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A luta contra a carestia não é de hoje, nem a resistência popular

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Estamos vivenciando não somente a carestia, mas um aumento histórico do desemprego no país. São mais de 14 milhões de pessoas desempregadas - Getty Images
E não podemos esquecer o aumento do gás de cozinha e da conta de luz

O que é a carestia? Em resumo, a carestia significa o encarecimento do custo de vida, ou seja, sobreviver no Brasil hoje está ficando cada dia mais caro.

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Vejamos, em um ano desde o início pandemia os preços dos alimentos aumentaram 15% no país, aliado ao crescimento expressivo da inflação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Estamos falando aqui do aumento do custo dos principais alimentos da cesta básica do povo brasileiro, nesse mesmo período de 12 meses, primeiro ano da pandemia do covid-19, o arroz subiu 61%, o feijão preto ficou 69% mais caro e óleo de soja teve 87% de aumento. Assim como o leite (20%), as carnes (30%), frutas (27%) e tanto outros alimentos básicos que compõem as mesas das milhares de famílias que para comer estão tendo um custo maior do que suas próprias rendas.

Isso porque estamos vivenciando não somente a carestia, mas um aumento histórico do desemprego no país, são mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, ou seja, se de um lado a comida fica mais cara, do outro, os trabalhadores estão desempregados ou mal remunerados. Parece que essa conta não bate? Na verdade, essa é a conta do neoliberalismo, de um projeto de privatizações dos direitos sociais, de aprofundamento das desigualdades sociais. Esse é o projeto genocida que está em curso no nosso país.

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E não podemos esquecer o aumento do gás de cozinha e da conta de luz. O botijão de gás aumentou três vezes mais, chegando a ficar 29% mais caro e conta de luz dobrou seu valor. Pelo Brasil afora, diversas famílias voltaram a utilizar o carvão e a lenha para cozinhar, além de não terem mais como pagar suas contas de luz que só ficam mais caras a cada reajuste. Não podia ser diferente no país que retornou ao mapa da fome com cerca de 19 milhões de pessoas passando fome e 119 milhões em insegurança alimentar.

Mesmo nessa conjuntura, o Governo Bolsonaro reduziu o valor do Auxílio Emergencial. E como as pessoas mais pobres e em situação de vulnerabilidade social irão comer? Como irão pagar suas contas? Como sobreviver? Esse auxílio menor inviabiliza a sobrevivência, diminuindo o dinheiro que poderia ser gasto com alimentação, com água, luz e gás, deixando milhares de famílias em insegurança alimentar e consequentemente em insegurança sanitária frente á uma pandemia.

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Campanha denuncia aumento dos preços durante o governo Bolsonaro por meio de lambe-lambes em São Paulo / Bruno Torturra / Divulgação

A luta contra a carestia não é de hoje

Durante o período da Ditadura Militar no Brasil, existiram diversos movimentos sociais e formas/ferramentas de resistência contra esse regime militar. Um deles foi o Movimento do Custo de Vida (MCV), também conhecido como Movimento Contra a Carestia (MCC), sendo um dos principais movimentos populares que surgiram durante os anos de 1970 e 1980.

Organizado pelos moradores das periferias, em especial pelas mulheres que se organizavam em clubes de mães junto as igrejas católicas e grupos comunitários. Essa experiência foi fundamental para a mobilização de diversas outras experiências populares contra a política econômica e social defendida pelo regime militar, como a realização de um abaixo-assinado, coletando mais de 1 milhão e 300 mil assinaturas que foi entregue ao ditador General Geisel, no qual solicitavam o congelamento dos preços dos alimentos, mais creches e escolas para as crianças.

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Essa experiência corajosa realizada pelas mulheres da classe trabalhadora durante a ditadura militar, em tempos de perseguição e censura, nos mostra a importância da organização popular nas periferias, no enfretamento da fome e das desigualdades sociais mesmo em circunstancias tão difíceis. Essa memória histórica deve nos servir de exemplo: só a luta popular muda a vida!

E a nossa resposta nesse momento histórico em que vivemos o aprofundamento da carestia mais uma vez, não poderia ser diferente. Em cada canto do Brasil aconteceram e ainda acontecem diversas ações de solidariedade como a Campanha Nacional Periferia Viva, a experiência da rede de Agentes Populares de Saúde, de organizações populares e comunitárias que distribuíram alimentos e esperança. É o povo cuidando do povo, como a história nos ensinou.

Somente com o trabalho de base, a formação política e as lutas populares podemos mudar os rumos e transformar a realidade do nosso povo.

Devemos ocupar as ruas na defesa da vida, do emprego, contra a carestia e a retirada de direitos! E sabemos que isso não será possível sem alterarmos esse projeto genocida do Governo Bolsonaro e do bolsonarismo que aumenta a fome, a miséria, aprofunda a descriminação e a desigualdade.

Em defesa da vida, Fora Bolsonaro!

 

*Janaína Lima é Jornalista e mestranda em Estudos da Mídia pela UFRN. Coordenadora da Diversidade Sexual e de Gênero da Secretaria de Estado das Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Governo do Rio Grande do Norte. Também é presidenta do Conselho Estadual de Políticas Públicas LGBT do RN e Presidenta do Comitê Estadual Intersetorial de Enfrentamento à LGBTfobia do RN. Janaína é mulher trans, nordestina e militante da Consulta Popular. Leia outros textos.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo