anos pela reforma elétrica geral em suas instalações. Equipes já passaram pela escola sem que o problema fosse resolvido. Para deixar a escola em condições de uso são realizadas manutenções com eletricistas, que sempre orientam a ter cautela quanto ao uso de equipamentos elétricos.

“A situação é muito preocupante, pois o perigo é eminente. Por precaução, a escola precisa manter desligados equipamentos como ar-condicionado e ventiladores, o que acaba provocando desconforto e dificuldade para trabalhar e estudar”, avaliou o vice-presidente do CPERS, Alex Saratt, que esteve nesta visita.


Buracos e rachaduras no chão da escola Tanac, em Montenegro, que também tem banheiros e escadas de acesso gravemente prejudicados / Foto: Divulgação CPERS

Somam-se os cortes de direitos

Em Alegrete, a diretora da escola Arthur Hormain, Angelina Kulmann, relata uma situação comum em outras partes do estado: a dificuldade frente aos sete anos sem aumento, agravada pela retirada de direitos como o adicional do local de exercício, antigo difícil acesso, que fez minguar ainda mais os recursos das educadoras e dos educadores. “Não tivemos a oportunidade de dialogar, mesmo estando há 32 anos nesta escola. Educadores(as) estão tendo que organizar caronas solidárias para conseguir vir trabalhar”, conta.

Para a funcionária Elisa Barros Custódio, da escola Ecilda Alves Paim, também de Alegrete, a retirada representa uma perda de mais de R$ 200. “Perder dinheiro com tudo cada vez mais caro tem um impacto muito grande na nossa vida”, lamenta.

A presidenta do CPERS ressalta o fato de ser a primeira vez que um governo altera estes critérios sem dialogar com a categoria. “O governo Leite se mostra autoritário e cruel. O sindicato sempre foi chamado para este diálogo, mas o governador retirou direitos no auge da pandemia, sem ter conversado com ninguém” alerta, ressaltando que o sindicato está reunindo estas informações para apresentar ao Executivo e rediscutir os critérios.

Resumo das situações até então

Porto Alegre

-EEEF Luiz de Azambuja Soares
Problemas na rede elétrica, muro com risco de desabamento e paredes com infiltrações.

-EEEF Dr. José Carlos Ferreira
Prédio com risco de desabamento, infiltrações nas paredes, risco de desabamento da fachada, falta de funcionários para a limpeza e não há vice direção.
Vistoria e licitação feitas em 2019. A obra foi orçada em R$ 120 mil e segue no setor de obras do governo.

-EEEF Onofre Pires
Escola tinha 60% de Difícil e o governo retirou.
Para chegar na escola o ônibus para longe e não há segurança.

-EEEF Imperatriz Leopoldina
Sob ameaça de fechamento desde 2019, ano em que foi excluído o turno da manhã. Recentemente a instituição foi avisada pela secretária estadual de educação, Raquel Teixeira sobre a possibilidade de o terreno da escola ser vendido para uma instituição privada de ensino.

-EEEF Nossa Senhora da Conceição
Foi arrombada quatro vezes. Somente neste ano foram 12 arrombamentos. No último, levaram até o portão. Em junho, roubaram parte da fiação e desde então a instituição está sem luz. Os alunos estão tendo aula na penumbra. Não há merenda, pois roubaram a válvula de gás.

-EEEM Visconde do Rio Grande
Não há luz elétrica. Fios de cobre e disjuntores foram roubados. Quatro salas de aulas estão interditadas, telhado está quebrado e há infiltrações.

-E.E.F. Santa Rita de Cássia
Fiação elétrica que foi furtada. A instituição segue com aulas remotas, entrega e devolutivas de atividades impressas.

-EEEF Venezuela
Telhado quebrado, infiltrações e vazamentos causam mofo e rachaduras nas paredes. Há 12 salas interditadas. O auditório abriga duas turmas. Por falta de espaço adequado, os livros ficam no corredor. Salas pequenas impedem o distanciamento e faltam funcionários para fazer a merenda.
Para os reparos, o orçamento gira em torno de R$ 100 mil. A escola aguarda há um ano e meio o retorno da Secretaria de Obras.

-ETE José Feijó
Há apenas uma funcionária para limpeza dos ambientes.

-EEEF Júlio Brunelli
Funcionários insuficientes para garantir a limpeza dos ambientes.

-EEEM Mariz e Barros
Funcionários insuficientes para garantir a limpeza dos ambientes.

Uruguaiana

–EEEF Hermeto José Pinto Bermudez
Está há um ano sem luz. O quarto projeto elaborado pela Secretaria de Obras do Estado ser rejeitado.

-EEEF Flores da Cunha
Interditada, a escola aguarda há dois anos a entrega da obra de sua sede que teve um princípio de incêndio em 2019. Atualmente, atende nas dependências de outra instituição, a EEEM Dr. João Fagundes.

Montenegro

-Colégio Doutor Paulo Ribeiro Campos
Há dois anos sem energia elétrica, consequência de cinco invasões. São 13 salas de aula, o laboratório de informática, o refeitório e a biblioteca sem luz, impedindo o retorno presencial às aulas.

-EEEF Tanac
Um amplo espaço que poderia abrigar o 8º e 9º ano está totalmente comprometido, principalmente o chão que possui enormes buracos, rachaduras extensas e desnível.
Caíram os azulejos das paredes e das pias dos banheiros e do refeitório.
Uma das escadas de acesso à instituição está desmoronando.

-EET São João Batista
Falta professor de Espanhol desde o início do ano letivo e de Matemática para as aulas do programa Aprende Mais.

-EEEF Delfina Diaz Ferraz
A cerca de ferro está caída há vários anos, o refeitório e a cozinha, que fica no porão, estão em péssimas condições.

-EEEF Adelaide de Sá Brito
O muro caiu e até hoje não houve retorno sobre o conserto. Número insuficiente de funcionários(as) para fazer a limpeza dos ambientes. No momento, apenas uma profissional, que é cedida de outra escola, faz a higienização.

Muitos Capões

-EEEM D. Frei Vital de Oliveira
Há dois anos, a escola espera pela reforma do telhado. Quatro salas de aula estão interditadas.

Santa Maria

–CE Coronel Pilar
Problemas no sistema de distribuição de energia elétrica. Não há como ligar ventilador e ar condicionado. Goteiras causam infiltração e umidade, que geram mofo pelas paredes. Quando chove, os alunos têm aulas na biblioteca e em outros espaços.

-IE Olavo Bilac
No ano passado, o local sofreu cinco arrombamentos. Falta de funcionários para a limpeza e merendeira.

Viamão

-EEEF Carlos Chagas
Sofre ameaça de municipalização.

São Leopoldo

-EEEM Olindo Flores da Silva
Alagamento das salas e do pátio instituição. Portas, armários e demais estruturas estão danificados por conta da água que entra em toda a escola.
Desde 2019, a biblioteca está fechada devido à falta de bibliotecário. A instituição possui um extenso terreno que anteriormente abrigava as quadras de esporte. Atualmente o local está coberto de mato e com a pouca estrutura que possuía deteriorada.

-EEEF Pedro Schuler
O teto da cozinha, do refeitório e do laboratório de informática está completamente comprometido, ameaçando desabar.

Guaíba

-EEEF Nossa Senhora do Livramento
Há quase seis anos está com obras inacabadas. A instituição pegou fogo em 22 de dezembro de 2016 e a construção do novo prédio, iniciada em fevereiro de 2018, foi interrompida em setembro do mesmo ano, por falta de pagamento da Seduc à empresa contratada. Para suprir a demanda foi improvisada uma sala de aula no refeitório da instituição.

-EEEM Izaura Ibanez Paiva
A escola possui dois prédios distintos, atende a 480 alunos, mas tem somente dois banheiros em um dos prédios.
A escola também perdeu o adicional de local de exercício, de 20% para 5%, sendo que o ônibus na região circula somente até às 20h e as aulas noturnas vão até às 22h45, além das brigas de gangues com tiroteios que são frequentes no bairro.

-IEE Gomes Jardim
Aguarda há 10 anos pela cobertura da quadra de esportes.

Santa Cruz

-EEEF Bruno Agnes
Muro da instituição está condenado há mais de dois anos. Um dos prédios, a brizoleta, está deteriorada e ameaça desmoronar.

-EEEM José Mânica
Em 2012, o prédio que abrigava as salas de aula teve que ser demolido por rachaduras profundas que comprometiam sua estrutura. No ano seguinte, quatro contêineres foram transformados em salas de aula. A estrutura é muito frágil e as paredes são de gesso acartonado.
O refeitório da escola está improvisado em um outro contêiner, alugado em 2016. Os contêiner tinham validade até 2018. Mas já se passaram três anos e nada foi feito. A cada ano, o prédio vai entortando e cedendo.
Das sete salas, três tiveram que ser ocupadas para abrigar a sala de recursos, biblioteca, informática, supervisão e orientação. Destas, apenas quatro são, de fato, salas de aula.

Taquara

–EEEM Dirceu Marilio Martins
Aguarda troca da fiação elétrica, que possui 40 anos, conserto no telhado e está sem supervisor escolar há dois anos, sem orientador e bibliotecário.

-EEEM Felipe Marx
Um dos prédios está com a estrutura totalmente comprometida. As seis salas do local estão interditadas, pois há extensas rachaduras que chegam a expor as vigas e o piso das salas de aula está afundando. Desde 2015, a escola aguarda a vistoria da Seduc.

-EEEM Willibaldo Bernardo Samrsla-CIEP
A caixa d’água há anos ameaça despencar.

Três Passos

-IEE Fagundes Varela
Goteiras, buracos no telhado e mofo nas paredes.

Tapera

-EEEM Dionísio Lothário Chassot
Há mais de dez anos, a instituição aguarda pela reforma elétrica geral.

Santana do Livramento

-EEEM Dr. Hector Acosta
Quatro das maiores salas de aula estão interditadas há três anos devido a infiltração e problemas elétricos.

-EEEM Professor Chaves
Teve o turno da manhã fechado.

Rosário do Sul

-EEEM Plácido de Castro
Muro está desabando

* Com informações do CPERS Sindicato


:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::

SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS

Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

Edição: Marcelo Ferreira