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Vacinação geral da população brasileira cai para nível dos anos 1980, aponta Programa Bem Viver

Cobertura vacinal para poliomielite chegava a 98% em 2015 e caiu para 76% em 2020, segundo estudo

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"Precisa haver cobertura vacinal para nos mantermos livres das doenças", alerta especialista - Ingrid Anne/Semcom
As pessoas pararam de temer doenças como paralisia infantil, sarampo e coqueluche

Um estudo da Sociedade Brasileira de Imunizações, lançado neste mês, aponta que a vacinação da população brasileira contra outras doenças que não a covid-19 vem caindo expressivamente desde 2015. Os níveis mais preocupantes foram os dos últimos 3 anos, quando as taxas de vacinação se equipararam as da década de 1980, nos primeiros anos do Programa Nacional de Imunização (PNI).

“Entre as causas está o sucesso do programa: as pessoas pararam de temer doenças como paralisia infantil, sarampo e coqueluche. Uma mãe da década de 1970 fazia sozinha o diagnóstico de sarampo porque estava acostumada a lidar com a doença. Como avanço da cobertura vacinal tivemos que treinar até profissionais de saúde para identificar a doença. A população passou a dar mais atenção para as reações adversas, que são raras e leves, mas trazem hesitação à vacina”, disse a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Flávia Brave, em entrevista a edição de hoje (22) do Programa Bem Viver.

Para se ter uma ideia, a cobertura vacinal para poliomielite, doença grave que causa paralisia infantil, chegava a 98% em 2015 e caiu para 76% em 2020. O mesmo ocorreu na vacinação contra Hepatite B: a taxa chegava a 79% em 2019 e, no ano passado, ficou em 63%.

Na opinião da especialista, melhor caminho para incentivar a vacinação no país é fortalecer as campanhas de vacinação sobre o tema, além de facilitar o acesso aos imunizantes e incluir disciplinas sobre a importância das campanhas de vacinação nos cursos de formação de médicos e enfermeiros.

“Temos que lembrar a população que a única doença já erradicada no mundo foi é a varíola. Todas as outras todas existem em outros locais do mundo e com globalização o risco de contágio é constante. Precisa haver cobertura vacinal para nos mantermos livres das doenças”, defendeu. “Uma boa comunicação com a população é essencial. Na década de 1980 o personagem Zé Gotinha era um herói nacional e hoje muitas crianças nem sabem o que é. Existia uma comunicação com a população que hoje é falha.”

Ela lembra, no entanto, que as medidas só serão possíveis com o fortalecimento do PNI, que foi sucateado nas últimas gestões, em especial na atual, comandada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “O programa não tem um coordenador há dois meses. As ações precisam ser integradas e planejadas por quem entende. Dentro do Ministério da Saúde temos técnicos eficientes e tivemos sucesso na maior parte desses 48 anos do Programa Nacional de Imunização.”

Desprezo pela ciência

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um teste de covid-19 considerado inovador: o mecanismo funciona a partir de biossensores e é mais econômico e eficaz que o famoso PCR, considerado padrão-ouro pela ciência mundial. O dispositivo, no entanto, não está no mercado porque o governo Bolsonaro optou por não avançar no projeto.

O teste foi desenvolvido pelo Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) uma estatal fabricante de chips e semicondutores criada em 2008. Ainda em 2015, a empresa já tinha iniciado testes para criar um dispositivo capaz de detectar o vírus do Zika. Com a chegada da pandemia, a tecnologia foi adaptada para ser útil também para a covid-19.

Em junho do ano passado, a Ceitec fez uma parceria com outro grupo para dar encaminhamento ao projeto. Porém, o governo Bolsonaro iniciou ainda no ano passado um processo de desmontar a estatal a tal ponto que enquanto a Ceitec registrava a patente do dispositivo, o Ministério da Economia comemorava o processo de liquidação do grupo.

Hoje a Ceitec está praticamente desmontada. O grupo parceiro conseguiu seguir com a tecnologia e, no momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está realizando testes para validar o biossensor. Segundo os pesquisadores da Ceitec, o produto já poderia estar no mercado, caso houvesse interesse do governo.

Educomunicação no centenário de Paulo Freire

Você já ouviu falar sobre educomunicação? Trata-se de uma prática pedagógica que alia educação e comunicação. Falar de educomunicação é, por exemplo, discutir uma maneira de combater as fakenews e de ampliar a chamada educação midiática, que questiona a forma de as pessoas consumirem informações da TV, internet, rádio, jornais e revistas.

Um dos precursores da educomunicação no Brasil foi Paulo Freire. Especialistas são categóricos em afirmar que o trabalho de Freire e os conceitos da educomunicação estão intimamente ligados. Atualmente, de norte a sul do país, existem experiências realmente libertadoras de educomunicação, replicadas por educadores, comunicadores, jovens e crianças.

Museu Bajubá

O Bem Viver apresenta o lançamento do Museu Bajubá, uma iniciativa criada para preservar a memória e trajetória da população LGBTQIA+. Por enquanto, o museu é virtual, mas a perspectiva é que ele tenha sedes físicas em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.

Pajubá ou bajubá é um substantivo que vem do Yorubá ou Nagô, e significa “assunto, segredo, conversa, ou apresentação entre pessoas”.

A exposição de estreia do museu é “João do Rio, 140 anos”, em homenagem ao jornalista, tradutor e teólogo João do Rio, que marcou a vida carioca no início do século 20. Ele é considerado o inventor do gênero “crônica reportagem”, produzindo diversos textos a partir de caminhadas pelas ruas do rio de janeiro com um olhar atento no cotidiano da cidade.

Pra além da sua trajetória, considerada revolucionária por especialistas, João do Rio é um símbolo nacional por ter sido um homem negro que desafiou os padrões de sexualidade da época. Assumidamente homossexual, ele se impôs em redações de jornais e em outros espaços e conseguiu vencer preconceitos.


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Edição: Sarah Fernandes