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POLÍTICA

Artigo | Qual a relação entre moda, política e taxação de grandes fortunas?

Alexandra Ocaso-Cortez foi notícia pela sua aparição no MET Gala usando vestido com frase "Tax the Rich"

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Alexandra começou a chamar a atenção em 2018 quando eleita, com 28 anos, a deputada mais jovem da história dos Estados Unidos - AFP

“Na luta de classes, todas as armas são boas: pedras, noites e poemas” (Leminski)

No último dia 14 de setembro a congressista norte-americana Alexandra Ocaso-Cortez foi notícia pela sua aparição num dos maiores eventos de moda do mundo com um vestido com os dizeres "Tax the Rich", que em tradução livre significa “Taxem os ricos” 

Alexandra chamou atenção em 2018 quando eleita, com 28 anos, a deputada mais jovem da história dos Estados Unidos. Filha de empregada doméstica porto-riquenha com um novaiorquino, Ocaso-Cortez antes de ser eleita chegou a trabalhar como garçonete e balconista. O ano de 2016 marcou seu envolvimento com a política institucional, quando faz campanha para Bernie Sanders, nas primárias do partido Democrata, para a disputa presidencial. No comitê montado por Alexandra circularam membros de grupos como o Black Lives Matter, líderes comunitários, sindicalistas, ambientalistas, feministas, ativistas LGBTs e socialistas democratas. 

Não é a primeira vez que Alexandra vira pauta por conta de seus trajes. Na mesma semana em que a congressista comentou que não tinha condições financeiras de se mudar para Washington para exercer seu mandato, o jornalista Eddie Scarry, do jornal conservador Washington Examiner, tweetou: “Eu vou lhe dizer uma coisa: esse blazer e essa jaqueta não são de pessoas que lutam”.

Para a colunista do jornal inglês The Guardian, Arwa Mahdawi, “Os conservadores, na verdade, não se importam com o que Ocasio-Cortez está vestindo. Eles se importam com o fato dela ser tão confortável em sua própria pele. Isso os aterroriza, e com razão. Ela representa a face mutável dos Estados Unidos, uma nova geração de diversas mulheres norte-americanas que usarão o que gostam e dirão o que gostam. E que deixarão pessoas como Scarry [o do Twitter] tremendo na base.”


Essa não foi a primeira vez que Alexandra vira pauta por conta de seus trajes / Getty Images

Ocaso-Cortez pode ser considerada uma aliada dos movimentos anticapitalistas, mas com baixa organicidade nesses movimentos, o que a coloca num campo ainda de disputa para maior engajamento na esquerda. Sua intervenção no evento de moda novaiorquino foi construída com Aurora James, designer negra imigrante, com foco em moda sustentável e idealizadora da campanha de apoio fiscal a negócios de pessoas negras chamada de “compromisso dos 15%”. Segundo a congressista, o vestido foi emprestado e sua ida ao evento faz parte de seus compromissos parlamentares, não tendo pago o ingresso de 35 mil dólares para entrar.

O lado de fora do evento foi marcado por repressão policial aos manifestantes do Black Lives Matter. Uma das manifestantes presas, identificada como Ella, discursava: “Não podemos voltar ao normal. Onde estava sua raiva no ano passado? Trinta e cinco mil dólares por um ingresso para mostrar a porra das suas roupas, enquanto nosso povo ainda está morrendo! Nosso povo ainda está morrendo! Nosso povo ainda está sendo assassinado! E há milhões de dólares indo para este museu. Exigimos habitação gratuita! Exigimos que todos os presos políticos sejam libertados! Exigimos justiça para o nosso povo!”.

A relação entre moda e política não pode ser ignorada. O debate sobre a estratégia de Alexandra está aberto, assim como as estratégias dos movimentos sociais no diálogo com os acontecimentos de grande repercussão. O fato de os protestos organizados fora do grande evento de moda terem sido ignorado pelas mídias internacionais diz da radicalidade do conteúdo dos protestos e da radicalidade que é se organizar de forma coletiva em torno do projeto da classe trabalhadora. Cabe a estes atores da luta política aproximar cada vez mais aliados e aliadas, pressionar rumo à taxação de grandes fortunas e mais, debater sobre a destinação desses recursos e regulação sobre as transnacionais e seus desmandos.

*Elisa Maria é mestra em Justiça e Direitos Humanos na América Latina pela UFPE e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM)

 

Edição: Vanessa Gonzaga