POTÊNCIA

Artigo | China: o que explica a ascensão ininterrupta do país asiático?

Acredita-se que o país até 2030 terá cerca de 1 bilhão de pessoas pertencentes à classe média

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Em Hong Kong, homem comercializa ampla variedade de alimentos em loja de produtos naturais - ISAAC LAWRENCE / AFP

Desde meados dos anos de 1970, quando estava ainda na Faculdade de Economia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, já escutava dos meus ilustres professores o salto que o grande Dragão Asiático Chinês daria nas próximas décadas. Muitos, perplexos, não acreditavam nisso, pois estávamos acostumados apenas a pensar na Europa e nos EUA como as regiões mais ricas.

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Segundo o historiador econômico Paul Bairoch, a China e a Índia, até o início do século XVIII se destacavam com o posto de nações mais ricas. Após a Revolução Industrial, no entanto, a Inglaterra, centro dessa Revolução e, posteriormente outros países da Europa Continental e também os EUA, passaram por um acelerado desenvolvimento das forças produtivas, o que os levou a serem os principais centros econômicos do mundo. 

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Essa nova fase do capitalismo, reforça os laços da dominação colonial (ou semicolonial), pois na busca de matérias-primas surgem novos mercados, o que acarreta uma corrida imperialista entre as nações. Isso traz consequências devastadoras às tradicionais manufaturas chinesas e indianas, devastando-as por todo o século XIX.

Já, no século XX, os EUA e a Europa Ocidental vão se consolidar como os grandes centros da economia global. Durante a Segunda Guerra Mundial e após o atentado criminoso dos EUA ao Japão; principalmente ao lançarem as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, os EUA decidem “ajudar humanitariamente” aquele país. Após esse apoio, o Japão cresce muito rápido industrialmente, o que levará a ser a terceira economia mundial.


Mulheres na cidade de Tongren, província de Guizhou, na China / Johannes EISELE / AFP

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A partir dos anos de 1970, Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Coreia do Sul destacam-se, formando o chamado Grupo dos Tigres Asiáticos, reunindo economias que tiveram um desenvolvimento econômico muito bem-sucedido aliado ao processo de industrialização. As condições materiais dos chamados Tigres Asiáticos, hoje em dia, são boas para a maioria da população. 

Revolução e reformas

Em paralelo a isso, a China apresentava médias de crescimento econômicos elevados desde a Revolução de 1949, no governo de Mao Tsé-Tung, mas só vieram a se consolidar a partir das reformas de Deng Xiaoping, em 1978 e 1979, fazendo com que o país passasse a ter grandes taxas de expansão econômica. 

Hoje em dia, na China, tem ocorrido frequentes elevações dos salários e muitos avanços sociais. O dinamismo chinês é evidente. As ambições chinesas são claras, o que fazem com que as tensões, não só econômicas, mas geopolíticas, entre os EUA, Alemanha e outros países centrais cresça.

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No início de 2013, Xi Jinping assume o governo da China, dando início a mais uma etapa do desenvolvimento da economia chinesa, mantendo um crescimento notável da economia em meio à crise econômica daquele ano, fundamentado nos investimentos em infraestrutura e na exportação.

As reformas políticas ocorridas na China nos últimos anos, mantiveram a perspectiva de crescimento econômico como componente principal, o que leva agora a uma preocupação maior em produzir uma sociedade mais equilibrada, do ponto de vista social, em face do grande crescimento urbano e de incremento no mercado consumidor interno. Acredita-se que o país até 2030 terá cerca de 1 bilhão de pessoas pertencentes à classe média.


Em celebração do centenário do Partido Comunista, Presidente Xi Jinping faz discurso destacando o desenvolvimento do socialismo / Noel Celis / AFP

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No final de 2018, a China completou 40 anos das reformas, o que seus líderes chamaram de socialismo de mercado com características chinesas. O que levou o país a se tornar a segunda maior economia do mundo, retirando inclusive, 800 milhões de pessoas da linha de pobreza.

2020: única economia a crescer

A partir do mês de abril do ano de 2020, a China testou a sua moeda digital; o renminbi ou yuan digital em quatro de suas principais cidades:  Shenzhen, Suzhou, Chengda e Xiong’an, um distrito do sul de Beijing.

Isso, nada tem a ver com as criptomoedas (bitcoin), é uma falácia o que dizem. O renminbi digital terá como lastro a moeda corrente chinesa e será controlada pelo Banco Central. Esse dinheiro é atrelado a um sistema de geração de valor, que entrará em cena para competir com o sistema internacional de pagamento em dólar.

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Segundo o jornal “China Daily”, essa é “uma moeda digital soberana que fornece uma alternativa funcional ao sistema de liquidação do dólar e atenua o impacto de quaisquer sanções ou ameaças de exclusão, tanto em nível de país quanto de empresa”. Ainda: “pode facilitar a integração nos mercados de moedas negociadas globalmente, com um risco reduzido de perturbações de inspiração política”. 

O PIB da China, devido à pandemia que começou em 2020, cresceu apenas 2,3%, naquele ano, mais fraco crescimento em 44 anos, mas que fez do país, a única grande economia a ter expansão. Mesmo com a recuperação da segunda maior economia do mundo perdendo força, a China, conseguiu crescer 7,9% no segundo trimestre de 2021, ultrapassando sua meta de crescimento anual de 6%. Sua economia avançou 18,3% na comparação anual, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas.

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Vemos a expansão e o crescimento da China em relação a vários países, no entanto, graças a estúpida política econômica do nosso desgoverno, bem como à política de relações internacionais que estamos mantendo com vários países, os investimentos chineses caíram 74% no Brasil e 0,4% no mundo.

*Antônio Manoel Mendonça de Araújo é professor de Economia, conselheiro do Sindecon/MG e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

 

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Elis Almeida