Rio de Janeiro

Coluna

Dia dos Professores: Paulo Freire, Cuba, Educação e Libertação!

Imagem de perfil do Colunistaesd
Numa escola de Havana
A base da sociedade cubana é a educação. Sem ela, Cuba seria como qualquer outro país da região. Na foto, cena do filme cubano "Numa escola em Havana" (Conducta, 2014), dirigido por Ernesto Daranas - Divulgação
Freire e José Martí, patrono da Revolução Cubana, lutaram por pedagogias emancipatórias

Carmen Diniz*

"Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica" (Paulo Freire)

Neste 2021, ano do centenário do patrono da Educação Brasileira, mestre Paulo Freire, chegamos a este 15 de outubro – Dia do Professor – aos trancos e barrancos no caos da pandemia e do pandemônio.

Uma vez que esse texto reflete as bases do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba, é inevitável que se inclua aqui a educação cubana. Não há como entender a Revolução Cubana sem a contribuição seminal da educação. Essencial ao país, foi a educação que alterou profundamente a realidade cubana a partir da Revolução em Cuba e que tirou a população da inércia em que vivia.  

Antes dela, até 1958, o país contava com um milhão de analfabetos (além de outro tanto de analfabetos funcionais), meio milhão de crianças sem escola, um ensino fundamental que só chegava à metade da população e 10 mil professores desempregados. Tudo isso em uma população de 6,5 milhões de habitantes. Triste quadro presente ainda nos países neocolonizados da América Latina.

É sabido que a Revolução Cubana conseguiu transformar radicalmente essa situação, especialmente com a Campanha Nacional de Alfabetização que em somente um ano (1961) declarou o país como Território Livre do Analfabetismo.

Aqui não se está enaltecendo Cuba em prejuízo de nossa realidade, mas sim para demonstrar a importância dos profissionais da educação brasileira que têm como seu patrono um gigante como Paulo Freire e de quem temos o maior orgulho. Ele, um admirador da Revolução Cubana – como não poderia deixar de ser.

Paulo Freire sempre disse que criar um projeto de sociedade é diferente de simplesmente alfabetizar. Não é ensinar a ler senão contribuir para que o indivíduo consiga "ler o mundo", se autotransformando e se conscientizando. A partir daí, a transformação social será concomitante e complementar como autodeterminação dos povos. O indivíduo passa a ter a leitura política da realidade.

Paulo Freire e José Martí, o patrono da Revolução Cubana, apesar de não terem sido contemporâneos, coincidem em muitas coisas: ambos desmontam o mito do eurocentrismo e lutam pela descolonização do pensamento, por pedagogias emancipatórias e reconhecimento das ideias do nosso subcontinente.

Cuba comprovou que é possível desenvolver uma educação com alto nível de qualidade – mesmo com precários investimentos. Por isso trazemos a educação cubana ao texto. Não para fazer uma comparação com nossa realidade e reforçar nosso permanente "complexo de vira-latas", como dizia o escritor, mas sim para ressaltar a possibilidade.  

A base da sociedade cubana é a educação. Sem ela, Cuba seria como qualquer outro país da região. Colonizado e explorado pelo capital – e disso nós entendemos bem.

Tudo isso aqui exposto em poucas linhas almeja estimular nossos homenageados a se inspirarem nas mudanças que precisamos urgentemente. Precisamos de Freire, de sua pedagogia própria para superar a colonialidade pedagógica como ato político. Pedagogia libertadora e humanizadora de toda a sociedade, descolonizando o pensamento. Pedagogia e escola para produzir indivíduos críticos porque "Educar é um ato de amor", segundo Freire.

O compromisso dele – e do cubano José Martí – é com a vida digna de todos. A experiência de ser no mundo e a possibilidade de ser mais.

Recebam nossos educadores, por parte do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba, os parabéns pela nobre escolha que fizeram na vida, nosso reconhecimento por seu trabalho valioso e que saibam que estamos juntos na luta pela transformação da nossa sociedade – que virá, sem dúvida! 

*Coordenadora do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

**Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Eduardo Miranda