Rio de Janeiro

Reconhecimento

Após dois anos, Inepac tomba Terreiro da Gomeia em Duque de Caxias (RJ)

O espaço foi um marco para o reconhecimento das religiões de base africana no país e funcionou de 1951 até 1971

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
De acordo com arqueólogos, apesar do terreno estar coberto de lama e sujeira, há um patrimônio histórico e religioso embaixo de 1,5 metros de terra - Foto: Arquivo

Após mais de dois anos, o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) aprovou o tombamento provisório do Terreiro da Gomeia, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que passa a constar na lista de bens culturais e históricos do estado do Rio de Janeiro. 

O Terreiro da Gomeia foi um marco para o reconhecimento das religiões de base africana no país.O espaço, localizado no bairro de Vila Leopoldina, terá suas características preservadas conforme a ocupação dada pelo sacerdote do candomblé Joãozinho da Gomeia, que liderou o funcionamento da casa de 1951 até 1971, ano de sua morte. 

O tombamento foi comemorado por Mãe Seci Caxi, herdeira religiosa do sacerdote, nascido no interior da Bahia. A descendente planeja agora criar um memorial em homenagem a Joãozinho da Gomeia no terreno. O projeto prevê a criação de um espaço de convivência, com recuperação ambiental e estrutura para eventos e cursos, voltados para a comunidade em geral.

“Luto há quase 20 anos por esse tombamento, que ganhou força com apoios que recebemos de diversas partes. Fico muito feliz porque o tombamento dará condições de restaurarmos a casa e construirmos o memorial”, conta Mãe Seci Caxi, que busca recursos públicos para o projeto.

Memória

A medida tomada pelo Inepac também foi elogiada pela pesquisadora Adriana Batalha, cuja tese de doutorado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) foi baseada na trajetória do líder religioso. Segundo ela, a preservação mira principalmente a manutenção de um espaço que tem enorme importância para a história do município da Baixada Fluminense e por contribuir para combater a intolerância religiosa.

“O terreiro foi frequentado por muitas pessoas famosas na época e também funcionava como um local de festas e de assistência para a comunidade. O Joãozinho era um grande benfeitor para os moradores do entorno e uma personalidade influente e é importante que toda essa memória seja preservada”, afirma a pesquisadora.

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O diretor do Inepac, Cláudio Elias, ressaltou que o Instituto atende a um anseio de seguidores e estudiosos e se ampara nos aspectos técnicos que justificaram a medida. 

“O Terreiro da Gomeia é um símbolo do patrimônio cultural do estado do Rio de Janeiro, situado no município de Duque de Caxias. Lugar que se modernizou, virou polo industrial, mas ainda preserva raízes históricas que foram fincadas ao longo do seu processo de ocupação e que precisamos salvaguardar”, destaca Cláudio Elias.

O processo de articulação para o tombamento do Terreiro da Gomeia está em curso, desde maio de 2019. De acordo com arqueólogos, apesar do terreno estar coberto de lama e sujeira, há um patrimônio histórico e religioso embaixo de 1,5 metros de terra.

Em abril, o governador do Rio sancionou a lei N°9259/2021, de autoria da deputada estadual Mônica Francisco (Psol), que instituti a data de 27 de março como o Dia Estadual de Conscientização contra o Racismo Religioso, Dia Joãozinho da Gomeia, no calendário oficial de datas comemorativas do estado do Rio de Janeiro.

Edição: Jaqueline Deister